Se a igreja segrega, se constrói outra
Por Francisco de Assis Alves de Oliveira, historiador
A Igreja de São Francisco, situada a Rua Hugo Napoleão, em José de Freitas-PI foi construída em resposta a práticas de segregação racial na igreja de Nossa Senhora do Livramento. Construção iniciada em 7 de julho de 1942 e concluída, no dia 17 de julho de 1943. Uma obra de responsabilidade do construtor E.C. Domingos F. Castelo Branco.
Os bancos laterais ao lado do altar da igreja Nossa Senhora do Livramento eram reservados para pessoas ricas e brancas. Segundo a tradição oral da cidade, por volta dos séculos XVIII e XIX os negros que moravam em José de Freitas, não podiam frequentar as dependências internas, em especial sentar nos bancos laterais ao lado do altar-mor da Igreja. Uma vez que, esses lugares eram reservados para pessoas ricas e brancas. A proibição dos negros de acessarem o interior da igreja era muito comum no Brasil colonial até o império, porque os negros para a religião católica não tinham alma, não era considerados gente, pessoa humana. O lugar ocupado pelo negro era o de escravo e a escravidão roubava-lhe o direito ser cristão e frequentar a igreja.
Devido a proibição de pessoas de cor preta assistirem as missas próximo ao presbitério, Cândida de Figueiredo Cunha; uma senhora muito rica de José de Freitas contratou um construtor, para edificar a Igreja de São Francisco como propriedade particular da família. Mesmo sendo muita rica, tinha a cor preta e não podia ter acesso aos locais tidos como privilegiados, ao lado do altar. No dia 7 de junho de 1942 teve início a construção da majestosa igreja de São Francisco em homenagem a seu pai Francisco Ivo da Cunha; que tinha sido vítima de segregação racial na igreja de Nossa Senhora do Livramento. Sobre isso falou Jacob Sampaio Almendra Filho em um curto artigo publicado no portal Jfagora.com:
“Durou mais de ano a construção da Igreja de São Francisco em José de Freitas, fato interessante é que o templo foi construído com duas hipóteses: Devoção e descriminação [Discriminação]. Devoção: Por ser devota de São Francisco a senhora [Cândida Figueiredo Cunha] que determinou a construção da Igreja em homenagem ao santo e ao seu pai que levava o nome do mesmo. Descriminação: Nos Séculos passados, a igreja não permitia que pessoas de cor participasse das missas e outras solenidades próximos do presbitério, mas somente gente branca e rica. Sendo pessoa de grande patrimônio financeiro, resolveu edificar a Igreja de São Francisco, para poder participar das solenidades próximo ao presbitério. A lamentação maior, é que após a construção do templo seu Pai já tinha falecido e não pode participar das solenidades.
A fonte é da mais alta confiança, Jacob Sampaio Almendra Filho trata-se de um cidadão nascido em 23 de fevereiro de 1954, que descende da tradicional família Almendra, de José de Freitas, é servidor público federal e foi vereador no município. Sua memória carrega acontecimentos reais da história da cidade. Portanto, acredita -se que esteja expressando a verdade dos fatos que passaram a permear o imaginário coletiva dos freitenses.
Na igreja de Nossa Senhora do Livramento, as demais pessoas de cor branca e de pouca condição financeira sentavam nos bancos à frente. Os negros nem dentro da igreja entravam, porque não eram considerados seres humanas.
O acesso dos negros à parte interna da igreja de Nossa Senhora do Livramento, passou a ser permitido mas eles assistiam as cerimonias religiosas em pé, escorado nas paredes. Não sentavam nos bancos por medo, receio de serem chamados atenção e convidados a levantar, para dar lugar a outras pessoas de influência na sociedade freitense.
Em conversas espontâneas, contou- me o professor Zito Cruz, que os bancos ficavam vazios e eles (pobres e negros) só olhando, com vontade de sentar. Além dos assentos dentro da Igreja, as mesas na área social também eram reservadas, para as famílias ricas e tradicionais. Isso por ocasião dos festejos de Nossa Senhora do Livramento. Não bastava ser rica, para ter acesso aos assentos próximo ao altar-mor, tinha que ser branca e de família tradicional. Quem acabou com essa tradição de reserva de mesa para famílias foi o Padre Brasil, por volta de 1988, finaliza ele.
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