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Piauí em chamas: queimadas atingem o estado e causam preocupação

O estado tem o quinto maior índice de focos de incêndio do país

Foto: Prefeitura de São João do PiauíFoco de incêndio em São João do Piauí
Foco de incêndio em São João do Piauí

O Piauí concentrou nos primeiros nove dias de setembro quase 8% do total de focos de incêndio registrados no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ao todo, já foram 776 focos de queimadas registrados no estado.

O estado tem o quinto maior índice do país, ficando atrás apenas do Acre (998), Mato Grosso (866), Minas Gerais (763) e Amazonas (716).

A cidade de Pimenteiras, cidade a 260 km de Teresina, liderou em quantidade de focos de incêndio registrados nos primeiros dias do mês: 74 focos, sendo 9,5% do total registrado no estado. Segundo a prefeitura do município, a região tem sido monitorada frequentemente para combater o fogo.

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Piauí (CBM-PI) segue realizando uma força-tarefa nas regiões de Buriti dos Montes, Milton Brandão, Valença, Pimenteiras, Tamboril, Bom Jesus e São Raimundo Nonato, especialmente, na região onde ficam localizadas a Serra da Confusão e Serra da Capivara.

Foto: Corpo de Bombeirosem Milton Brandão e Buriti dos Montes, nas comunidades Bom Princípio e Catanduvas, respectivamente
Foco de incêndio em Milton Brandão e Buriti dos Montes, nas comunidades Bom Princípio e Catanduvas, respectivamente

O Subcomandante da Companhia de Floriano, Tenente Lucas Xavier gravou um vídeo explicando um pouco sobre a força-tarefa durante a semana:


Com o apoio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Semar), das prefeituras locais, Instituto Chico Mendes de Conservação da (ICMBio), bombeiros civis, comunidade e Polícia Militar (PM-PI), os focos de incêndios estão sendo controlados em todas as regiões. Efetivos do Corpo de Bombeiros estão sendo deslocados de acordo com a necessidade de cada região.

Na região de Buriti dos Montes e Milton Brandão os focos de incêndios estão controlados. Segundo informações do Corpo de Bombeiros, equipes foram deslocadas para Tamboril e 20 brigadistas do ICMBio estão colaborando. Já na cidade de Valença, o fogo está sendo controlado por bombeiros civis locais.

Foto: Redes sociaisQueimada em Buriti dos Montes, na divisa com o Ceará
Queimada em Buriti dos Montes, na divisa com o Ceará

Em São João do Piauí, a prefeitura postou nas redes sociais o incêndio de grandes proporções que atingiu o município no dia 7 de setembro.

Foto: Redes sociaisInformações da Prefeitura de São João do Piauí
Informações da Prefeitura de São João do Piauí

Equipes também foram mobilizadas para Bom Jesus e São Raimundo Nonato. Na Serra das Confusões, onde há dois focos, há sete brigadistas. Na Serra da Capivara, são 22. De acordo com últimas imagens de satélite, não há nenhum foco que ameace o Parque Nacional da Serra da Capivara. Na cidade de Caracol, também há brigadistas, dez no total.


Carros-pipa estão sendo usados na operação, além de reforços com viaturas e caminhonetes para deslocamento dos brigadistas e bombeiros. Um caminhão do Aeroporto de São Raimundo Nonato também está sendo utilizado.

Um helicóptero da Polícia Militar do Piauí foi enviado ontem (11) para ser usado no combate ao incêndio que atinge a Zona Rural do município de São Raimundo Nonato e a região da Serra das Confusões. Outro helicóptero do Estado do Maranhão também foi enviado para realizar o lançamento de água nos pontos em que as equipes estiverem atuando para controlar o fogo.

Foto: PM PIHelicóptero enviado para São Raimundo Nonato
Helicóptero enviado para São Raimundo Nonato

O fogo no município iniciou no dia 7 de setembro e chegou atingir casas e propriedades. Conforme informações da prefeitura, as famílias atingidas estão sendo cadastradas para receber um auxílio. O Corpo de Bombeiros da Bahia também foi acionado para reforçar o combate ao fogo, que avançou na sexta-feira (10).

Foto: André PessoaIncêndio atinge zona rural de São Raimundo Nonato
Incêndio atinge zona rural de São Raimundo Nonato

Diante dessa situação séria que atinge o estado do Piauí e para esclarecer alguns pontos, o pensarpiauí conversou com a engenheira ambiental e sanitarista, Ana Letícia Lemos Pedreira, que é pós-graduada em Auditoria e Perícia Ambiental, analista ambiental município de Castelo do Piauí e conselheira adjunta do Conselho Regional de Química (CRQ-PI).

Veja a entrevista na íntegra:

Foto: Arquivo pessoalAna Letícia Lemos, engenharia Ambiental e Sanitarista
Ana Letícia Lemos, engenharia Ambiental e Sanitarista

pensarpiauí- Por que o Piauí chegou a esse nível elevado de focos em queimadas?

Ana Letícia- Bom, acredito que chegamos nesse nível elevado de queimadas espalhadas por todo Piauí por três fatores: clima, ação do homem sobre a natureza e a falta de educação ambiental. O clima é o maior responsável porque estamos historicamente no período mais seco conhecido BR-O-BRO, a umidade relativa do ar está extremamente baixa, o que interfere nas temperaturas ao longo do dia. 

Esse período coincide exatamente com a etapa de limpeza da agricultura na zona rural, sendo a prática mais comum e mais rápida o através do fogo. Essas ações precisam ser combatidas com educação ambiental visando técnicas alternativas para a limpeza.

pensarpiauí- Quais as principais causas e impactos negativos desses incêndios?

Ana Letícia- As causas são bastante variadas, porém a mais comum é o descontrole da queima da palhada, também acredito que seja a destinação inadequada dos resíduos sólidos, como: vidro, papel laminado, latas de bebidas dispostas no mato seco, as reações físicas irão ocorrer em algum momento, destacando que o mato seco é material combustível o suficiente para queimar dezenas de hectares. 

Os principais impactos negativos no meio natural será a perda da biodiversidade do local, talvez irreversível quando se trata de fauna e empobrecimento do solo. Sobre as comunidades sociais, os impactos atmosféricos através da fumaça podem causar ou agravar doenças respiratórias, sendo os que mais sofrem são idosos e crianças.

pensarpiauí- Qual a época do ano que mais ocorrem e quais as punições aplicadas no estado para quem provoca às queimadas?

Ana Letícia- No brasil temos vários instrumentos que garantem o controle de várias situações em flagrante, como a lei de Crimes Ambientais 9605/98. Os órgãos estão atentos para trabalhar junto aos municípios para inibir o ato, através das multas e até prisão.

pensarpiauí- O que o Piauí está fazendo pra mudar essa realidade?

Órgãos como Ministério Público, SEMAR, Defesa Civil e os Municípios estão trabalhando pela prevenção sugerindo atos legais que proíbem a queima, mesmo a controlada por 120 dias, e proporcionando cursos para a população.  

pensarpiauí- Como fica o meio ambiente piauiense após essa fase de grandes incêndios?

Ana Letícia- O meio natural que é o mais atingindo fica frágil, e com possível regeneração, já a população, principalmente idosa e crianças, por estarmos em uma época de pandemia, vão sentir os efeitos até após a passagem do fogo, com danos irreversíveis. Mas temos que correr atrás dos prejuízos, principalmente através da educação ambiental, sendo que na grande maioria um trabalho de prevenção pode inibir os incêndios do próximo ano, considerando que é um período cíclico.

É importante ressaltar que está havendo várias mobilizações de brigadistas voluntários municipais treinados pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e pelo Corpo de Bombeiros para combate aos incêndios.

O certo é não esperar pelo pior porque essa situação todo ano ocorre, mas sim agir com os instrumentos que temos à disposição.

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