Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

A antropologia da pornografia

Foto: DivulgaçãoPorno

A Antropologia estuda o homem nas dimensões biológica, social e cultural. A pornografia é uma indústria do entretenimento que lucra bilhões, explorando o erotismo e as práticas sexuais, com apologia à vícios e torpezas humanas, para satisfazer os desejos e os prazeres efêmeros, em detrimento de uma consciência sobre a ética privada e a sexualidade.

Antropologicamente, o estudo etnográfico da pornografia enseja a compreensão do processo sociocultural de mercadorização dos corpos e das práticas sexuais, para lucrar com o voyeurismo – uma desordem sexual que consiste na observação de uma pessoa no ato de se despir, nua ou realizando atos sexuais e que, no caso, se sabe observada.

Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1970) a etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo”. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”.

Segundo estimativas da professora de sociologia da Universidade do Novo México, Kassia Wosick, a indústria da pornografia arrecada quase 100 bilhões de dólares (algo como 20 programas do Bolsa Família, para 14 milhões de lares). A produção pornográfica supera em números a indústria cinematográfica de Hollywood. Estima-se os seus lucros em aproximadamente U$ 15 bilhões de dólares anuais.

Os meus estudos bibliográficos, empíricos e etnográficos sobre a “indústria pornô” mostram que, apenas um site de compartilhamento de material pornográfico recebe mais de 30 bilhões de visitas anuais. No livro “Os Custos Sociais da Pornografia (2010)”, as pesquisadoras Mary Ebersadt, da Hoover Institution, e Mary Anne Layden, da Universidade da Pensilvânia, revelam que a influência e o poder econômico da indústria pornográfica, hoje, superando gigantes como Netflix, NBA ou NFL. Ou seja, as máquinas de ganhar dinheiro, também, se tornaram máquinas de propaganda.

Para Rose Brugger (2018), no artigo “A pornografia alimenta o turismo sexual?”, “[...] Tanto a prostituição quanto a pornografia ensinam que o sexo é apenas uma transação monetária, focada em partes do corpo e facilitada pelo consentimento”. Na verdade, trata-se de disseminar uma cultura pop sexualmente permissiva no mundo.

Assim, o voyeurismo dos filmes pornográficos introjeta a vulgaridade sexual na mente do voyeur, estimulando comportamentos distorcidos no ato sexual e uma nova forma de objetificar os corpos. Mary Anne Layden (2018) afirma que, “[...] a pornografia revela várias condutas e atitudes negativas relacionadas com seu uso. [...] ensina e permite essas condutas e atitudes negativas, além de servir de gatilho para elas. Seus danos são observáveis em homens, mulheres, crianças e em adultos casados e solteiros, acarretando comportamentos patológicos, ilegais ou ambos”.

Antropologicamente, não se trata de um tema que se restrinja à moralidade sexual da vida privada, mas de um comportamento socioeconômico que se chama de “externalidades negativas”. As pesquisas apontam que a pornografia tem impactos significativos no cérebro e nos afetos, danificando a formação da personalidade. E parte de seus custos recai sobre quem não faz uso de material pornográfico, exigindo uma abordagem sobre a ética privada e, também, em termos de políticas públicas. O consumo de pornô é o lado sombra de milhares.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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