Política

Pronunciamento III: Bolsonaro foi à TV para tentar salvar o mandato, mas panelaço falou mais alto

Ele tentou convencer a população de que a fome que será sentida é culpa das medidas de isolamento

  • quarta-feira, 1 de abril de 2020

Foto: UOLPanelaço falou mais alto que Bolsonaro
Panelaço falou mais alto que Bolsonaro

Por Leonardo Sakamoto, no Facebook 

Sob um ensurdecedor panelaço registrado nas principais cidades brasileiras, o presidente da República tentou convencer a população de que a fome que será sentida, a partir de agora, por ambulantes, empregadas domésticas, caminhoneiros, entre outros trabalhadores, é culpa das medidas de isolamento social contra o coronavírus. Mas essa fome tem pai, o próprio Jair Bolsonaro e sua negação em governar.

Sentindo-se isolado politicamente e abandonado por alguns de seus principais ministros, ele fez um pronunciamento menos agressivo que o de costume. Pouco importa agora. Porque, nas últimas semanas, ele negou a gravidade da pandemia e agiu como inimigo público número 1 da saúde dos brasileiros, fazendo de tudo para minar a única política reconhecida para retardar o avanço dos casos. Sim, Bolsonaro foi o único líder mundial que agiu para promover o coronavírus ao invés de contê-lo.

E, ao professar o negacionismo, não ordenou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, preparasse um plano de contingência com antecedência - e Guedes também não se mexeu. Agora, isso vem sendo liberado a conta-gotas e de forma insuficiente para proteger trabalhadores e micro e pequenos empresários. Os repasses da renda básica já deveriam ter acontecido há tempos para que essas famílias tivessem o que comer, agora, durante a vigência da quarentena. Mas devem chegar às mãos dos primeiros apenas na metade de abril. Dos primeiros.

Até lá, eles comem o quê? Talvez memes do Gabinete do Ódio, que é a única coisa que o Palácio do Planalto realmente produziu na crise.

Ao invés de negociar diretamente com o parlamento, o presidente gastou suas energias tentando nos convencer de que a pandemia era uma fantasia, uma histeria, uma gripezinha, um resfriado, uma bobagem. Culpou a imprensa de "espalhar a sensação de pavor", apesar de ser graças a ela que a população está sendo alertada sobre os riscos e formas de prevenção. Atacou governadores que estão organizando ações de contenção ao vírus, criticando o fechamento de escolas e do comércio. E, como sempre, pensando primeiro em si mesmo e, depois, no país, passou a militar para que todos saíssem da quarentena, pois teme que uma recessão profunda enterre seus planos de criar uma dinastia.

Há um parasita institucional entrincheirado no Palácio do Planalto. Mas, para além das mentiras, o discurso desta terça mostrou medo, algo que - apesar de sua notória covardia, ele não gosta de demonstrar. Bolsonaro, enfraquecido, sabe que a abertura de um processo de impeachment ou de afastamento por insanidade pode ajuda-lo a reunir apoio através de vitimização. Sabe também que o Congresso está dedicado a resolver a crise sanitária e econômica que ele, com sua ação irresponsável, ajudou a aumentar. E, por enquanto, não deve avançar com um impedimento.

A questão é quanto tempo o país aguenta. Se é que aguenta.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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