Política

"Lamento que B. Sá tenha se metido em mais uma esparrela", Carlos Rubem

O ex-Deputado Federal disparou declarações recheadas de preconceitos racistas e homofóbicos

  • quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Foto: DivulgaçãoB. Sá
B. Sá


Por Carlos Rubem, promotor e oeirense

Na última sexta-feira (29.10.2021), manhã cedo, aos microfones da Rádio Vale do Canindé, instalada em Oeiras, ao ser entrevistado pelo âncora do programa Grande Jornal, Josafá Torres, o ex-Prefeito da cidade e ex-Deputado Federal, B. Sá, como que um possesso, disparou declarações recheadas de preconceitos racistas e homofóbicos.

Senão, vejamos:

“Tive um colega prefeito, que já faleceu há alguns anos, e ele me dizia: ‘doutor B.Sá, tenha medo de dois tipos de gente… De negro que estira o cabelo e de bicha enrustida’. Mas por que você quer dizer, isso? ‘Porque esses indivíduos, doutor B.Sá, quando amanhece o dia eles se olham no espelho e eles não se aceitam, eles dizem ‘eu te odeio’… Eles olham pro espelho e se veem e dizem ‘eu te odeio’… E o sujeito que não gosta de si mesmo, ele não gosta de ninguém!”.

O B. Sá é um pró-homem de Oeiras, de relevantes serviços prestados ao Piauí. Inteligente, orador fluente, derrapou feio.

Francamente, lamento que tenha se metido em mais uma esparrela. Triste fato que tem tido negativa repercussão.

Todo mundo sabe quem era o prefeito referido pelo conhecido “Pavão Misterioso”: Antônio Noronha Pessoa Filho, médico, que governou a sua urbe natal, Monsenhor Gil (1983 - 1988), que por sinal era gay.

O Noronha, falecido em 2016, deve ter dito, à época, aquelas palavras ao B. Sá por mera brincadeira, em ambiente amistoso, certamente.

Ouvi de um amigo próximo ao Noronha que, quando ele pronunciava aquelas palavras era na certeza de que, mesmo arrancando risos de quem ouvia, estava defendendo a necessidade de todos se assumirem como são, sem disfarces nem maquiagens. 

Os gays, na visão dele, deviam sair do armário e enfrentar a luz do sol, assumindo sua homossexualidade sem receios, o que há alguns anos (nem parece, não é?) era uma decisão difícil e que exigia muita coragem, ante a sociedade profundamente machista de então.  

Claro que ainda há muito por avançar, mas daquela época para cá houve avanços, razão pela qual uma frase como essa já não se justifica nem para fazer graça.

E os negros, na visão de Noronha, deviam assumir seu cabelo carapinha, sem receios, exibindo-se na  forma como vieram ao mundo, sem disfarces, ostentando abertamente sua negritude. 

Em tão pouco tempo avançamos bem, a ponto de não se justificar mais a defesa da exibição dos cabelos originais, ao contrário: hoje, a defesa que se faz é a de que cada um faça de sua aparência o que quiser.

Se no passado havia críticas às "louras à força", hoje não as ouvimos mais. Naturalizou- se a prática de se pintar o cabelo da cor que se achar melhor e ninguém tem nada a ver com isso. 

Por último, lembro que a derrapada maior do B. Sá foi a acusação metida a engraçada — e que não teve graça nenhuma — contra o ministro Barroso, que entrou na história como Pilatos no credo. E de forma absolutamente gratuita, despropositada e infeliz. 

Seja como for, hoje, tais manifestações não tem cabimento. Não que eu seja adepto do engessamento do “politicamente correto”, às cegas. Mas o mundo mudou, ninguém duvida. É sabido que tudo o que agride a quem sofre discriminação aumenta a dor e o sofrimento. É um horror! 

Respeitabilidade deve vicejar em quaisquer circunstâncias. Os Direitos Humanos hão de ser observados por todos, indistintamente.

É bem verdade que o vídeo veiculado que já ensejou repúdio da opinião pública é fatiado. Não se sabe em que contexto houve aquela malograda abordagem.

Se fosse eu quem tivesse falado tais provocações, para dizer o mínimo, fazendo autocrítica — como qualquer pessoa sensata faria — seria possuído por um forte sentimento de remorso.

E, para logo, me retrataria sobre aquele desastroso episódio. Tentaria, ao menos, sem nenhum pejo, desfazer o mal-estar causado àqueles que se sentiram ultrajados.

Sei, porém, que nem todos se apercebem da mancada que cometem. Inclusive, movidos por pura vaidade.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui

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