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Economista

Acilino Madeira

Economista

Covid-19 no Brasil e a economia real

Foto: ABC ReporterE a economia ?
E a economia ?

O Brasil e o mundo inteiro receberão inusitadas lições na durante e nos pós tempos de pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Durante a pandemia, países com alarmantes históricos de concentração de renda e desigualdades sociais se veem completamente vulneráveis porque fizeram a opção pelo modelo econômico hegemônico do neoliberalismo, sem necessárias e específicas restrições.

Comporta nesse modelo, a crença na primazia dos mercados, sobretudo dos mercados financeiro e de capitais, enquanto ponta de lança do capitalismo transnacional, na visão de François Chesnais.

Não obstante, o grande orgulho pelo desaparecimento das fronteiras físicas entre países e regiões, em nome do avanço do capitalismo liberal parece que desabou e os já tão esquecidos Estados nacionais renasceram das cinzas das horas mortas ou da contagem de seus mortos devorados pelo novo coronavirus. O mundo tinha virado uma bola só, hegemonicamente somente no sentido financeiro ou dos grandes fluxos sem a ideia de justiça a que se reporta Amartya Sen.

A pandemia do Covid-19 trouxe de volta as cercas e os muros que hoje separam nações em variadas regiões do globo. Porém, o vírus ainda tão letal não é visto a olhos nus, vivemos tempos estranhos e que mais parecem extraídos de filmes de ficção científica.

Alguns especialistas comparam a atual crise do Covid-19 ao movimento de quebra da Bolsa de Nova York, de 1929, sem o desmerecimento da gravidade da crise do subprime de 2008. Contudo, na crise atual a preocupação não pode ser somente em salvar as instituições financeiras. O que aflige mais os mercados financeiros é a sua cruel dependência da economia real. Os mercados de capitais estão virando pó. Os papeis das empresas (ações, opções e debentures) sem materialidade se desmancham no ar.

No Brasil, as dores dos mercados (financeiro e de capitais) encontram respaldo na burocracia estatal a serviço do capital especulativo. Acontece que esse capital especulativo está batendo em retirada e procurando novas aplicações em dólar e em ouro.

Quando o liberalismo ortodoxo e ultrapassado de Paulo Guedes se espraiou no Brasil, assim o fez como rastilho de pólvora, anunciando um paraíso de soluções de melhoria nas estruturas de mercado, sem contar com a possibilidade de ocorrência de uma externalidade tão negativa como a crise do novo coronavirus e que abalou primeiro a China, nosso principal parceiro comercial.

O Brasil se preparou e rompeu com a institucionalidade econômica até em voga, elegeu um salvador da pátria, sem legitimidade democrática e totalmente contrário a um sentido viável de coletividade. Com Bolsonaro o tecido social brasileiro se dilacerou ainda mais, por sua latente ignorância e pouca fé nas inovações democráticas.

Além da queda o coice, os ultraliberais tupiniquins não acreditavam nas políticas fiscais expansivas como fator de alavancagem da economia através dos gastos públicos como fator de aumento dos investimentos em infraestrutura. A mão invisível do mercado não tem preocupação com a distribuição de renda e riqueza. Esta deve ser uma preocupação do Estado e deve ser feita quando este se utiliza dos sistemas fiscais. A política cambial no Brasil se mostrou madrasta para com os retroliberais adoradores da economia de cassino. A diminuição da taxa básica de juros (Selic) espantou o capital especulativo e o dólar continuou disparando.

Restou para estes operadores, o malfadado e deslocado instrumento de política monetária que torrou já mais de 10% de nossas reservas, leiloando dólares no mercado, tudo em vão. Não quero aqui contribuir para desmerecimento da importância das políticas monetárias, como nos ensina a macroeconomia, até porque no pós-crise do Covid-19 ela ganhará com certeza a sua importância, como nas lições de boa objetividade da teoria econômica.

Mas, relembrando o Otto Lara Resende: o brasileiro só é solidário no câncer. Que ao menos a pandemia do Covid-19 sirva de bom pretexto para mitigar a péssima distribuição da renda nacional.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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