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Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Ao Brasil falta um Príncipe

Foto: AmazonBolsonaro não é Príncipe
Bolsonaro não é Príncipe

Para Nicolau Maquiavel (1469-1527), na obra “O príncipe” (1532), “quando um príncipe dá boa condição de vida, alimento e trabalho aos cidadãos de seu país, é amado”. E “é necessário que um príncipe tenha bons fundamentos, caso contrário cairá em ruína”. Para o autor, “o príncipe deve aprender a não ser tão bom e piedoso”. Porém, “também deve ser tão prudente capaz de fugir dos vícios que o fariam perder o poder”.

Para além de desastroso e estéril, o pronunciamento oficial sobre a COVID-19, em rede nacional,  pelo  Presidente do Brasil associado às ofensas ao povo chinês – culpabilizado pela pandemia de COVID-19 – feitas por aquele deputado Federal coloca, de um lado, em descredito a ciência, os profissionais da saúde e os técnicos do Ministério da Saúde e, de outro lado, fomenta o pânico e ensejam o próprio suicídio político.

Contrariando o apelo mundial de isolamento social para conter o avanço da pandemia de COVID-19, o presidente do Brasil incentiva o retorno de milhares de crianças às escolas e os comerciários ao trabalho. Sem razoabilidade, ele ignora os conhecimentos científicos e ainda se compara a um falso “atleta de alta imunidade” (i.e., um pescador em reserva ambiental?), em quem o COVID-19, no máximo, provocaria “uma gripezinha ou um resfriadinho”. Ora, ser Presidente da República não torna um homem (ou uma mulher) num ser diferente dos demais quanto à imunidade a pandemias, mas exige postura moral.

Diante do contexto da pandemia de COVID-19 no mundo, é, no mínimo, inconsequente afirmar “[...] que não há a necessidade de fechamento de escola tendo em vista que os casos fatais seriam ‘raros’ relacionados a pessoas com idade inferior a 40 anos”. Diferentemente do que até onde sabe o presidente do Brasil, ainda não se mapeou todos os aspectos microbiológicos e as manifestações patológicas da COVID-19 nos diversos organismos humanos – p.ex. há relatos de relação entre o COVID-19 e nascimentos prematuros. Portanto, a prevenção é a melhor estratégia para enfrentar uma doença que não tem vacina ou imunização prévia.

Desse modo, distante anos-luz da postura de um verdadeiro líder (ou de um Príncipe) de uma nação ou de estadista, o presidente do Brasil (e seus asseclas), se posta indiferente às milhares de mortes pelo COVID-19 no mundo (e no Brasil) e menospreza as recomendações sanitárias. Além disso, usa um horário de pronunciamento oficial ao povo para desinformar e fazer provocações tolas a terceiros, completamente alheias ao contexto da pandemia de COVID-19. De acordo com Maquiavel, “o príncipe deve proceder de forma equilibrada, com prudência e humanidade, [...]”.

Cientificamente, na contramão das advertências médicas, o presidente do Brasil afirmou que “as autoridades não deveriam tomar medidas como o fechamento de comércio, a proibição de transportes públicos e o confinamento em massa”. Ou seja, é como um falso líder (e egoísta) que tenta guiar os seus súditos para um suicídio coletivo.

Ora, evitar a aglomeração de pessoas, durante uma pandemia, é uma das primeiras formas de prevenção ao coronavírus. Portanto, ao estimular o contrário, o presidente do Brasil, antes de tudo, mente para a população e presta um desserviço público contra a população brasileira. O seu discurso desdenhoso e a desordem cognitiva moldam um ato político perverso de desprezo àqueles que estão se dedicando – e até perderam a vida – no combate ao COVID-19.
O pronunciamento ignóbil do presidente do Brasil, para além de inominável, nega a cidadania, destoa do bom senso, menospreza a ciência, ignora a OMS, avilta à vida, nega a dignidade humana: um crime de responsabilidade.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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