Política

“Temos uma direita vagabunda e prostituta”, admite Malafaia

Ato de Bolsonaro na Paulista tem baixa adesão e discurso inflamado de Malafaia


Reprodução “Temos uma direita vagabunda e prostituta”, admite Malafaia
Malafaia e Bolsonaro

Durante o ato convocado por Jair Bolsonaro neste domingo (29), na Avenida Paulista, o pastor Silas Malafaia, um dos principais articuladores do evento, entregou uma amostra clara do tipo de “liderança” que ainda mobiliza o bolsonarismo: barulhenta, agressiva e cada vez mais isolada. Diante de um público visivelmente menor do que em protestos anteriores, Malafaia lançou ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e, num raro momento de sinceridade, mirou também a própria direita.

“Grande parte da direita é prostituta e vagabunda, que se vende”, bradou o pastor, ao criticar o fato de o Senado não ter aberto um processo de impeachment contra Moraes. Em meio a um discurso inflamado, reafirmou a existência de uma suposta “direita séria e verdadeira”, mas acusou parlamentares conservadores de se aproveitarem do cargo para obter vantagens pessoais. Como de costume, defendeu um “pente-fino” nas urnas em 2026.

Não faltaram ataques ao ministro do STF, a quem chamou de “ditador” e acusou de ter “sangue nas mãos” pela morte de Cleriston da Cunha, o “Clezão”, bolsonarista preso por envolvimento nos atos golpistas e que faleceu na Papuda em 2023. “Clezão era membro da minha igreja”, disse Malafaia, ignorando o fato de que sua prisão foi mantida por decisão judicial mesmo após parecer da PGR pedindo soltura — argumento que ele usou para sustentar que “Deus vai fazer Justiça”.

A fala inflamou os presentes, que começaram a entoar o coro de “assassino” contra Moraes, em mais um capítulo da cruzada bolsonarista contra o Judiciário. Malafaia ainda defendeu a soltura de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator no inquérito sobre a tentativa de golpe, acusando Moraes de “usar decisões judiciais para desviar a atenção da sociedade e da imprensa”.

Apesar do tom exaltado, o ato foi marcado pela baixa adesão. Estimativas do Monitor do Debate Político da USP e da ONG More in Common apontam a presença de cerca de 12,4 mil pessoas — menos de um terço do público da manifestação de abril, que reuniu 45 mil. Nem mesmo os drones bolsonaristas conseguiram esconder os vazios entre os quarteirões.

O carro de som, bancado por Malafaia, foi estacionado na esquina da Paulista com a rua Peixoto Gomide, mas a aglomeração não chegou até o MASP, símbolo tradicional de manifestações no local. E para completar o tom caricato do evento, não faltaram bandeiras de Israel, cartazes em inglês e o slogan copiado de Donald Trump: “Make Brazil Great Again”, arriscado por Bolsonaro com um inglês de palanque.

Com discursos reciclados e uma adesão cada vez menor, o bolsonarismo vai se revelando mais um culto à própria decadência do que uma força política em crescimento.

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