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Xadrez de Bolsonaro e dos preparativos finais para o golpe

A maior ameaça será permitir o fortalecimento de Bolsonaro junto a seus radicais

Foto: GGNAumentou a radicalização de Bolsonaro, junto às suas milícias, após constatar a impossibilidade do golpe com as instituições
Aumentou a radicalização de Bolsonaro, junto às suas milícias, após constatar a impossibilidade do golpe com as instituições

 


Por Luís Nassif, jornalista, no GGN 

Peça 1 – ou o golpe ou a prisão

Para entender o jogo de Bolsonaro, o primeiro passo é encontrar o motivo principal de sua atuação. É a possibilidade de perder o cargo e, em decorrência, amargar a prisão dos filhos e a dele.

Seu pensamento binário só consegue alcançar esses dois desfechos: ou ele subjuga todos seus inimigos (as instituições) ou será preso por elas.

Esse é o mote principal que explica porque, para Bolsonaro, não existe outra alternativa que a “vitória” – como ele sempre anuncia, deixando claro que, se não for vitória eleitoral, será vitória na marra.

Por isso mesmo, tratará de aumentar os conflitos com os demais poderes até a ruptura. E a ruptura se dará no momento em que um dos filhos for preso, ou que se abra um processo de impeachment contra ele.

Peça 2 – público votante x público armado

Toda a análise estratégica em relação a Bolsonaro leva em conta as próximas eleições. Analisam-se suas possibilidades eleitorais com um métrica errada: supõe-se que, com sua popularidade derretendo, reduzem-se as possibilidades de golpe. 

A lógica é outra: com suas possibilidades eleitorais derretendo, aumentam as possibilidades de golpe. Para dar um golpe, não há a necessidade de mais de 50% dos votos. Basta um contingente de seguidores fanáticos, insuflados para o golpe. Quanto menor a possibilidade de ser reeleito, maior a hipótese de golpe. 

Peça 3 – o golpe e o tempo

A preparação de um golpe leva tempo. Tem que organizar as milícias, armá-las, condicioná-las a obedecer as palavras de ordem, organizar os batalhões, montar as táticas de tomadas de posição, criar o clima gradativo de insuflamento das massas.

Devido a esses preparativos, há uma defasagem entre as palavras de ordem pró-golpe, e as ações efetivas. Por isso mesmo, cada dia a mais de Bolsonaro no poder, é um dia a mais para a preparação do golpe.

Nos últimos tempos, houve uma invasão de armas no país, aumento substancial de armas pessoais adquiridas por policiais militares, por clubes de caça e tiro e por bolsonaristas de várias espécies.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro consolidou um discurso, junto à sua tropa, sobre a impossibilidade de governar devido aos inimigos da pátria, Supremo Tribunal Federal e Congresso. As redes bolsonaristas estão a mil por hora, com a assessoria profissional da ultradireita mundial.

Por mais que o bolsonarismo represente minorias, em termos eleitorais, as aglomerações do dia 7 de Setembro passarão uma sensação de poder e impunidade aos seus seguidores. Será um enorme impulso às pretensões golpistas, ainda mais levando-se em conta que, mesmo impotente no confronto com o Supremo, Bolsonaro tem aumentado o teor golpista de seus discursos.

Cada dia a mais de Bolsonaro significa um dia a mais de preparação para o golpe.

Peça 4 – o golpe e a violência

Aumentou a radicalização de Bolsonaro, junto às suas milícias, após constatar a impossibilidade do golpe com as instituições. Nem entregando tudo ao Centrão conseguiu seu endosso para o golpe; nem co-governando com as Forças Armadas conseguiu estimulá-las a uma nova aventura golpista.

Por isso, o golpe tentado não será institucional, mas insuflando as turbas, sem uma organização central, e insurgindo-se contra todas as formas de hierarquias, das leis, das Polícias Militares e das Forças Armadas. É uma sublevação autenticamente miliciana que, se não enfrentada a tempo, produzirá uma tragédia irreparável. Provavelmente não há paralelo na história contemporânea de um risco tão grande de rebelião das massas.

7 de Setembro ainda é uma incógnita. Que haverá violência, não se discute. A questão é o nível da violência. 

As informações sobre participação de policiais militares nas manifestações mostram a gravidade da situação. As preocupações manifestadas por governadores e pelo Ministério Público comprovam que não se trata, mais, de um simples arroubo retórico: está-se falando, agora, na possibilidade concreta de PMs armados participando das manifestações na condição de seguidores de Bolsonaro.

Meses atrás, fechou-se os olhos à iniciativa do Ministério da Justiça de cadastrar todos os PMs em suas redes de WhatsApp, a pretexto de levantar suas condições sócio-econômicas.

Amanhã, haverá dois riscos principais:

A violência difusa e o assalto a prédios públicos – especialmente Supremo Tribunal Federal e Congresso, em Brasília. Em São Paulo.

A preparação de algum incêndio do Reichstag (o incêndio do Parlamento alemão, que serviu de pretexto para o golpe de Hitler).

Não se menospreze a possibilidade de uma armação qualquer para ser jogada no colo das esquerdas, até uma reedição do atentado da campanha. Há tempos, o bolsonarismo vem se espelhando em todos os expedientes do nazifascismo, de motociatas a fotos com crianças brancas, discursos sobre os valores da branquitude, contra minorias, alertas da impossibilidade de governar com as instituições etc. Não se trata de mera afinidade ideológica, mas de emulação de estratégias de tomada de poder.

Ao mesmo tempo, com algumas exceções, o STF tem encarado sozinho o desgaste de enfrentar o golpismo. Reprimir os primeiros malucos é fácil, quando são poucos. Mas suponha que as manifestações se ampliem, como desobediência civil ao que diz o Supremo, qual seria a estratégia de enfrentamento?

Peça 5 – o pós 7 de Setembro

Aguardar o golpe final de Bolsonaro nas eleições é uma tática acomodatícia, de quem não quer assumir o protagonismo do contra-golpe.

Chegou a hora das instituições deixarem de lado a expectativa de conciliação, de enquadramento de Bolsonaro, e começar a trabalhar no contra-golpe, inclusive no pacto pós-Bolsonaro at´pe as próximas eleições. Serviços de inteligência das Forças Armadas e das policiais precisam começar a mapear esses grupos, sabendo-se que o inimigo poderá estar morando ao lado. O Ministério Público precisa ampliar a pressão, para a punição de indisciplina. E as instituições precisam preparar seus serviços de segurança para impedir invasões de prédios e atentados.

A maior ameaça será permitir o fortalecimento de Bolsonaro junto a seus radicais. Hoje em dia, já há notícias de policiais nos mais diversos cantos do país, atuando politicamente contra grupos de oposição. A cada dia que passa, mais aumenta o atrevimento de suas milícias, amparadas na falta de limites institucionais à atuação do chefe.

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