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Pânico com subida de Bolsonaro é ilusório como vitória antecipada de Lula

Pesquisa de intenção de voto é fotografia de momento, não tem poderes mediúnicos de prever o futuro

Foto: UOLLula x Bolsonaro
Lula x Bolsonaro

 

Por Leonardo Sakamoro, jornalista, no facebook 

Pesquisa de intenção de voto é fotografia de momento, não tem poderes mediúnicos de prever o futuro. Analistas políticos repetem isso à exaustão para alertar que o instantâneo pode mudar na medida que bilhões são gastos em benefício sociais, fake news ganham fôlego, inflação e desemprego sobem ou caem, nomes entram ou saem da disputa e uma onda da pandemia acaba ou começa.

Mesmo assim, quando Lula abriu sua máxima distância de Jair na pesquisa espontânea no ano passado, uma diferença de 26 pontos em dezembro de 2021, segundo o Datafolha, choveu gente dizendo que a fatura estava liquidada. Era um momento ruim para o presidente (que tirou férias enquanto a Bahia afundava em lama) e bom para o ex-presidente (com o seu tour pela Europa).

Lula, experiente em derrotas, já veio a público mais de uma vez para alertar que Bolsonaro não pode ser subestimado por deter a máquina pública e a máquina do ódio. A euforia não fazia sentido em dezembro como o pânico não faz agora.

Apesar das pesquisas não serem comparáveis porque as listas de nomes não serem as mesmas, a diferença agora, segundo o Datafolha, é de 17 pontos. O patamar é praticamente o mesmo da primeira pesquisa após Lula recuperar os direitos políticos. Em maio, mês seguinte à decisão do STF, o instituto apontou que a diferença entre ambos estava em 18 pontos.

A disputa entre Lula e Bolsonaro não começou em dezembro, mas está em curso desde que a Suprema Corte invalidou os julgamentos e declarou o então juiz Sergio Moro parcial.

Quando as pesquisas começaram a apontar a esperada recuperação do presidente, consequência do arrefecimento dos danos sanitários e econômicos da covid-19, dos investimentos juntos aos mais pobres na forma do Auxílio Moradia e dos perdões no Fies e da volta de "filhos pródigos" que estavam apostando na terceira via, surgiu um coro de que a campanha lulista precisava fazer algo imediatamente para evitar uma tragédia.

O patamar de 43% a 44% de Lula, dependendo do cenário da pesquisa estimulada do Datafolha, é alto o suficiente para que se discuta no próprio partido a possibilidade de vitória no primeiro turno. E, ao mesmo tempo, análises do PT previram no ano passado que seria natural uma oscilação do ex-presidente para baixo, na medida em que o cenário não fosse tão positivo quanto em dezembro.

E, quando isso aconteceu, muitos dos que venderam a ideia de que a vitória era certa defenderam que Lula colocasse imediatamente suas caravanas nas ruas para recuperar votos.

Essa percepção é contaminada pelo fato que o presidente da República, rindo da cara da Justiça Eleitoral, está em campanha em tempo integral. Se as instituições estivessem funcionando normalmente, nenhum pré-candidato poderia fazer o que ele faz. Ainda mais com recursos públicos. É difícil jogar dentro das "quatro linhas da Constituição" quando o chefe do Poder Executivo a rasga diariamente, mas essa é exatamente a diferença entre o campo democrático e ele.

No PT, uma análise corrente é que, mantendo a polarização entre Lula e Bolsonaro, outras candidaturas desidratarão na reta final do primeiro turno, migrando para os polos - o que pode levar a disputa a ser encerrada no primeiro turno, de um lado ou de outro. E outra que o ex-presidente conta com um patamar confortável e podem, neste momento, se dedicar a formar palanques estaduais e para a delicada costura entre PT e PSB - cujo problema não é Alckmin, mas os acertos regionais.

Na avaliação de dirigentes do PT, quem precisava correr eram as pré-candidaturas da terceira via a fim de mostrar sua viabilidade. Citam a de Sergio Moro como exemplo: prometia estar em 15% agora e marcava metade disso antes de sua "desistência".

Há uma ansiedade típica das redes sociais, por respostas imediatas, que se traduz nas torcidas organizadas de figuras públicas, batendo de frente com o processo lento e delicado da construção política. Nem tudo o que acontece nas redes sociais é reflexo do eleitorado.

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