Política

Nunca na história do país, um presidente antes de tomar posse mudou a Constituição

Bolsonaro é página virada e Centrão ajuda Lula aprovar PEC de Transição

  • quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Foto: ReproduçãoArthur Lira e Lula
Arthur Lira e Lula

 


Por George Marques, jornalista, no DCM

Caso restasse um fiapo de dúvida sobre o fim do governo Bolsonaro, a resposta veio antes do Natal. acabou, isso não existe mais. A aprovação, em dois turnos na Câmara e Senado, da PEC da Transição viabilizou ao governo eleito honrar com a promessa de manutenção do Auxílio Brasil, que voltará a ser chamado de Bolsa Família, em R$ 600 reais. Mas não só.

De cara, há dois ganhadores imediatos dos louros advindos da aprovação da PEC. O primeiro, sem sombra de dúvida, é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Afinal, nunca antes na história do País, um governo eleito, antes de tomar posse, arregimentou uma maioria qualificada para aprovar uma mudança na Constituição.

Segundo a visão de boa parte dos congressistas, isso ocorreu por dois motivos: o primeiro é a situação delicada que o país se encontra, destruído por Bolsonaro ao ponto de precisar encontrar espaço no Orçamento para fechar as contas ainda deste ano. O segundo ponto é que Lula bateu o pé, em reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) para cumprir o compromisso de campanha dele de manutenção do Auxílio em R$ 600 reais, a partir de janeiro agora.

Ao longo da campanha eleitoral, Jair Bolsonaro também prometeu manter o Auxilio Brasil no valor de R$ 600, em 2023 – e é exatamente isso que a PEC da Transição viabiliza. O PL, partido do ainda presidente, porém, em um gesto de revanchismo por conta da vitória de Lula, votou no primeiro turno contra a proposta, assim como o Republicanos e o Novo.

Apesar da tentativa de boicotar a ajuda à população mais vulnerável, a PEC foi aprovada por uma boa margem de votos e até mesmo partidos que antes estavam na base de Bolsonaro votaram a favor, entre eles PP, legenda de Lira, e o União Brasil.

O segundo vitorioso no resultado positivo da aprovação da PEC de Transição é o próprio Arthur Lira, considerado, equivocadamente, carta fora do baralho, por parte da imprensa, após ter perdido poder com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de considerar o chamado “orçamento secreto” inconstitucional.

Lira tem certeza que será reeleito tranquilamente para comandar a Câmara dos Deputados por mais dois anos, a partir de fevereiro próximo.

Além disso, o Centrão tende a ser contemplado com espaços na Esplanada dos Ministérios de Lula. O petista deve divulgar, nesta quinta (22), nomes de novos ministros. Faltam ainda confirmar outros 31 ministeriáveis do primeiro escalão.

Nas contas de hoje, não há nome que possa peitar a candidatura de Lira à presidência da Câmara, nem mesmo do deputado federal eleito Eunício Oliveira (MDB-CE), que já começou a pedir votos nos bastidores.

Mesmo após o STF ter considerado inconstitucionais as emendas secretas, Lira não sabotou o futuro governo Lula, conforme se imaginava. Na verdade, eles sentaram, renegociaram e fizeram um acerto para que metade dos R$ 19,7 bilhões das emendas secretas fossem direcionados às emendas impositivas e a outra metade deixada a cargo do governo federal.

Uma última sinalização de que Bolsonaro é página virada e o Centrão já acena para Lula é a postura do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Lira foi ao líder da legenda, deputado Marcos Pereira (SP), e pediu que o partido não fizesse oposição por oposição, pois isso irá ajudá-lo a sacramentar sua vitória para comandar a Câmara, a partir de 1º de fevereiro.

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