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Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Iluminação pública e criminalidade

Foto: Reprodução/Folha UolIluminação pública e a criminalidade
Iluminação pública e a criminalidade

 

É incontestável que, a iluminação é um fator de segurança para a realização de diversas atividades, pois a escuridão é como uma caixa de pandora. Todavia, ter uma cidade iluminada, feito uma árvore de natal, não é garantia de ausência de criminalidade, ou que cada lâmpada acesa num porte signifique um crime ou um criminoso a menosna urbe.

Quando alguém afirma que a boa iluminação de uma “cidade tal” reduziu a criminalidade, sem apresentar uma base de dados confiáveis e mensuráveis, apenas por empiria, é, antes de tudo, um tolo querendo ser sábio, que subestima os neurônios e o senso crítico dos outros.

Paris, na França, é uma cidade ultra iluminada, mastem elevado nível de criminalidade. A Segurança em andar sozinho durante o dia é elevado e a segurança em andar sozinho durante a noite é baixo (NUMBEO, 2023). Mas, em geral, Paris é uma cidade mais segura do que as metrópoles brasileiras.

Na verdade, fora dos grandes centros urbanos, a taxa de criminalidade em Paris reduz consideravelmente e os níveis de violência são baixos. O título de “cidade luz” tem relação com o fato de que, durante séculos, as mentes mais iluminadas de diversas vertentes da arte foram seduzidas por Paris, como os insetos são atraídos pelas lâmpadas.

Quando alguém afirma que a quantidade de lâmpadas acesas numa “cidade tal” exerce controle efetivo sobre a criminalidade, sem apresentar um estudo quantitativo e/ou qualitativo, somente por achismo, não é mais do que umacharlatanice. Pois, o campo do achismo está repleto de falsos sábios, baseados apenas em aparências do real.

A urbanista Jane Jacobs, no livro “Morte e Vida das Grandes Cidades” (1961), mostra que a movimentação urbana nas ruas torna todos os transeuntes vigias do espaço urbano: “olhos da rua”. 

Certamente, existe uma relação atinente entre a iluminação pública e a criminalidade. Pois, uma cidade bem iluminada pode alterar as variáveis da criminalidade, porque desfavorece uma investida surpresa contra uma possível vítima. Mas, isso não se faz da boca pra fora, com palavras desconexas ao sabor dos ventos através de discursos frívolos.

A iluminação pública sem vínculo com um plano de segurança pública nunca será uma ação estratégica. Uma iluminação pública eficiente pode até permitir a vítima antever um crime, porém, não é garantia de inibir a ação criminosa nem findar a criminalidade.

Por isso, não basta iluminar as ruas. Ou seja, apenascolocar lâmpadas em postes, fora de um planejamento estratégico associado às ações de segurança pública, não é o mesmo que quanto mais eficiente o serviço público, menor o índice de criminalidade.

Em 2016, um estudo experimental do Bureau Nacional de Pesquisa Econômica, dos Estados Unidos, planejado e realizado com a Polícia Metropolitana de Nova York, incluiu pontos de luz extras em 40 ruas da cidade. Após seis meses, houve redução entre 36% a 60 % nos crimes ocorridos à noite nas vias iluminadas.

Uma iluminação pública eficiente se reflete diretamente na sensação de segurança, mas não no sentimento de segurança. Isto é, pode incentivar os moradores a viverem mais a cidade, porém, não os fazem retirar as grades de suas casas e voltarem a interagir, sem medo, com o espaço urbano noturno.

Em outras palavras, uma eficaz iluminação pública não é suficiente para que os moradores voltem a frequentar praças, parques, pistas de caminhadas etc. Assim, relacionar a eficiência na iluminação pública com a redução da criminalidade apenas por ouvir dizer é um ato néscio, vão, delirante e ignóbil.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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