Pensar Piauí

Que sociedade teremos pós-Coronavírus?

Um debate sobre um estado mais forte e mais humano é o que sugerem líderes de esquerda

Foto: TwitterLive da Resistência
Live da Resistência

Em debate realizado via YouTube, chamado de Live da Resistência, na noite dessa terça-feira, 07 de abril, o ex-presidente Lula, os deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS) e Alexandre Padilha (PT-SP) e o governador do Piauí, Wellington Dias, discutiram a crise provocada pelo coronavírus no mundo e, especialmente, traçaram um debate sobre o papel do Estado pós-COVID-19.

Lula lembrou que fazia dois anos de sua entrega para a Polícia Federal, em que viria a ficar 580 dias preso em Curitiba. E foi enfático: "está faltando comando no Brasil. Todo mundo pensando em 2020", alertou.

Os desafios enfrentados pelos estados brasileiros nessa situação de pandemia associado à uma crise econômica, sanitária e político-institucional foram bem colocados pelo governador Wellington Dias, que relatou a ineficiente atuação do Governo Federal e a articulação dos governadores do Nordeste para evitar um caos no sistema de saúde.

Repensar o papel do Estado e do setor público foram o norte desse primeiro debate entre os líderes de esquerda. "Vivemos um período de desumanização. Como cristão, eu diria que nós nos distanciamos de Deus. O Coronavírus tem um lado positivo que é mostrar que em primeiro lugar não pode estar o capital, mas sim o ser humano", declarou o governador.

O ex-presidente Lula também concordou. "Somente o Estado tem essa preocupação com o povo. Ele não trata seletivamente a sociedade em função de sua origem social. Trata todo mundo em igualdade de condições", declarou acrescentando que, por isso, defende um estado forte, indutor da economia e do desenvolvimento, mais humano e solidário. "O Estado não pode ser uma marionete nem podemos ter governantes perversos", afirmou.

Pós-COVID-19, o governador piauiense acredita que teremos uma outra sociedade. "A sociedade do ódio vai voltar para o seu lugar. A sociedade do capital em primeiro lugar e do financismo predominante (dinheiro pelo dinheiro que não dá em nada) também vai voltar para o seu lugar", completou, acrescentando que viu o filme Pandemia que relata o que o mundo está vivendo hoje.

O ex-ministro e deputado Padilha espera que o mundo valorize mais o papel do Estado e do setor público, e também espera que tenhamos um mundo de mais solidariedade. Ele citou que nas caixas de máscaras doadas pela China havia a seguinte inscrição: "Somos onda do mesmo mar, somos folhas da mesma árvore, somos flores do mesmo jardim". "Só vamos ver esse mundo se liderarmos o enfretamento ao coronavírus", observou.

O deputado Paulo Pimenta acredita que esse novo mundo pós-pandemia está em aberto e vai se abrir na sociedade uma discussão sobre isso. "Esta é a hora de voltar a discutir com as pessoas o projeto de sociedade que queremos. Perguntar se valeu a pena. Estamos colhendo hoje equívocos. É o momento de recolocar a esquerda como projeto generoso, como sociedade diferente do que temos hoje".

Pimenta cita o livro "A esquerda complexada", que observa uma narrativa construída pela direita em defesa da meritocracia, estado mínimo e busca do lucro a qualquer custo. "Esse era o discurso no Brasil há uns 90 dias. Agora só ouvimos falar em programas de apoio do Estado, pesquisas sendo realizadas nas universidades. Todo o discurso do neoliberalismo mudou", observou, sugerindo a realização de cursos de formação política e de campanhas de solidariedade. "É o momento de estarmos presentes nos bairros e vilas e sair com um projeto claro do que queremos para o nosso país. É um momento desafiador, mas que abre enorme possibilidade".

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