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Boulos comprova ser um Lula "fast track"

Confira o artigo do professor Luis Felipe Miguel

Por Luis Felipe Miguel, professor, no facebook

A gente sabe: é de muito mau gosto postar a foto de Marta Suplicy dando um buquê de flores para Janaína Paschoal, em tributo por sua contribuição à derrubada da presidente Dilma Rousseff.

Foto: ReproduçãoMarta Suplicy dando um buquê de flores para Janaína Paschoal
Marta Suplicy

 

É bem verdade que na foto Marta aparece acompanhada por Ana Amélia Lemos, notória direitista que foi, em 2018, candidata a vice-presidente na chapa... do camarada Geraldo Alckmin.

As voltas que a política dá, alguém diria.

Mas, no caso de Marta, é mais do que isso.

Ela fez sua carreira política no PT. Embora fosse então casada com Eduardo, nunca foi uma mulher-que-se-elege-graças-ao-capital-político-do-marido. Sempre teve sua agenda, seu discurso, suas prioridades e correu em faixa própria.

No seu mandato como deputada federal, entre 1995 e 1999, foi uma voz importante em defesa de causas feministas. Foi uma boa prefeita de São Paulo (2001-2004), mesmo sofrendo ataques grosseiros da imprensa.

Não era uma santa – na política, ninguém é. A campanha homofóbica contra Gilberto Kassab, na eleição de 2008, foi um ponto baixo que manchou de forma perene sua imagem.

Mas a traição de 2016 foi demais. Marta não só era um nome histórico do PT como tinha sido ministra de Dilma.
Rompeu por ambição – sentia-se preterida em suas pretensões eleitorais – e por oportunismo. Vendo que os ventos mudavam, chegou a dar entrevista dizendo que “nunca foi de esquerda”. Apoiou com entusiasmo a “ponte para o futuro” de Temer, isto é, teto de gastos, desnacionalização da economia, precarização do trabalho.

Seu limite foi o bolsonarismo, é bem verdade. Nunca o apoiou.

Agora, com uma nova traição (a Ricardo Nunes, de quem era secretária e conselheira , o que não deixa de ser curioso para uma feminista), Marta está se refiliando ao PT, para ser vice de Boulos.

Sem um mea culpa. Sem um ato de contrição.

É contraditório num dia dizer que “perdão soa como impunidade”, como disse o presidente Lula na cerimônia de um ano do 8 de janeiro, e no dia seguinte cortejar uma golpista.

Do golpe contra Dilma ao bolsonarismo e à intentona do ano passado há uma linha reta.

E Boulos, o que ganha? Oficialmente, não se pronuncia: a vice é questão do PT.

Mas Marta é vista como alguém que amplia a candidatura à direita, o que o candidato do PSOL quer mais do que tudo.
Boulos comprova ser um Lula fast track, passando do “radicalismo” à moderação, do “principismo” ao eleitoralismo sem peias, do embate à conciliação, da esquerda ao centro em tempo recorde.

Terá sucesso? Não sei não. Não porque “a história só se repete como farsa” (sempre digo que não gosto dessas frases de lacração), mas porque os tempos são outros.

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