Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Um discurso de derrotado

Foto: DivulgaçãoBolsonaro
Bolsonaro

 

Por Arnaldo Eugênio, doutor em antropologia 


Na segunda-feira (18/07), o presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com embaixadores de alguns países, escolhidos a dedo, no Palácio da Alvorada, em Brasília, para protagonizar um constrangimento público ao falar mal de Instituições brasileiras e do Sistema Eleitoral pelo qual ele e centenas de outros políticos foram eleitos.

Trata-se de uma situação política gravíssima, pois ao insistir com teorias conspiratórias, ataques as urnas eletrônicas e ao Sistema Eleitoral brasileiro, além de insuflar suspeições sobre a lisura do pleito de 2020, ele faz ofensas golpistas à Lei de defesa da democracia, que introduziu como crimes a tentativa de golpe de Estado e o incentivo à violência política.

Por meio de um discurso fake news e uma vontade frustrada de ser um líder popular e político, o chefe do Executivo tenta justificar suas falas mentirosas, alegando querer “corrigir falhas” do processo eleitoral do país, além de pleitear “uma democracia de verdade”.

Primeiro, ele mente sobre a urna eletrônica brasileira, que, em 2022, completa 26 anos de uso, cuja eficiência em segurança é reconhecida, inclusive pelos países representados na reunião. O código-fonte dos programas utilizados é submetido a sucessivas verificações e testes, capazes de identificar alteração ou manipulação, além de ser acessível, ininterruptamente, aos partidos políticos, à OAB, à Polícia Federal e a outras entidades que participam do processo.

Além disso, Bolsonaro omite a informação técnica de que uma vez assinado digitalmente e lacrado, a urna eletrônica auditável não permite a possibilidade de adulteração, pois o programa trava se vier a ser modificado.

Segundo, como ele sugere, não se faz a defesa do Estado democrático de direito através de uma manobra ilícita e golpista de traição à pátria e à Constituição Federal de 1988, ou com um negacionismo eleitoral e o abuso de autoridade.

Na verdade, já percebendo a situação política inteiramente adversa, as insistentes falas mentirosas de Bolsonaro corrobora a última pesquisa Datafolha, mostrando que ele tem o pior índice de rejeição entre os desempregados (66%), os eleitores negros (63%), as mulheres (61%) e os do Nordeste (62%).

Diante de um quadro eleitoral quase irreversível, Jair Bolsonaro passa adotar um discurso de derrotado, copiando as ideias de Donald Trump (ex-presidente americano) e seu conselheiro Steve Bannon, com base na polarização política, ódio disseminado e fake news, indiferente as dificuldades prementes do povo brasileiro.

Conforme alertou João Doria (ex-governador de São Paulo), Bolsonaro, tomado pelo desespero eleitoral, planeja causar o adiamento das eleições em outubro com o incentivo à violência política: "Não acredito em golpe, mas no sentimento bolsonarista, doentio da família Bolsonaro, para, diante de um quadro de profunda dificuldade no país, se proponha o adiamento das eleições. Isso é um ato condenável, é ruptura do processo institucional, democrático".

Provavelmente, Bolsonaro jogará sua última cartada golpista nas comemorações do Dia da Independência (em 7 de setembro), em Brasília, com um ato que estimule ataques às instituições, como à invasão do Capitólio dos Estados Unidos, em 2021, depois que partidários do ex-presidente Donald Trump foram convocados a se reunirem e protestarem em Washington, DC.

O desespero eleitoral do Chefe do Executivo se revela num discurso de derrotado, que quer “sequestrar a opinião pública”, tentando radicalizar o debate sobre as eleições 2022, desinformar os eleitores com narrativas nocivas, indiferente a preservação da democracia.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS