"Silas Malafaia é uma figura execrável", diz Ciro Nogueira
O senador e presidente do PP perdeu a linha com o pastor carioca após ataques contra o ex-presidente Jair Bolsonaro
Fórum - Após o término do primeiro turno das eleições de 2024, o pastor Silas Malafaia deu uma série de entrevistas nas quais atacou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o criticou por não ter entrado de cabeça na disputa pela prefeitura de São Paulo, classificando-o como "covarde".
As declarações de Malafaia continuam a produzir reações em diversos personagens da direita e da extrema direita. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, relativizou os ataques do pastor carioca e disse que o momento pede união.
Porém, o senador Ciro Nogueira (PP) não gostou nada dos ataques de Malafaia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, partiu para o ataque e afirmou que o líder religioso é "uma figura execrável".
"O erro [de Bolsonaro] é ele aceitar essas figuras como Silas Malafaia, que é uma figura completamente execrável, que não lidera nada. Aí isso dá uma repercussão, coloca ele na frente de uma manifestação de milhões, como se ele fosse um grande líder. Ele não é líder de coisa nenhuma. É um pastor líder de internet, que não tem nem igreja representativa no país", disparou Ciro Nogueira em entrevista ao UOL.
Em outro momento, Ciro Nogueira afirma que Malafaia "é desleal". "Ele coloca essa pessoa do lado e essa pessoa vai criticar dessa forma desleal, revelando conversa de telefone. É uma pessoa desleal, eu quero distância dessa figura", disse.
"Porcaria, covarde, omisso": Malafaia detona Bolsonaro
Vivendo uma crise de megalomania - mesma obsessão que acusou Pablo Marçal (PRTB) -, Silas Malafaia partiu para cima e detonou seu pupilo Jair Bolsonaro (PL) por ter ficado "em cima do muro" no primeiro turno das eleições em São Paulo e, assim, deixar com que o ex-coach rachasse a ultradireita, especialmente a horda radical aliada a ele.
Em longa entrevista a Monica Bergamo, na edição desta terça-feira (8) da Folha de S.Paulo, o "guru" destilou palavrões para atacar Bolsonaro e afirmou que entrará "de cabeça" na candidatura à Presidência de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), que ficou ao lado de Ricardo Nunes (MDB) e vem sendo cortejado pela mídia neoliberal e o sistema financeiro como "terceira via" para enfrentar Lula.
"Bolsonaro seguir inelegível é uma vergonha, politicagem pura. Mas, se isso acontecer, eu entro de cabeça para apoiar Tarcísio. Eu tinha algumas dúvidas sobre ele, mas caíram todas nestas eleições. Líder é atitude. Ele mostrou que é um cara de caráter, e que não tem medo", disse Malafaia após regurgitar uma série de impropérios contra o ex-presidente.
O pastor midiático acusou o ex-presidente de emitir "sinais dúbios" nas eleições de São Paulo, empurrando uma parcela do eleitorado e de pastores para o colo de Marçal. E credita a ele próprio - não ao erro crasso com o laudo fajuto sobre Guilherme Boulos (PSOL) às vésperas da votação - a derrota do candidato do PRTB.
"O eleitorado se dividiu porque Bolsonaro não desmascarou Pablo Marçal. Quem fez isso fui eu, querida", disse à jornalista. "Bolsonaro não entra em confronto quando as redes sociais estão dizendo uma coisa com força. Ele foi omisso por causa disso, e por medo de o Pablo Marçal vencer e ele ser derrotado", explicou em seguida.
Logo no início da entrevista, Malafaia afirmou que teve duas alegrias - Tarcísio e Gustavo Gayer (PL-GO), que seguiu sua orientação e mudou de posição em relação a Marçal após o laudo fajuto - e quatro decepções.
Após listar como decepções a postura de Magno Malta (PL-ES), Marco Feliciano (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre o fator Marçal, Malafaia não titubeou ao dizer qual foi a maior delas.
"Agora vamos para a maior decepção: Jair Messias Bolsonaro", disse, com todas as letras.
Omisso, covarde e porcaria
A partir daí, Malafaia começou os xingamentos a Bolsonaro pelo posicionamento do ex-presidente na eleição em Curitiba, onde deixou a nova Cristina Graeml (PMB) usar o seu nome contra Eduardo Pimentelm candidato do PSD apoiado pelo PL. Os dois farão o segundo turno na capital paranaense.
Mas, o grande ódio de Malafaia se deu justamente na omissão de Bolsonaro na eleição paulista, permitindo que o ex-coach rachasse a ultradireita e criasse problemas para o próprio nicho bolsonarista.
"Um político é reconhecido por seus posicionamentos. Qual foi a sinalização que o Bolsonaro passou? 'Eu não sou confiável em meus apoios políticos'. Quem vai fazer aliança com um cara que não é confiável? O que ele fez em São Paulo e no Paraná foi uma vergonha", iniciou.
Em seguida, Malafaia diz que nos últimos 15 dias mandou uma série de mensagens via WhatsApp - "eu bati em Bolsonaro com tanta força no "zap" - mostrando, segundo ele, "a verdade" sobre Marçal, mas afirmou que o ex-presidente ficou em silêncio.
"Ele [Bolsonaro] não é criança. Sabe o que ele fez [na eleição de SP]? Jogou para os dois lados. Eu desafio: entra nas redes de Bolsonaro e dos filhos dele. Não tem uma palavra sobre a eleição de São Paulo. É como se ela não existisse. Que porcaria de líder é esse?", indagou.
Em seguida, perguntado sobre qual líder Bolsonaro foi nas eleições, Malafaia retomou os xingamentos.
"Covarde, omisso, que se baseia em redes sociais e não quer se comprometer. Fica em cima do muro. Para ficar bem sabe com quem? Com seguidores [de redes sociais]. Que político é esse, meu Deus? Que tem que estar onde o povo quer?", destilou.
Choro
Malafaia ainda expôs uma situação vexatória de Bolsonaro, dizendo que o ex-presidente o ligou em prantos com medo de ser preso durante a operação da Polícia Federal na casa dele em Mambucaba, no litoral fluminense, em janeiro deste ano.
Ao dizer o motivo de Bolsonaro não tê-lo bloqueado nas redes durante as eleições, com a série de mensagens sobre Marçal, Malafaia revelou o episódio.
"Ele estava chorando depressivo [na casa de praia que tem] em Mambucaba [em Angra dos Reis, no Rio], perto de ser preso. Liguei pra ele e falei: 'Vai ficar chorando aí? Vamos para a rua, cara!'. Ele chorou por cinco minutos comigo no telefone antes de abrir a boca, no visor", disparou.
Segundo Malafaia, Bolsonaro "estava depressivo porque as pessoas em volta dele foram todas presas. Estava angustiado".
"Então ele me respeita. Quem defendeu esse cara diante do ministro Alexandre de Moraes? Agora, eu o questionei durissimamente [na campanha]. Mandei mais de 30 'zaps' para ele. Mais de 30! E não era 'zap' de brincadeira, não", emendou.
Em silêncio, Bolsonaro então teria reclamado com "um deputado da minha igreja e disse: 'o seu pastor está me ofendendo'".
"Ele tem o direito de errar. Mas foi uma decepção, de qualquer forma. E não estou falando nada para você que não tenha dito a ele. Eu seria um covarde", emendou.
Fator Marçal
Malafaia ainda explicou o motivo de "abominar" Pablo Marçal, com quem já posou para foto e deu conselhos em 2022. E cita, entre outros, o laudo falso contra Boulos.
"É um cara psicopata, mentiroso e que usa técnicas de manipulação. Tem uma inteligência e um carisma fora da curva, que é a marca dos psicopatas. Como um cara que debochou da cadeirada [de Datena], programou um soco no Duda [Lima, marqueteiro de Ricardo Nunes agredido por um assessor de Marçal], inventa que líderes evangélicos o apoiam e divulga um documento médico falso ainda tem 1,7 milhão de votos [no primeiro turno das eleições em SP]? É para a gente analisar. Como é que pode?", indaga novamente.
Malafaia ainda afirma que alertou Bolsonaro que Marçal só teria "ganância e ambição" e que iria "dividir a direita, vai levar metade do voto evangélico" - como se concretizou em parte.
"E você está assistindo a tudo isso calado?", teria perguntado a Bolsonaro.
"Ele não é mais uma ameaça porque foi desmascarado. E, se ele vier, Bolsonaro não vai mais poder ficar em cima de muro. Vai ter que partir para o confronto. Marçal ontem mesmo falou que é candidato a governador ou a presidente. Se der um pau entre Bolsonaro e Marçal, a turma da direita vai ter que fazer uma escolha. Tirando os recalcados, como [o deputado federal Ricardo] Salles, a maioria vai ficar com Bolsonaro", emendou.
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