Pensar Piauí

Cisternas de flores e amores

"Marcia estampa sorrisos quando cita a cisterna na casa de sua mãe como a principal mudança de sua vida"

Foto: EnelCisterna
Cisterna

 

Jonas Duarte, professor UFPB

Marcia tinha apenas 12 anos de idade quando assumiu a tarefa de abastecer de água, a casa de sua mãe, na comunidade Chã da Barra, município de Aroeiras-PB.

Com essa tarefa ela levantava de sua cama, de domingo a domingo, antes das 04:00 da manhã. Andava cerca de 2 km, sendo 1,5 de ladeira íngreme, até chegar ao leito do Rio Paraíba, onde uma cacimba com água salobra abastecia toda população.

O pior para Márcia era subir a ladeira do rio, ainda no escuro, com duas latas d'água, somando uns 30 a 40 litros.

Fazia esse caminho 5 a 6 vezes por dia, cedinho. Era a única forma de ter água em casa. O resto do dia Márcia passava cansada. A escola era um tormento, pois a madrugada não dormida, somada ao esforço físico a deixara sonolenta o resto do dia. Muitos dias faltava a aula para providenciar água pra os seus irmãos menores.

Ouvi esse depoimento da própria Márcia em uma reunião do CENTRAC/ASA- Paraíba  contando sua lida na adolescência entre risos e certa contundência, indignação.

A contundência e ar indignado aparecia quando ela refletia o sofrimento daquela adolescente.

Marcia estampa sorrisos quando cita a cisterna na casa de sua mãe como a principal mudança de sua vida.

Com o Programa P1MC de 1 milhão de cisternas da ASA, adotado pelo Governo do Presidente Lula, a família de Márcia construiu uma cisterna da "primeira água" em sua casa. Márcia conta as gargalhadas como sua vida mudou.

A água, "guardadinha, linda, doce no oitão da casa..." parecia um sonho. "Eu me beliscava pra ter certeza que não estava sonhando" completa sua narrativa rindo.

Aquela água boa, em todos os sentidos, deu à Márcia liberdade (tempo); e ânimo para ir à escola, para estudar, participar das  reuniões da comunidade, brincar. "Aquilo foi uma benção". Passava o dia sem sono e disposta aos estudos e outras atividades.

Ela chama a cisterna de "Papai Lula". Se irrita e é capaz de brigar quando alguém fala mal do governo Lula.

Tem medo que Bolsonaro mande arrancar as mais de 1 milhão de cisternas construídas nos governos petistas, que matou a sede de muito nordestino.

 "Fala de Lula quem nunca carregou lata d'água na cabeça a manhã toda. Quem nunca foi pra Escola em cima de um 'Pau de Arara' tomando sol ou chuva. Fala de Lula quem nunca precisou de um governo que o amparasse, que lhe protegesse da fome e da sede. Fala de Lula quem vive aí na boa, no ar-condicionado, estragando água e comida. Quem é pobre e fala de Lula ou é covarde ou vendido. Vá atrás que é mau caráter", despacha Márcia.

Márcia conclui seu depoimento dizendo que hoje em sua própria casa, no sítio Bernardo, tambémem Aroeiras, além da cisterna da "primeira água" que esse ano sangrou o mês de São João todinho ela tem outra. Uma cisterna Calçadão de 52 mil litros que lhe fornece água para um canteiro de verduras e o jardim florido. "Coisa mais linda", diz.

Márcia tem um sonho. Em 1° de janeiro de 2023 jogar flores  colhidas do seu jardim, cultivadas com águas de suas cisternas, em Lula. No sonho dela Lula estará subindo a rampa do Planalto. E ela gritando: "Presidente, essas flores foram cultivadas com o amor do senhor por nós. Amor em forma de água, de esperança. Nossas cisternas no sertão estão cheias."

ÚLTIMAS NOTÍCIAS