Sebastião Salgado morre aos 81 anos em Paris
Ele era mineiro de Aimorés

Sebastião Salgado, um dos fotógrafos mais importantes e respeitados do mundo, morreu nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, em Paris, onde viveu boa parte de sua trajetória profissional. A causa da morte foram complicações decorrentes de uma malária contraída na década de 1990. A informação foi confirmada pelo Instituto Terra, organização fundada por ele e sua esposa, Lélia Deluiz Wanick Salgado.
Nascido em Aimorés, no interior de Minas Gerais, em 1944, Salgado formou-se em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e iniciou carreira como economista, mas abandonou a profissão no início dos anos 1970, ao descobrir sua vocação pela fotografia. A partir de 1973, construiu uma trajetória marcada por projetos de longa duração que abordaram temas sociais, humanitários e ambientais, sempre com um olhar empático e esteticamente impecável.
Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, Salgado fotografou em mais de 120 países, registrando trabalhadores, refugiados, populações indígenas e a relação entre o homem e a natureza. Entre suas obras mais emblemáticas estão os livros “Trabalhadores” (1993), “Êxodos” (2000) e “Gênesis” (2013), que consolidaram sua reputação internacional como um dos grandes nomes do fotojornalismo.
Sua lente foi testemunha de eventos históricos, como a Revolução dos Cravos, em Portugal, e suas imagens se tornaram referência mundial na documentação das contradições e das belezas da condição humana. Membro da prestigiada agência Magnum Photos e colaborador de outras importantes agências europeias, como Gamma e Sygma, Salgado sempre combinou rigor técnico, sensibilidade estética e profundo compromisso social.
Além da fotografia, dedicou-se à causa ambiental. Em 1998, ao lado de Lélia, fundou o Instituto Terra, dedicado à recuperação da Mata Atlântica no Vale do Rio Doce, região de sua infância. O projeto transformou áreas devastadas em florestas regeneradas, tornando-se referência global em restauração ambiental.
Em nota, o Instituto Terra destacou: “Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora.”
Sua trajetória foi retratada no premiado documentário “O Sal da Terra” (2014), codirigido por Wim Wenders e por seu filho, Juliano Ribeiro Salgado. O filme recebeu diversos prêmios internacionais, foi exibido no Festival de Cannes e indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2015, ampliando ainda mais o reconhecimento de sua obra para além do universo da fotografia.
Salgado foi também Embaixador da Boa Vontade da Unicef e recebeu inúmeras honrarias, como a Medalha do Centenário da Royal Photographic Society, a comenda da Ordem do Rio Branco e a nomeação para instituições como a Academia de Belas-Artes de Paris e a American Academy of Arts and Letters, nos Estados Unidos.
Para ele, a fotografia era mais do que arte: “A fotografia é o espelho da sociedade”, afirmou ao ser homenageado em Londres. Sua visão sobre o ofício sempre esteve ligada à militância, como forma de sensibilizar o mundo para a dor, a resistência e a beleza da vida humana e do planeta.
Sebastião Salgado deixa dois filhos e um legado monumental — de imagens, ações e ideias — que seguem inspirando fotógrafos, ambientalistas e humanistas em todo o mundo.
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