Política

Dr. Pessoa tenta tapar o sol com a peneira

Ele falou em alto e bom som que ia resolver o problema do transporte público da capital em 100 dias

  • domingo, 21 de fevereiro de 2021

Foto: G1Dr. Pessoa
Dr. Pessoa

 

Gestão de Crises e Comunicação Pública

Por Ana Cristina Guedes, Jornalista, Mestre em comunicação com fins sociais e especialista em comunicação institucional e comunicação política

Quando crises acontecem deve-se enfrentar o problema com a verdade que ele merece. Debate-se o assunto com especialistas, avalia o episódio, seus impactos e consequências para os públicos-alvos, considera a importância da comunicação pública e avalia as informações a serem repassadas e publicizadas para não sair por aí tendo que “desdizer” depois o que disse antes, resguardando-se a transparência, a segurança e a credibilidade na transmissão de informações que são necessárias para a sociedade. Em outras palavras, menos discurso e mais ação. Menos publicidade, mais comunicação: clara, leal e responsável.

Mas crises são inevitáveis e engana-se quem pensa que nunca passará por uma. Se acontece na vida privada, o que dirá de quem está na vida pública, especialmente, na política? O prefeito de Teresina, Dr. Pessoa, que assumiu o comando da capital piauiense há 50 dias, parece que ainda não se deu conta disso, ou pior, finge que não está numa. Mas está.

Dr. Pessoa tomou posse desfilando em carro aberto pela cidade. No mesmo dia prometeu abrigo para quem está nas ruas e falou em alto e bom som que ia resolver o problema do transporte público da capital em 100 dias.

Promessa desnecessária. Só que Dr. Pessoa ainda estava em palanque eleitoral e discursava. Falava, portanto, como candidato, porque é até “aceitável” que promessa de candidato não se deve escrever ou acreditar. Mas palavra de gestor é diferente. E o prefeito não precisava prometer o que não podia cumprir. Precisa, no mínimo, saber conduzir e tentar resolver um problema que se arrasta há anos, que fracassou com a implantação do INTHEGRA e que piorou ainda mais para a população com a pandemia.

Pois bem! Faltam só 50 dias para vencer o prazo estabelecido pelo prefeito e está difícil acreditar que se tenha uma solução definitiva para o caos que é o transporte público da capital. E é inadmissível que uma cidade como Teresina, com quase 900 mil habitantes não tenha ônibus circulando pelas ruas.

Dr. Pessoa ampliou a gravidade do problema para si mesmo e para a sua gestão que mal começou e já está em dívida com uma parte da população que, certamente, foi a que mais acreditou no seu discurso. E nem vou entrar no mérito da “solução” apresentada até agora pela prefeitura, que seria a municipalização do transporte público, mas da má condução do problema.

Ele dá respostas vazias sobre o assunto, empurra o problema para a classe empresarial, dizendo que estes “têm cérebro, mas não têm coração” e invoca Deus (que Deus me perdoe por usar seu nome aqui) o tempo todo para justificar uma gestão que diz ser para os mais pobres e os mais necessitados. Em uma dessas entrevistas, Dr. Pessoa se desviou mais uma vez das perguntas mais importantes dos jornalistas sobre este e outros assuntos e soltou a informação de que iria doar todo o seu salário de prefeito para os moradores de rua. “Estou aqui, dando a notícia em primeira mão”, disse ele, acreditando, verdadeiramente, que essa informação anulava a importância de outros esclarecimentos que ele não deu aos jornalistas e a quem assistia à entrevista.

Não vem ao caso aqui a generosidade do prefeito em fazer tal doação. Mas, sim, a informação ser noticiada como recurso para desviar a atenção para questões que são fundamentais e urgentes para a população, especialmente, para as milhares de famílias teresinenses, trabalhadores, estudantes, e todos mais que precisam de transporte público para se locomoverem.

Para além das disputas políticas, inclusive internas, e do que deixou de ser feito pelas gestões anteriores, quem assume a prefeitura de uma cidade leva na bagagem o ônus e o bônus de uma cadeira pública. Tentar tapar o sol com a peneira ou negar essa verdade é um erro e a conta pode sair cara.

Gestão de crise precisa de equilíbrio. É o mínimo do razoável para que se mantenha a integridade, não só de quem está à frente da gestão municipal, mas também e principalmente da população, que precisa de respeito, transparência na comunicação e qualidade na informação sobre assuntos que atingem a vida das pessoas e que são, verdadeiramente, de interesse público.

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