Justiça

Morre Dalmo de Abreu Dallari, um dos maiores juristas do Brasil

Professor da USP, teve destacada posição na resistência democrática durante o regime militar brasileiro.

  • sexta-feira, 8 de abril de 2022

Foto: ReproduçãoDalmo Dallari
Dalmo Dallari


Fórum via Jornal da USP- Dalmo de Abreu Dallari, um dos maiores juristas brasileiros, professor emérito da Faculdade de Direito (FD) da USP, onde se formou e cumpriu longa trajetória acadêmica até chegar ao cargo de diretor, morreu nesta sexta-feira (8), aos 90 anos.

Ele deixa esposa, 7 filhos, 13 netos e 2 bisnetos e várias gerações de alunos e seguidores, aos quais se dedicou em mais de 60 anos de magistério e atuação na promoção dos direitos humanos.

O velório será realizado na Faculdade de Direito, no Largo São Francisco, número 95, no centro de São Paulo.

Oposição à ditadura

Dalmo Dallari teve destacada posição na resistência democrática e na oposição à ditadura militar no Brasil durante as décadas de 60 e 70, ao regime que se estabelecia. A partir de 1972, ajudou a organizar a Comissão Pontifícia de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, ativa na defesa dos Direitos Humanos.

De agosto de 1990 a dezembro de 1992 foi secretário dos Negócios Jurídicos da Prefeitura do Município de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina. Possui vários artigos publicados em jornais e revistas especializadas, além de ter atuado como colaborador do jornal Folha de S. Paulo.

Lula e Dilma lamentam morte de Dallari 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do jurista Dalmo Dallari nesta sexta-feira (8), aos 90 anos. Em nota, Lula classificou como "uma inspiração" a atuação de mais de 60 anos de Dallari na área do Direito e na luta pela democracia no Brasil. "Um grande ser humano e um brasileiro imprescindível", afirmou Lula.

A ex-presidenta Dilma Rousseff também lamentou a morte de Dalmo Dallari, afirmando que o 'Brasil perde um grande defensor da democracia'.

Leia a nota de Lula na íntegra:

O Brasil perdeu hoje um dos seus maiores juristas e defensores dos direitos humanos, o professor Dalmo de Abreu Dallari. Ao longo de 90 anos de vida e mais de 60 anos de atuação profissional, sua trajetória de luta pela democracia foi uma inspiração. Um grande ser humano e um brasileiro imprescindível.

Após se tornar professor da Faculdade de Direito da USP em 1964, Dalmo ajudou a criar a Comissão Pontifícia de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo em 1972, que denunciou as torturas da ditadura militar e defendeu os direitos de inúmeras vítimas da repressão.

Entre agosto de 1990 e dezembro de 1992, ele foi secretário de Negócios Jurídicos da Prefeitura do Município de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina.

Meus sentimentos à esposa, filhos, netos, bisnetos, alunos, colegas e admiradores.

Postagem de Camilo Vanuchi no facebook: 

Quando o Papa João Paulo II veio ao Brasil, em 1980, o jurista Dalmo Dallari, professor titular da USP, foi designado para fazer uma leitura na primeira agenda do sumo-pontífice em São Paulo: uma missa no Campo de Marte. Dallari representaria a Comissão Justiça e Paz (CJP), braço da cúria metropolitana voltado para a defesa dos direitos humanos, dos presos políticos e de seus familiares, que o arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns havia criado em 1972. Dallari havia sido seu primeiro presidente, por mais de um mandato, e, naquele momento, ainda era seu membro mais conhecido.

Na véspera, Dallari foi ao Campo de Marte para se inteirar dos preparativos e da liturgia do ato. Quis se certificar quantos minutos teria direito a usar para que pudesse fazer os últimos ajustes no texto, já escrito. Informações reunidas, foi embora para casa, no comecinho da noite. Ao chegar, bem em frente ao portão, levou uma coronhada e foi enfiado dentro de um carro. O grupo de agressores o levou para um terreno baldio na Avenida Juscelino Kubitschek e o espancou até deixá-lo caído, sozinho e ensanguentado.

A muito custo, Dallari se levantou e andou até a avenida. Demorou para que um motorista parasse e aceitasse levá-lo, machucado, de volta para casa. Foi a esposa quem o levou ao pronto-socorro. Durante todo o trajeto e também no atendimento médico, a maior preocupação de Dallari era com a missa. Ele precisava estar a postos para ler seu texto, uma agenda importantíssima, de alcance internacional, que agora talvez repercutisse ainda mais.

No dia seguinte, de cadeira de rodas, foi impedido de subir ao palco pelo acesso normal, nos fundos, por um militar. Amigos ergueram a cadeira de rodas nos braços e ele conseguiu chegar à tribuna. Levantou-se, amparado pelos colegas José Carlos Dias e Flávio Bierrenbach, ambos da CJP.

O Papa se assustou com os machucados, curativos e ferimentos e perguntou o que havia acontecido. Foi Dom Paulo quem respondeu, atribuindo o atentado a grupos de extermínio ligados à ditadura. "Fizeram isso com ele porque não tiveram coragem de fazer comigo, mas é um recado para mim", acrescentou o arcebispo.

Dallari, presente. Hoje e sempre!

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