Pensar Piauí

Sertanejos de ontem, hoje e sempre

Nesses tempos as duplas sertanejas eram atração certa de bilheteria

Foto: DivulgaçãoSertanejos
Sertanejos

Por Roberto Salim, no Ultrajano 

Shows sertanejos e superfaturamento com as prefeituras? Não, minha gente, vou falar de um outro tempo, em que os sertanejos iam se exibir nos circos deste Brasilzão. Vou falar de Palmeira e Biá, de Cascatinha e Inhana, de Alvarenga e Ranchinho, de Tonico e Tinoco.

Essa turma toda cantou no Circo Theatro Guarany, que pertenceu ao avô de minha mulher. Circo em que brilhavam o Palhaço Xamego (interpretado pela minha sogra, Maria Eliza), o cachorro Suingue, o mágico Seu Jorge, a Mulher do Pescoço de Aço, a Pimpinela com o Palhaço Gostoso, Tabajara Pimenta (o Homem-Foca) e as Cantoras Mignons Eliza e Ephigênia.

Bom, nesses tempos as duplas sertanejas eram atração certa de bilheteria e, como se dizia na época, provocavam “enchente” de público quando se exibiam sob as lonas.

Isso sem contar quando Luiz Gonzaga se apresentava com sua sanfona e punha todo o circo a dançar em suas arquibancadas de madeira. Parecia até que a lona iria subir aos céus sob o som dos xaxados e baiões.

Eram atrações, faturavam bem, mas não superfaturavam com prefeitura nenhuma – se é que vocês me entendem.

Luiz Gonzaga, o Lua, chegou até a doar lonas de circo para aqueles que se encontravam em situação econômica difícil.

E o acerto financeiro, após os shows, era feito tête-à-tête com o dono do Circo Guarany, no caso, o senhor João Alves, que tinha sido palhaço, cantor e tocador de guizos no início da carreira, no final dos anos de 1800 e início dos 1900. Seu João, filho de mãe escravizada, nascido em São João del-Rey, avô de minha mulher.

Seu João foi um empresário histórico do circo brasileiro. E fazia questão de pagar logo após os shows os músicos que se apresentavam no Circo Guarany.

Era assim naqueles tempos.

Palavra com palavra.

Acerto no fio do bigode.

Sem superfaturamento ou negócios escusos.

Mais recentemente, no ano de 1978, eu estava fazendo uma reportagem para a revista Tênis Esporte em Serra Azul, perto de Ribeirão Preto.

A matéria, que se chamava “Fuzuê na Roça”, pretendia levar um jogo de tênis a uma localidade onde nunca tinha se ouvido falar no esporte. Então, convidamos Cláudia Monteiro e Patrícia Medrado – então as duas melhores tenistas do país –- para jogar na praça da cidade, bem em frente à igreja.

Meu Tio Nelson improvisou uma quadra, esticou a rede com cabos de aço, o Maestro Eujácio preparou uma festa com sua banda no coreto, e dois dias antes da partida anunciamos o grande evento no picadeiro do Circo Pan-Americano, que se exibia em Serra Azul.

O Palhaço Manivela desfilou em cima de um caminhão e com megafone anunciando a festa esportiva que ocorreria no domingo cedo.

E eu aproveitei a sexta-feira à noite para assistir ao espetáculo do Circo Pan-Americano, que anunciava como uma das grandes atrações a presença do Trio Parada Dura.

Como falei no começo desta crônica, foi uma “enchente” de público.

O Trio Parada Dura sempre foi sucesso.

E a música Bobeou, a gente pimba estava na voz de todo o interior que gosta da música sertaneja legítima.

Quando eles pisaram no chão de terra batida e um pouco de serragem, o público delirou.

Quando cantaram Ela é demais, as pessoas ficaram extasiadas.

Música sertaneja, legítima.

Aplausos, lágrimas e delírio.

Sem superfaturamento, sem falsidade, sem polêmicas.

Apenas um Brasil em vozes e acordes.

Bons tempos!

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