Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Pornografia e violência contra as mulheres

Foto: O GloboPornografia

 

Atualmente, crescem os debates sobre o papel da mulher na sociedade brasileira, o feminicídio, a objetificação do corpo feminino e outras formas de violência contra a mulher, que estão relacionadas com às dinâmicas entre homens e mulheres, especificamente os desfechos socioculturais da dominação masculina sobre as mulheres.

A pornografia – um material com objetivos recreativos para estimular a excitação sexual, com representações de atos sexuais humanos ou nudez explícita – foi incorporada à cultura ocidental, com narrativas que reproduzem a forma como os sujeitos são construídos no imaginário social – incluindo as relações entre homens e mulheres, reificando a dominação masculina que naturaliza, frequentemente, a violência contra a mulher (SCORSATTO, 2022).

Nesse contexto, inquietei-me em saber se a pornografia mainstream, de alto poder comercial, exerce influência nas dinâmicas da violência contra a mulher, causando dores e dependências, além de ofuscar a visibilidade social e política sobre a masculinidade tóxica.

Para responder, recorri à pesquisa empírica nas mídias pornográficas e nos dados bibliográficos. Primeiro, para leituras imagéticas das cenas e, segundo, compreender como uma atividade que tem a finalidade de promover excitação sexual, aufere lucros bilionários na indústria do voyeurismo e, também, reforça a naturalização da violência contra a mulher, travestida de prazer.

A pornografia mainstream, feita pelo olhar masculino de como um corpo de mulher deveria ser, estetiza o sexo e a mulher. Para Carolina Pátaro (2015), os filmes pornográficos convencionais constroem estereótipos e práticas sexuais no voyeur para além da pornografia, que reifica a sociedade machista e sexista.

Antropologicamente, o estudo da pornografia é parte de um importante processo sociocultural para discutir e compreender mais sobre a sexualidade, visando quebrar preconceitos e desfazer padrões arraigados. E, assim, possibilitar a reflexão sobre o erotismo, as práticas sexuais e “os modos com que risco e consentimento, simultaneamente, se amalgamam e se configuram em determinados desejos e prazeres”.

Os estudos empíricos mostram que a pornografia mainstream reverbera a violência contra as mulheres, tornando-se legítima, influenciando as diferenças de gênero na manutenção da dominação masculina. O voyeurismo dos filmes pornográficos introjeta a vulgaridade sexual na mente masculina, estimulando comportamentos distorcidos no ato sexual, que geram dores e sofrimentos nas mulheres, funcionando como uma nova forma de oprimir e de objetificar.

Por exemplo, uma mulher conta ter sido “forçada” (característica de estupro) pelo parceiro a fazer determinadas posições numa relação sexual, como uma performance – o homem teria feito uma pausa para assistir a um vídeo pornográfico. Tal situação pode produzir sérios danos psicológicos nas mulheres, como se martirizar ou evitar relações sexuais em relacionamentos futuros.

Isso se deve, em partes, porque a pornografia mainstream é produzida a partir da óptica patriarcal, revelando as percepções inconscientes que a cultura tem a respeito do papel da mulher (CAROLINA PÁTARO, 2015). Ela tenta aproximar os personagens da vida com as imagens da tela, onde os homens se pensam imbatíveis, viris, destemidos, autoritários, corajosos, impositivos etc.

Logo, para além da subjetividade dos sujeitos, a pornografia contribui para a legitimação da violência contra as mulheres, a objetificação, o machismo e a misoginia, gerando uma masculinidade tóxica, que causa vários malefícios, tanto ao homem quanto à sociedade.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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