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Morreu Zagalo - o único tetracampeão do Mundo

Morreu na noite desta sexta, vítima de falência múltipla dos órgãos

Foto: DivulgaçãoZagalo
Zagalo


Morreu, às 23h40 desta sexta-feira, aos 92 anos, Mário Jorge Lobo Zagallo.

Com idade avançada, Zagallo vinha com a saúde fragilizada há alguns anos. Em setembro de 2023, ficou cerca de 20 dias no hospital com infecção urinária. No dia 26 de dezembro, foi novamente internado no Hospital Barra D'Or e morreu na noite desta sexta, vítima de falência múltipla dos órgãos, resultante de progressão de comorbidades previamente existentes.

Mário Jorge Lobo Zagallo, nasceu em Atalaia-Alagoas em 9 de agosto de 1931. Quando jogador atuava como ponta-esquerda.

Zagalo foi a única pessoa a estar presente em quatro títulos de Copa do Mundo: em 1958 e 1962, como jogador, em 1970, como técnico, e em 1994, como coordenador técnico. Portanto, um legítimo tetra-campeão do Mundo.

Zagallo ainda treinou o Brasil em 1974 e 1998 (durante o último, obteve um vice-campeonato) e foi novamente coordenador técnico da Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo FIFA de 2006, compondo a comissão técnica de Carlos Alberto Parreira, reeditando a parceria de 1994, dessa vez sem sucesso. Foram cinco finais em sete participações nas Copas do Mundo.

Por suas contribuições ao futebol, Zagallo recebeu a Ordem de Mérito da FIFA em 1992, a mais alta honraria da FIFA. Já em 2013, foi eleito o 9.º melhor treinador de todos os tempos pela revista Soccer Magazine.


Carreira como jogador

Zagallo mostrava aptidão para os esportes desde os tempos de escola, em especial o futebol. À época, ele já sabia que iria seguir carreira no futebol. No entanto, seu pai, Aroldo, queria que o filho fizesse um curso de contabilidade para ajudá-lo na fábrica de tecidos da família. Coube a seu irmão, Fernando, convencer o pai a deixá-lo fazer o que ele mais gostava: jogar bola.

Foto: ReproduçãoZagalo no América
Zagalo no América

 

Como era sócio do America-RJ, seu clube do coração, foi no próprio clube que Zagallo iniciou sua carreira, nas divisões amadoras, além de arrumar tempo para jogar vôlei entre uma pelada e outra. Nesta época ele chegou também a jogar tênis de mesa, inclusive ganhando títulos na categoria juvenil.

Em 1949, o jovem venceu seu primeiro título: o Campeonato de Amadores do Rio de Janeiro. No mesmo ano, ajudou o clube a conquistar o Torneio Início do Campeonato Carioca.

Foto: ReproduçãoZagalo
Zagalo

Flamengo

Em 1950, transferiu-se para o Flamengo, clube pelo qual conquistou, dentre outros, o tricampeonato carioca (1953, 1954 e 1955). Saiu do clube logo após a Copa do Mundo FIFA de 1958. Ele não queria sair do Flamengo, mas a demora da diretoria rubro-negra fez com que ele assinasse com o Botafogo.

“Eu não queria sair do Flamengo. O Fleitas Solich (técnico) e o diretor Fadel vieram até minha casa, conversaram comigo. Me lembro até hoje as palavras que disse: ‘eu não estou querendo sair, eu já tinha proposto a vocês que eu dava o meu passe em troca de um emprego na Caixa Econômica’, que era a minha garantia de futuro. ‘Eu estou jogando, mas estou pensando sempre em frente e até hoje vocês não me ouviram’. Aí veio a Portuguesa me oferecendo 3 milhões, o Palmeiras oferecendo 5 milhões, e eu acabei aceitando ir ao Botafogo por 3 milhões. Por quê? Porque o Botafogo era um time bom, além disso minha mulher era professora e ela ia perder todas as aulas dela se eu fosse para São Paulo.” Zagallo, em entrevista a Jayme Pimenta Valente Filho no livro ‘Mário Jorge Lobo Zagallo: Entre o Sagrado e o Profano, uma história de vida’, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal, 2006.

Segundo números do "Almanaque do Flamengo", de Roberto Assaf e Clóvis Martins, ele disputou, pelo clube, 205 jogos (128 vitórias, 38 empates e 39 derrotas) e marcou 29 gols.

Foto: ReproduçãoZagalo no Botafogo
Zagalo no Botafogo

 

Botafogo

Zagallo foi bicampeão carioca pelo Botafogo, clube onde também veio a conquistar a Taça Brasil, e outros títulos, além de bicampeão mundial pela Seleção Brasileira. No Botafogo participou da fase áurea do time, jogando ao lado de astros como Garrincha, Didi e Nílton Santos.

Foto: ReproduçãoZagalo
Zagalo

 

Seleção Brasileira

Seus títulos cariocas e a conquista da Taça Brasil o levaram a Seleção Brasileira. Com ele, o Brasil inovou taticamente e jogou em 1958 no esquema 4-3-3, pois Zagallo era um ponta-esquerda que recuava para ajudar no meio-campo. Já na Copa seguinte, a de 1962, realizada no Chile, Zagallo foi titular devido à lesão de Pepe, grande astro do Santos e companheiro de ataque de Pelé.

Características e estilo de jogo

Zagallo era um ala esquerdo de médio porte e franzino, mas conhecido por suas habilidades técnicas. No início da carreira, ele quase nunca ganhava uma dividida, mas compensava a falta de massa muscular com muita velocidade, deslocamentos rápidos e notável inteligência tática.

Era considerado um jogador à frente de seu tempo, já que fazia muito bem o trabalho defensivo, além de sua capacidade de executar ataques de áreas mais profundas do campo. Ele também era capaz de jogar como atacante, atacante principal ou atacante interno.

Sua polivalência permitiu a Vicente Feola (técnico na Copa de 1958) inovar e mostrar ao mundo o 4-3-3 (à época, as equipes usavam o 4-2-4). Em entrevista ao blog Olho Tático, do jornalista André Rocha, Zagallo falou o seguinte sobre a estrutura tática de 1958: "O 4-3-3 não nasceu em 1962. Já em 1958 eu fazia a dupla função. Com a bola era um ponteiro. Mas também podia ficar e cobrir o Nilton Santos. Sem a bola, eu era o homem que dava vantagem numérica: se a jogada do adversário fosse pelo nosso lado, eu ajudava o Nilton a marcar o ponta. Dois contra um. Se fosse do lado oposto, fechava e ficávamos Zito, Didi e eu. Três contra dois no meio-campo". Um exemplo de sua função em campo pôde ser vista na final da Copa de 1958. Primeiro, ele salvou, de cabeça, o que seria o segundo gol no jogo (quando ainda estava 1 a 0 para os donos da casa), quando a bola já tinha passado pelo goleiro. Depois, mais pro final do jogo, ele faria o 4º gol brasileiro na partida.

Carreira como treinador

Meses depois de se aposentar como jogador em 1966, iniciou a carreira de treinador da categoria juvenil do Botafogo, iniciando sua longa carreira.

Em clubes ele treinou o próprio Botafogo em quatro oportunidades, o Flamengo três vezes (segundo números do "Almanaque do Flamengo", ele dirigiu o clube, ao todo, em 236 partidas [116 vitórias, 59 empates e 61 derrotas]), o Vasco da Gama duas vezes, e ainda Fluminense, Al-Hilal, Bangu e Portuguesa.

Em seleções nacionais, comandou a Seleção Brasileira por três vezes, a Seleção do Kuwait, a Seleção Saudita e a Seleção dos Emirados Árabes Unidos. Seu último trabalho foi em 2006, como coordenador técnico de Carlos Alberto Parreira na Seleção Brasileira. Conquistou um mundial como técnico da Seleção Nacional e um como coordenador técnico, além de vencer duas edições da Copa das Confederações FIFA. Também como treinador, conquistou dois títulos Sul-Americanos e vários outros títulos, que o tornaram técnico de renome mundial.

De acordo com o livro "Seleção Brasileira - 90 anos", de Roberto Assaf e Antonio Carlos Napoleão, os números de Zagallo como técnico da seleção principal do Brasil são os seguintes: 135 jogos (99 vitórias, 26 empates e 10 derrotas). Já como comandante da seleção olímpica foram 19 partidas (14 vitórias, três empates e duas derrotas). E como coordenador técnico, Zagallo esteve presente em 72 jogos (39 vitórias, 25 empates e oito derrotas).

Foto: ReproduçãoZagalo
Zagalo

 

Número 13

Apegado publicamente ao número treze desde a época de jogador, revelou que isto originou-se com sua esposa, que era devota de Santo António, comemorado em 13 de junho. Seu casamento foi em 13 de janeiro de 1955.

Algumas aparições do número na trajetória do Velho Lobo:

1958 e 1994 são anos cuja soma dos últimos dois dígitos (5+8 e 9+4) dá treze.

A edição de 1962 foi no Chile (5 letras): 6 + 2 + 5 = 13.

A edição de 1970 foi no México (6 letras): 7 + 0 + 6 = 13.

Em 1958, o 13º colocado foi a rival Argentina, o artilheiro da competição fez 13 gols (Just Fontaine, da França, mais gols numa mesma edição) e o trio Pelé-Vavá-Mazzola igualmente (6, 5 e 2 gols, respectivamente).

O Mundial de 1958 foi realizado no Reino da Suécia: 13 letras.

Em 1962 completava 13 anos de carreira como jogador profissional.

Já o decimo terceiro ano como treinador foi em 1979, quando foi campeão saudita pelo Al-Hilal.

Em 1962 e 1994, a Seleção disputou a semi-final em 13 de junho e 13 de julho, respectivamente. Já a semi de 1958 foi a 13ª vitória do Brasil em Copas.

O mundial de 1994 foi realizado nos Estados Unidos, cujo nome em português possui treze letras, assim como o gentílico estadunidense, e a bandeira nacional treze listras.

O nome do autor do pênalti perdido que decretou o tetra, o italiano Roberto Baggio, possui 13 letras, bem como 'tetracampeões'.

Umbro e Coca-Cola, patrocinadoras da Canarinha na ocasião, juntas têm 13 letras, igualmente a soma de Romário e Bebeto.

Acumulando as funções de jogador e treinador, a estreia no México foi seu 13º jogo em Copas: vitória de 4 a 1 sobre a Seleção Tchecoslovaca; no terceiro jogo viria sua 13ª vitória: 3 a 2 na Romênia. Considerando apenas a segunda função, a sorte falhou no jogo número 13: derrota de 1 a 0 para a Polônia (disputa pelo terceiro lugar, 1974). Como assistente técnico esteve em apenas 12 jogos, mesmo número que fez como jogador; somando-se estas duas últimas ocupações, o jogo 13 foi a estreia em 94: 2 a 0 na Rússia.

Fora dos gramados (treinador ou assistente), sua 13ª vitória em mundiais foi em 1994: 1 a 0 sobre os anfitriões estadunidenses (oitavas), que também foi sua 13ª vitória como jogador ou assistente; apenas como treinador seu triunfo 13 foi em 1998: 4 a 1 no Chile (oitavas).

Fez sua primeira partida pelo Botafogo no dia 13 de julho de 1958: 2 a 1 sobre o Fluminense.

Seu 13º jogo como jogador da Seleção Brasileira foi sua maior vitória pela mesma: 7 a 0 no Chile, Taça Bernardo O'Higgins, 1959.

A estreia na vitoriosa Copa América de 1997 foi em 13 de junho: 5 a 0 contra a Costa Rica. No mesmo ano, título da Copa das Confederações FIFA na Arábia Saudita (13 letras).

Em 1967, estreou como treinador do time principal do Glorioso e conquistou o Campeonato Carioca: 6 + 7 = 13.

Além dos vitoriosos anos de 1958, 1967 e 1994, em 1949 e 1985, respectivamente, foi campeão do Torneio Início (como jogador do America), seu primeiro título profissional no seu primeiro ano de carreira, conquistou o 1º Turno do Campeonato Brasileiro (como treinador do Flamengo). Apenas 1976, quando estava na Seleção do Kuwait, não "rendeu nada" e escapou da superstição.

Quando fez 49 anos treinava o Vasco, conquistando dois torneios amistosos na temporada de 1980; completou 58 um pouco depois de classificar a Seleção Emiradense à sua primeira e única Copa do Mundo (1990); completou 67 pouco depois do fim da Copa da França (1998); fez 76 no ano em que anunciou sua aposentadoria (2007); completou 85 no mês em que o Rio de Janeiro sediou os Jogos Olímpicos (2016).

Sua 13ª passagem como treinador, sem grandes êxitos, foi no Botafogo (1986 a 1987). Considerando apenas clubes foi no Flamengo (2000 a 2001), sendo também seu último trabalho na função, quando conquistou a Copa dos Campeões de 2001.

Comemorando a vitória brasileira na Copa América de 2004, bradou: "Brasil campeão tem 13 letras e Argentina vice também!".

Outros trabalhos

Em 2005, Zagallo foi um dos três jurados do reality show esportivo Joga 10, apresentado pela Rede Bandeirantes.

Títulos como jogador

América 

Torneio Início do Campeonato Carioca: 1949

Flamengo

Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo: 1955

Campeonato Carioca: 1953, 1954, 1955

Torneio Início do Campeonato Carioca: 1951, 1952

Torneio Internacional de Israel: 1958

Torneio Internacional de Lima: 1952

Torneio Internacional do Rio de Janeiro: 1954, 1955

Torneio Juan Domingo Perón: 1953

Torneio Triangular de Curitiba: 1953

Botafogo

Torneio Rio-São Paulo: 1962, 1964

Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo: 1961

Campeonato Carioca: 1961, 1962

Torneio Início do Campeonato Carioca: 1961, 1962, 1963

Torneio de Paris: 1963

Torneio Governador Magalhães Pinto: 1964

Torneio Internacional da Cidade do México: 1962

Torneio Internacional da Colômbia: 1960

Torneio João Teixeira de Carvalho: 1958

Torneio Jubileu de Ouro da Associação de Futebol de La Paz: 1964

Torneio Quadrangular do Suriname: 1964

Seleção Brasileira

Copa do Mundo FIFA: 1958, 1962

Superclássico das Américas: 1960, 1963

Taça Bernardo O'Higgins: 1959, 1961

Taça do Atlântico: 1960

Taça Oswaldo Cruz: 1958, 1961, 1962

Títulos como treinador

Botafogo

Campeonato Brasileiro: 1968

Campeonato Carioca: 1967, 1968

Taça Guanabara: 1967, 1968

Torneio Início do Campeonato Carioca: 1967

Torneio Internacional da Cidade do México: 1968

Troféu Triangular de Caracas: 1968

Fluminense

Campeonato Carioca: 1971

Taça Guanabara: 1971

Torneio Quadrangular de Salvador: 1971

Flamengo

Copa dos Campeões: 2001

Campeonato Carioca: 1972, 2001

Taça Guanabara: 1972, 1973, 1984, 2001

Torneio do Povo: 1972

Al-Hilal

Campeonato Saudita: 1978-79

Vasco da Gama

Torneio João Havelange: 1981

Troféu Colombino: 1980

Bangu

Torneio Cidade do Aço: 1988

Seleção Brasileira

Copa do Mundo FIFA: 1970

Copa das Confederações FIFA: 1997

Copa América: 1997

Copa Umbro: 1995

Superclássico das Américas: 1971

Taça Independência: 1972

Seleção Saudita

Copa da Ásia: 1984

Títulos como coordenador técnico

Seleção Brasileira

Copa do Mundo FIFA: 1994

Copa das Confederações FIFA: 2005

Copa América: 2004

Amistad Cup: 1992

Carlsberg Cup: 2005

Prêmios individuais

Melhor Treinador do Mundo da IFFHS: 1997

9º Melhor Treinador de Todos os Tempos da World Soccer: 2013

27º Melhor Treinador de Todos os Tempos da FourFourTwo: 2020

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