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Jornalista

Sérgio Fontenele

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A naturalização do racismo e fascismo no Brasil

Foto: google imagensDeputado bolsonarista atacou mostra sobre racismo
Deputado bolsonarista atacou mostra sobre racismo

Os episódios mais recentes de racismo e fascismo combinados, nas esferas do poder público brasileiro, confirmam que a sociedade encontra-se inerte diante do absurdo que se anuncia. Após décadas de avanços no combate à discriminação racial e na promoção dos direitos civis, um retrocesso civilizatório está em curso. Deixa perplexo quem acompanha com olhar crítico o desenrolar desse processo. A extrema direita que chegou ao poder hoje se manifesta sem nenhum pudor, nas redes sociais, ruas e nos palácios.

A massa desinformada não percebe a gravidade da situação, o que permite o avanço de tais movimentos extremistas, elitistas em sua grande maioria, mas com crescente capacidade de capilaridade. Ou seja, até mesmo indivíduos e movimentos da parcela da população menos favorecida parecem aderir às ideias desse neofascismo tropical. Isso se alastra por todo o território nacional e prolifera, sob o clássico imaginário coletivo de tolerância racial associado ao País, com samba, pagode, música sertaneja e muita cerveja.

Enquanto os brasileiros celebram a “vida” e seu próprio “jeitinho”, no sentido pior ou melhor de tal conceito, a barbárie se espalha, através do genocídio dos negros nos guetos e nas favelas. Na outra ponta, desponta o culto ao ódio como ideal sociocultural. Da mesma forma que a violência foi naturalizada, o racismo tem sido cultivado por setores conservadores, mesmo diante da musculatura conquistada pelos movimentos negros. Há, portanto, um choque civilizatório em curso, cujo desfecho é de difícil previsão.

Vandalismo no baixo clero

O contexto ajuda a explicar o ato de vandalismo do obscuro deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), que destruiu uma charge do cartunista Carlos Latuff, no espaço de exposições culturais da Câmara dos Deputados. O representante do baixo clero da Câmara Federal conseguiu a notoriedade que buscava, ao destruir uma das peças da mostra “(Re)existir no Brasil: Trajetórias Negras Brasileiras”, por ocasião da Dia da Consciência Negra. A obra destruída pelo parlamentar bolsonarista retrata um negro assassinado por um policial militar.

Na charge de Latuff, o homem assassinado pelo agente do estado veste camisa estampada com a bandeira do Brasil. Em defesa do Coronel Tadeu, chamou a atenção a atitude do colega Daniel Silveira (PSL-RJ) – aquele que quebrou a placa de rua em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. Silveira usou a tribuna da Câmara Federal para enaltecer o ataque à exposição afirmativa da consciência negra. Ambos cometeram atos públicos e declarados de racismo, quebraram o decoro e deveriam ser cassados.

Mas é provável que nada aconteça em termos de punição aos dois bolsonaristas, ainda que deputados do PSOL, PCdoB, PT e PSB tenham protocolado representação na Procuradoria Geral da República. Tadeu e Silveira foram denunciados por crime de racismo. Segundo os parlamentares de esquerda, “é inaceitável, no Estado Democrático de Direito, que o racismo seja proclamado, abertamente, nas tribunas e nos corredores da Câmara dos Deputados”. Enquanto isso, querem homenagear o ditador sanguinário do Chile, Augusto Pinochet...

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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