Desigrejização pela política
Critica a fusão entre fé e partidarismo

O exercício da política (partidária – uma "união voluntária de cidadãos com vínculos ideológicos e políticos, organizada e com disciplina, visando a disputa pelo poder político") é para todos e todas – crentes, ateístas ou sem religião –, enquanto arte ou ciência de governar. Porém, o texto bíblico não prever ser pecado um eleitor votar ou não votar em candidato defendido por líder religioso, nem que deva ser expulso do templo sagrado.
É fato, sem generalizar, por causa de um Deus ao averso e de falsos profetas mercenários, milhares de fiéis desolados e carentes da Palavra Sagrada, que lhes confortem no desalento, estão abandonando, sutilmente, os templos religiosos que foram transformados em comitês partidárias.
Instaurou-se a repulsa ao “comércio da fé pelo voto” e uma aversão aos discursos políticos de cunho maniqueísta – que divide o mundo simplesmente entre bem (ou Deus) e o mal (ou diabo) –, oprimindo os fiéis a se transformarem em cabos eleitorais. É o processo de “desigrejização pela política” por meio de constrangimentos, violência e mentiras, estimulando o ódio e a guerra entre os irmãos em Jesus Cristo.
O processo de “desigrejização pela política” explora o princípio da fé cega, que utiliza os fiéis no papel forçado de militantes partidários, inclusive em boca-de-urna, para metamorfosear os altares em palanques políticos, sem mediarem os vários riscos implicados. Assim, cresce a descrença na Igreja, a perda de fiéis, o profano sobre o sagrado, a fragmentação da religiosidade, a banalização dos rituais, a promiscuidade da fé e a fusão da evangelização com a politicagem.
Desse modo, a laicização do Estado, ou o processo pelo qual a sociedade torna-se laica sem incentivos religiosos ou o pragmatismo natural das religiões, é suprimida pelo processo de “desigrejização pela política”, abrindo espaço para o que prever o texto sagrado: “Então, numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos” (Mt. 24:11).
Com o abuso do “poder religioso”, os falsos líderes espirituais fazem proselitismo político contra o Evangelho e dentro dos templos, contribuindo para a perda da esperança, a fé, o aumento do desânimo e a adesão ao cinismo religioso do que para edificar a vida espiritual dos crentes – ou seja, promover a reflexão da espiritualidade, através de atitudes pautadas no amor de Jesus Cristo, tais como, a gratidão, o perdão, a oração e o diálogo permanente com Deus.
Aqui, a crítica que se faz ao processo de “desigrejização pela política” deve servir de alerta sobre os riscos morais que correm as Igrejas ao estabelecerem uma relação promíscuas com a política – p.ex. o altar vira palanque –, pois aquelas serão niveladas por esta. Nesse contexto, “se levantarão falsos cristos e falsos profetas e apresentarão grandes milagres e prodígios para, se possível, iludir até mesmo os eleitos” (Mt. 24:24) – os falsos messias destroem nações.
Todavia, não se trata em dizer que a religião nada tem a ver com a ação política. Ao contrário, Religião e Política podem, sim, e devem ser discutidas sem substituir as verdades bíblicas pelo propósito do Estado e vice-versa. A intersecção dialógica entre ambas pode e deve acontecer, "onde habita a justiça" e não o ódio, a mentira e a trapaça.
Pois, a fé está para além do apetite de poder dos partidos políticos e o Estado é uma possibilidade de construirmos um país, cuja sociedade seja mais justa, igualitária, com equidade de gêneros e respeito à pluralidade, independentemente de quem nos represente. Afinal, o povo é o poder e toda crença ou descrença é, também, um direito subjetivo, inegociável no templo, no altar ou na urna.
Assim, deve-se reforçar a visão cristã de que o Estado não deve ser “cristão” e o seu papel não é defender ou promover uma determinada igreja ou religião ou seita: a política não sobrepõe convicções religiosas.
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