Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Sociedade intolerante

Foto: ReproduçãoBolsonaristas fazem saudação nazista durante execução do Hino Nacional
Bolsonaristas fazem saudação nazista durante execução do Hino Nacional

 

Reconhecer e aceitar aquilo que não se quer, ou escutar com respeito opiniões diferentes das suas, são virtudes necessárias para a convivência em uma sociedade democrática. Contudo, há tempos, a convivência humana no mundo e, especialmente no Brasil, tem sido marcada por manifestações de intolerância, como atentados, crimes por ódio racial, divergências políticas e religiosas, feminicídio, xenofobia e homofobia, com base em discriminação, intolerância e preconceito.

Com a modernização dos meios de comunicação, principalmente com o advento da internet, se multiplicaram os casos de intolerância e ofensas nas redes socais – Twitter, Facebook e Instagram – contra negros, mulheres, políticos, nordestinos, deficientes, LGBTQIA+.

Também a globalização, para além dos ganhos no mundo contemporâneo, tem contribuído para a disseminação de intolerância, através da difusão de visões e ideologias desprovidas de senso crítico – p.ex. o negacionismo científico na pandemia de COVID-19 e suas variantes –, ensejando formas de discriminação e ódio aos diferentes, resultando em coação, opressão, violência e mortes.

Nesse contexto, a intolerância é uma atitude racional caracterizada pela ausência de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar as diferenças em crenças e opiniões. No sentido político e social, a intolerância é a falta de disposição para aceitar as pessoas com pontos de vista diferentes.

Nos Estados Unidos, durante o governo de Donald Trump (e, no Brasil, na gestão de Jair Bolsonaro), promoveu-se uma onda de intolerância pelo país, dividindo a sociedade com raiva e ódio, ataques as instituições democráticas, ameaças golpistas, interferência nas agências de segurança pública e a cooptação demembros das Forças Armadas para se insinuar no campo político-partidário.

No Brasil, durante as eleições presidenciais de 2022, se disseminaram diversos sentimentos de ódio e de intolerância social, política e religiosa. Houveram muitas episódios de agressões e manifestações pseudopatriotas, como reflexo de um Estado incompetente, associado à tradição de desrespeito aos Direitos Humanos. Tudo isso aconteceu desconsiderando as legislações que estabelecem a igualdade e criminalizam os preconceitos, a discriminação e a intolerância contra as pessoas

Uma sociedade intolerante esgarça os vínculos sociais entre os diferentes, enfraquece os valores positivos da convivência humana, inibe a prevenção de atrocidades, aniquila os direitos fundamentais dos seres humanos, motiva ações de violência e perseguições, promove regimes autoritários, restringe as liberdades individuais e incita o ódio.

A intolerância é um fenômeno social complexo e universal, como produto da estupidez humana, que fere o artigo 7º da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e se sustenta na desinformação e falta de autocrítica, que não reconhece nem respeita as diferenças em crenças, opções sexuais e opiniões políticas. Desde 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs uma campanha para a aplicação dos princípios de inclusão, tolerância e do entendimento mútuo contra a discriminação, tolerância e preconceito.

Nesse sentido, para enfrentar a complexidade que envolve o fenômeno da intolerância, é possível e necessário socializar informações gerais sobre os malefícios das fake news, debater sobre as causas e efeitos da disseminação de ódio, implementar políticas públicas para as juventudes, integrando educação, saúde, assistência social, esporte e lazer.

Portanto, a intolerância é ruim. Tem implicações e causa sofrimentos em toda sociedade contemporânea.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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