Ciro Nogueira e a chantagem política travestida de responsabilidade econômica
Austeridade seletiva: o verdadeiro alvo do discurso de Ciro Nogueira

Por mais que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) tente vestir a fantasia de defensor do contribuinte, sua recente postagem nas redes sociais revela muito mais sobre as prioridades do seu projeto político do que ele gostaria de admitir. Ao criticar o caráter arrecadatório de um imposto — sem sequer nomeá-lo — e exigir que qualquer aumento seja "acompanhado de um corte severo de despesas", o senador, na prática, explicita que está disposto a apoiar medidas impopulares do governo desde que estas penalizem os programas sociais e poupem os mais ricos.
A fala de Ciro Nogueira deixa transparecer que o que está “em negociação” não é o aumento de impostos em si, mas a condição de que esse aumento seja compensado com arrocho fiscal nos setores mais sensíveis da política pública brasileira. Quando o senador fala em “corte severo de despesas”, é preciso perguntar: de quais despesas estamos falando? Historicamente, o discurso da austeridade — amplamente defendido por Ciro e por parte da elite política e econômica — se traduz em congelamento do salário mínimo, redução do Benefício de Prestação Continuada (BPC), cortes no financiamento do SUS, do Fundeb e de programas que atendem diretamente a população mais pobre.
Não se trata, portanto, de uma crítica legítima à má gestão fiscal, mas de uma chantagem política travestida de responsabilidade econômica. Ao colocar como “inegociável” a exigência de cortes profundos nos gastos públicos para aceitar qualquer elevação de impostos, Ciro na prática condiciona seu apoio a um tipo de ajuste que penaliza os mais vulneráveis e preserva privilégios. Isso inclui, por exemplo, a manutenção de isenções fiscais para grandes fortunas, dividendos não tributados e o generoso sistema de renúncias fiscais que beneficia o topo da pirâmide social.
Além disso, o senador tenta blindar-se ao elogiar o papel de Davi Alcolumbre e Hugo Motta, insinuando que há um esforço em “proteger a população”. Mas o que significa proteger a população quando se exige o sacrifício justamente de quem mais depende dos serviços públicos? O Progressistas, partido de Ciro, votou reiteradamente em medidas de ajuste que estrangularam políticas sociais e abriram espaço para reformas regressivas, como a trabalhista e a da Previdência, com impactos devastadores para a classe trabalhadora.
A frase de Ciro é reveladora porque desmascara o velho truque liberal-conservador: vestir a crítica fiscal de responsabilidade, enquanto se ataca os pilares do Estado de bem-estar social. O que ele realmente quer é um governo que transfira o ônus da crise fiscal para os pobres, enquanto preserva os interesses do capital financeiro e das elites econômicas.
Se há algo que realmente precisa ser inegociável no debate público brasileiro, é a proteção dos direitos sociais garantidos pela Constituição. O país precisa de justiça fiscal, e isso inclui enfrentar privilégios e promover uma tributação mais progressiva — algo que a retórica de Ciro Nogueira continua evitando a qualquer custo.
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