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Economista

Acilino Madeira

Economista

As perspectivas econômicas globais do FMI para 2022

Foto: DivulgaçãoFMI e Bolsonaro

 

No dia 17 de dezembro de 2021, a grande imprensa nacional noticiou o fechamento do escritório do Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciado, um dia antes, pela própria instituição para 30 de junho deste ano. A partir dessa data, o governo brasileiro passará a comunicar-se com o FMI apenas por meio de contatos com a sede, em Washington, nos Estados Unidos (EUA). Não obstante, muito contribuiu para esta tomada de decisão, a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, informando que tinha assinado o documento para encerrar a cooperação entre o governo brasileiro e o FMI.

Em ataques constantes às agências multilaterais, o governo Bolsonaro considera que a representação do FMI no Brasil, e que já vem desde 1999, tornou-se obsoleta. Em arroubos antidiplomáticos, o Executivo Federal desconsidera a importância do FMI como uma organização internacional criada em 1944 na Conferência de Bretton Woods com o objetivo, inicial, de ajudar na reconstrução do sistema monetário internacional no período pós-Segunda Guerra Mundial

Pouco mais de um mês depois, nesta última terça-feira (25.01.2022), alinhado às expectativas do mercado financeiro, o fundo agora projeta, no relatório "World Economic Outlook", uma alta de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) do país para este ano. Três meses atrás, a previsão era bem mais otimista: alta de 1,5%.

As perspectivas do FMI para a economia global em 2022 não são nada alvissareiras, as condições para o crescimento econômico se iniciam em situações débeis. O avanço de novas variações da covid-19, como a ômicron, faz com que internacionalmente haja restrições à mobilidade. Acrescido ainda do aumento dos preços de energias e os problemas na cadeia de suprimento, que resultam em taxas de inflação mais elevadas do que as esperadas. O FMI rebaixou as estimativas de crescimento global para 2022, a exemplo da redução na expectativa do PIB dos EUA e da China.

No comparativo EUA – China – Brasil, para 2022 o crescimento do PIB será de 4,0%, 4,8% e 0,3%, respectivamente. Para 2023, a proporção (para os referidos países) é de 2,6%, 5,2% e 1,6%. Em 2022, a situação de crescimento do Brasil é a pior dentre as principais economias. Em 2023, nossa situação não melhora muito, em crescimento do PIB só superamos a combalida economia da África do Sul.

Na contramão do que pensa o governo brasileiro, a estimativa de melhora global depende da melhoria também da situação da pandemia, carecendo, portanto, de maiores taxas de vacinação no mundo e tratamentos mais eficazes. Contudo, há riscos ao crescimento da economia global, haja vista o surgimento de novas variantes da covid-19, prologando a pandemia e induzindo novas perturbações econômicas.

O relatório do FMI entende as perturbações econômicas como sendo o resultado das adversidades nas cadeias de suprimentos, volatilidade nos preços das energias (conta a alta no preço do petróleo) e as pressões localizadas sobre salários, tratando-se, por conseguinte da incerteza ao redor da inflação e das políticas monetárias de elevação dos juros.

Na visão do FMI, existem outros riscos que podem se cristalizar conforme a manutenção em alta das tensões geopolíticas e a emergência climática em curso que tem a probabilidade de produzir grandes desastres naturais.

As previsões nada animadoras do FMI para a economia global e o crescimento previsto do PIB brasileiro rondando em torno de zero (para 2022) opõe-se ao convite que o país recebeu, no atual momento, para ingressar no seleto grupo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formado por 38 (trinta e oito) maiores economias do mundo, com sede em Paris (França). Como juntar multilateralismo e cooperativismo com bolsonarismo é a grande questão. Mas, isto é assunto para outro artigo.

  

  

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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