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Piauí: Floresta petrificada de 280 milhões de anos é estudada em Altos

A floresta petrificada é caracterizada por troncos conhecidos popularmente como ‘pau de pedra’ ou ‘pedra madeira’

Foto: Moura Alves/SemarFloresta petrificada de Altos
Floresta petrificada de Altos

Descoberta há cinco anos, uma floresta petrificada que data do Período Permiano da Era Paleozóica (cerca de 280 milhões de anos atrás) está sendo pesquisada por cientistas em Altos (PI). Os pesquisadores consideram o local uma relíquia paleontológica, e a ideia é que a área se torne uma unidade de conservação em breve.

Em junho este ano, a secretária de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí, Sádia Castro, esteve no município, localizado a 40 km de Teresina, para conhecer a floresta petrificada, situada na localidade São Benedito, também conhecido como Boqueirão do Brejo.

A floresta petrificada de Altos é caracterizada por troncos conhecidos popularmente como ‘pau de pedra’ ou ‘pedra madeira’, datados de aproximadamente 280 milhões de anos.

“Em 2010 comecei a fazer as primeiras pesquisas aqui, guiado por um aluno da graduação da UFPI, que era da região. Começamos um trabalho de mapeamento e de georreferenciamento desses troncos. Depois, uma aluna fez sua graduação e seu mestrado sobre o mesmo tema. Assim, aos poucos, fomos ampliando os conhecimentos sobre esta área, para os pesquisadores e professores”, explica o Chefe do Laboratório de Paleontologia do Centro de Ciências da Natureza da Universidade Federal do Piauí (CCN-UFPI), Juan Cisneros.

Foto: Moura Alves/SemarVisita a floresta
Visita a floresta

São mais de 70 troncos petrificados, pertencentes ao período permiano, da era Paleozoica. “Este bosque petrificado é mais antigo que os dinossauros, que surgiram a 220 milhões de anos. Quando os primeiros dinossauros pisaram na terra esses troncos já eram fósseis petrificados, para vocês terem uma ideia da importância deste patrimônio presente aqui,” ressalta Cisneros.

Ainda segundo o professor Juan, a floresta fóssil de Teresina, localizada as margens do rio Poti, e a de Altos, são da mesma época e fazem parte da mesma floresta que cobria boa parte do Piauí e do Maranhão, há milhões de anos atrás. Elas eram marcadas por árvores do grupo das gimnospermas (pinheiros e araucárias), árvores comumente associadas a um clima mais ameno, só que na era paleozoica esse tipo de vegetação era comum, já que, não existia árvores com flores ou frutos (angiospermas).

“Estou realmente surpreendida e impactada com a beleza deste sítio paleontológico. E esse impacto aos olhos, essa beleza cênica, aliada a essa biodiversidade é essencial para se criar uma área de conservação”, destaca a Secretária de Meio Ambiente, Sádia Castro.

“Entendemos que há muita pesquisa a ser feita, mas este é um lugar que se for bem aproveitado, se for transformado no que tem vocação para ser, vai atrair o turismo rural, o ecoturismo e deve se transformar num ponto de referência na rota de geoturismo”, frisa a secretária de meio ambiente, Sádia Castro.

Participaram também dessa visita técnica a Secretaria de Estado de Infraestrutura – Seinfra e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra.

De acordo com o UOL, com a floresta, os cientistas querem conhecer mais como a geografia e o clima do local mudaram ao longo do tempo.

Hoje, a área de 10 hectares se encontra dentro de uma reserva no assentamento São Benedito, do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). "Antes de ser destinada a ser unidade de conservação, é necessário ser feito um levantamento mais detalhado dos fósseis. Isso pode mostrar que seja necessário destinar uma área maior que a prevista atualmente", explica Juan Cisneros.

Foto: Moura Alves/SemarVisita a floresta

Acervo e estudo

De acordo com o pesquisador Juan Cisneros, na Floresta já foram encontrados 70 troncos fossilizados. Todos são gimnospermas (grupo de árvores que inclui as araucárias e os pinheiros). "A gente ainda não identificou as espécies que viveram lá. Já sabemos que eram gimnospermas, mas parecem ser espécies novas para a ciência. Deve ser feito um levantamento mais exaustivo da extensão dessa floresta para determinar a sua extensão total. O estudo feito até agora é preliminar", diz.

Um ponto que pesou a favor da conservação do local é que a floresta fica em área de difícil acesso, e os fósseis achados ficam na encosta de um morro dentro de uma mata de cocais. "É possível que outros morros nessa região também tenham fósseis, a gente nunca procurou", cita.

Segundo ele, se o sítio paleontológico for bem conservado, pode se transformar em uma opção educativa e de lazer na região. "Assim como pode se reverter positivamente para economia da comunidade local", completa.

Diante do potencial, autoridades locais já se mostram interessadas na criação da unidade de conversação para manter o local preservado e mais apto para receber visitas.

"Visitamos a floresta recentemente com autoridades. Estou trabalhando, junto aos órgãos competentes, vislumbrando a transformação em uma área de preservação ambiental e transformação em um parque florestal municipal", diz Andréa Amaral, vereadora de Altos, que está à frente do processo.

"A floresta petrificada pode se tornar uma grande atração turística para o nosso estado, e principalmente para o nosso município, gerando emprego e renda e preservando o meio ambiente", completa.

Ela explica que as autoridades se comprometeram com o próximo passo: cercar a área. "É uma forma de preservar, conter a entrada de animais e de pessoas descontroladamente. Todos os gestores se mostraram interessados em contribuir cada um em suas atribuições", diz.

Extrativismo e pouco conhecimento

A professora e especialista em gestão e educação ambiental, Joira Mara Fernandes de Paiva Costa, fez um levantamento no local para conhecer moradores para conhecer a percepção ambiental e da comunidade sobre o sítio paleontológico.

Segundo ela, são cinco comunidades que vivem no entorno da floresta petrificada. "A mais próxima delas chama-se Boqueirão do Brejo, e os moradores usam a floresta para fazer extrativismo vegetal. A gente percebeu nas entrevistas socioeconômicas que eles são agricultores, trabalhadores rurais e que, na maioria, moram há mais de trinta anos lá. São pessoas que sabem a importância da preservação, mas não conhecem o valor evolutivo e científico-cultural que tem aquela floresta", diz.

Costa cita que esses moradores precisam ser mais orientados sobre o patrimônio paleontológico que existe no local.

"Ali já é uma APA [área de preservação ambiental], a gente não tem uma instrumentalização mais efetiva para preservação, tanto na parte fóssil, como na conservação natural. Lá tem uma nascente d'água que os moradores se preocupam bastante", explica.

Com essa análise que ela fez, algumas primeiras intervenções para orientações para conservar o local já foram feitas. "No caso, a primeira deve ser a delimitação do terreno de imediato para que essa conservação acontecesse da melhor forma possível", finaliza.

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