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Quem era “Clarinha”, a paciente que passou 24 anos em coma sem ser identificada

Ela passou todo o tempo em que esteve no hospital em coma e sem receber a visita de nenhum familiar

Foto: ReproduçãoClarinha e Jorge Potratz
Clarinha e Jorge Potratz

 

NSC - A paciente conhecida como Clarinha, que ficou internada em coma por 24 anos sem identificação, morreu na quinta-feira (14) em Vitória (ES). A história dela ficou conhecida nacionalmente pelo mistério sobre sua identidade, já que nunca foi descoberto seu nome nem outras informações que a conectassem com familiares ou conhecidos. 

Ela passou mais de duas décadas no Hospital da Polícia Militar, onde recebia cuidados diários de médicos e enfermeiros, que acompanharam o caso, esperançosos com a possibilidade de localizar algum parente da paciente.

O médico tenente-coronel Jorge Potratz, foi quem escolheu o nome Clarinha para identificá-la no ambiente hospitalar. Ele ficou responsável por ela e continuou o acompanhamento mesmo após se aposentar.

— A gente tinha que chamar ela de algum nome. O nome não identificada é muito complicado para se falar. Como ela é branquinha, a gente a apelidou de Clarinha — relata o médico.

Potratz ainda auxiliava na compra de produtos básicos como cremes, produtos de higiene, limpeza, e fraldas, que eram pagos por ele.

Família de Clarinha não foi localizada

Clarinha foi atropelada no dia 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória. Inicialmente, ela foi levada para o Hospital São Lucas, onde chegou já desacordada, e sem documentos. Um ano depois, ela foi transferida para o Hospital da Polícia Militar, também em Vitória, onde permaneceu por 23 anos.

Como a paciente não conseguia se comunicar com a equipe, o grau do coma era classificado como elevado de acordo com os parâmetros médicos.

— A gente classifica o coma em uma escala de três a quinze pontos. Quinze é o paciente acordado e lúcido e três é o coma mais profundo. Ela não tem nenhum contato com a gente e por isso a gente considera um coma de sete para oito — explica o médico Jorge Potratz.

Cicatriz de cesárea poderia ajudar na identificação

Não se sabia ao certo a idade dela, mas a estimativa é que ela tenha morrido aos 47 anos de idade. Também não há informações sobre parentes vivos no Espírito Santo ou em outros estados. Ela possuía uma cicatriz de cesárea, o que fazia os médicos acreditarem que Clarinha poderia ter um filho vivo.

— Pode ser que ela tenha um filho que esteja vivo. Essa marca de cesárea realmente reforça muito a possibilidade de alguém da família identificá-la. Eu gostaria muito disso — afirmou o médico em 2016, quando o caso ganhou repercussão.

Uma reportagem sobre a história de Clarinha foi ao ar no Fantástico no mesmo ano, o que fez com que mais de 100 famílias procurassem o Ministério Público alegando que ela poderia ser uma familiar que estava desaparecida.

Foram colhidas as digitais da mulher e feitos exames de DNA, e 22 casos chamaram atenção por maior similaridade de dados. Contudo, nenhum deles se confirmou como sendo de familiares da paciente.

Já no ano de 2021, através de um processo de comparação facial e bancos de dados de pessoas desaparecidas, uma equipe de papiloscopistas da Força Nacional de Segurança Pública realizou buscas que chegassem a uma identificação. Houve uma suspeita de que Clarinha fosse uma criança desaparecida em Guarapari, também no Espírito Santo, em 1976. Mais tarde, essa suspeita também foi descartada.

A paciente passou mal na manhã de quinta-feira, teve uma bronco aspiração e não resistiu.

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