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Economista

Acilino Madeira

Economista

Inflação, conflito distributivo e realidade econômica

Foto: ReproduçãoInflação
Inflação

 

Em termos macroeconômico, a inflação é uma elevação sustentada do nível geral dos preços da economia, fenômeno contrário é a deflação, ou seja, diminuição sustentada do nível geral dos preços da economia. Contudo, existe uma questão de ordem prática: Como definir o nível dos preços? Em resposta, por duas medidas a serem tomadas: (1) pelo deflator do PIB e (2) pelo Índice de Preço ao Consumidor (IPC). O deflator do PIB fornece o preço médio do produto (trimestralmente). O IPC fornece o preço médio do consumo (mensalmente). Trocando em miúdo, o IPC fornece o custo em moeda corrente de uma lista especifica de bens e serviços, ao longo do tempo (cesta de consumo de um consumidor urbano típico). Em economias abertas, quando o preço dos bens importados sobe mais em relação ao preço dos bens produzidos internamente, o IPC sobe mais rápido do que o deflator do PIB.

No Brasil, o termo mais usado é IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado desde 1979 pelo IBGE, também considerado o termômetro oficial da inflação, refletindo o custo de vida e o poder de compra da população no país.

Economistas, quase que no geral, afirmam que a inflação no Brasil não é de demanda e sim global. Assim, os preços não aumentam porque há uma procura maior por bens e serviços que não tem o suficiente para todos. A explanação é que nos dias atuais a inflação no Brasil reflete a crise pós pandemia do covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia, mas também porque nas principais economias do mundo por uma questão macroestrutural observa-se uma escalada ou aumento de seus índices de inflação, base de sustentação do argumento de que os preços estão subindo globalmente.

Diante do exposto, de bom alvitre surge a indagação: Como controlar a inflação no Brasil, levando em conta a nossa cultura inflacionária, o bem viver da população e a nova posição na geopolítica internacional? Tal indagação nos remete ao entendimento de que os agregados macroeconômicos se ligam às condições favoráveis ou não ao bom desempenho econômico do país.

A política econômica não deve se bastar em si como um fim, mas como um meio para o crescimento e para o desenvolvimento econômico. Na última década, no Brasil as soluções de melhoria para o controle da inflação apresentam moldes técnicos (hipotético-dedutivos) e se furtam da compreensão da inflação como um conflito distributivo.

Embora se possa entender a economia como uma ciência triste, acredito que ela se paute entre a normatividade e a positividade ou entre os desejos e a realidade da vida como ela é. Neste sentido, a presença de um novo governo pode significar tempos de esperança e de desistência de que inflação se resolve com o aumento dos juros e da desaceleração econômica.

Por este caminho tão bem defendido pela ortodoxia liberal brasileira, na atual conjuntura nacional e internacional, não se chega ao longe. Se a inflação não é de demanda e sim global, então outras questões devem ser analisadas.

Para o economista Pedro Rossi, professor livre-docente do Instituto de Economia da Unicamp (SP), tal caminho dos liberais ortodoxos é desacelerar a economia por meio de um choque monetário (aumento de juros) e fiscal (corte de gastos), o que reduz demanda por bens e serviços, caracterizando um freio nas pretensões de recuperação econômica do Brasil, prejudicando os trabalhadores que saem empobrecidos com a economia estagnada e sem empregos embora beneficie quem tem riqueza financeira para aplicar nos juros altos.

Uma questão básica que surge é a de como controlar a inflação de alimentos. Ora, a maior parte dos alimentos é minimamente afetada pela política monetária, com preços que dependem da cotação internacional, de safra e ainda de fatores climáticos. Percebam mais duas questões outras: a geopolítica global e sua relação com a agenda do meio ambiente.

Para se pegar a visão real da situação é necessário compreender que meta de inflação, elevação da taxa Selic também tem impactos distributivos via política fiscal, valendo-se ainda das lições do colega Pedro Rossi.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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