Mulher

REPRESENTAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA: a importância do debate democrático

Artigo divulgado por Yamona Gaspar, estudante de Direito

  • sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Foto: Urbanitários DFxx

 

Por Yamona Gaspar 

Estamos em 2020 e passamos por um fenômeno histórico. Uma pandemia que parou o mundo e que nenhuma tecnologia ou ciência até agora pôde controlar. Ao mesmo tempo em que a pandemia mostra como todos somos susceptíveis, ela mostra de maneira clara as falhas e os progressos políticos dos países e seus governantes. Podemos perguntar o porquê de, em julho de 2020, no Brasil, governado por um homem, mais de 100 mil pessoas já morreram e muitas cidades tardaram a seguir medidas de isolamento social, enquanto na Nova Zelândia (país comandado por uma mulher) é decretado completo Lockdown após o surgimento de 4 novos casos?

Enquanto no Brasil vivemos o ápice da pandemia, da demonstração das desigualdades sociais, raciais, de gênero e um completo desgoverno na administração pública, que não possui a seriedade necessária para tomar posições eficientes contra a Covid-19, na Europa temos Ângela Merkel como a líder de Estado apontada na Europa como a “campeã” no combate a doença.

Não temos mais como usar o argumento de que nossas conquistas femininas no Brasil são recentes e, por isso, as mulheres seguem a agenda de sub-representatividade em todas as esferas do mundo político. Nos cargos legislativos e executivos no país, apesar de apresentarmos 51% da população brasileira, as mulheres governam apenas 12% dos cargos disponíveis.

A sociedade brasileira é patriarcal desde sua colonização e essa realidade deve ser mudada todos os dias, ao invés de justificada e aceitada.  As mulheres não tem apoio às suas imagens políticas em todos os âmbitos da sua vida. As poucas que se arriscam as carreiras públicas enfrentam grandes desafios, como: falta de apoio do próprio partido, assédio moral, falta de respeito e desdém para com suas falas e posicionamentos, além da imposição de dificuldades para o acesso ao fundo eleitoral.

Além disso, as mulheres possuem as piores assessorias e as piores campanhas, menos tempo na TV, menos dinheiro liberado pra campanha, menos visibilidade. A ideia de que espaços políticos são locais masculinos precisa ser destruída. Num país como o nosso certamente as políticas públicas (embora tenham avançado significativamente ao longo dos anos) ainda estão muito distantes de alcançarem a paridade entre homens e mulheres em qualquer das esferas sociais. No setor privado, as mulheres continuam a receber menos mesmo exercendo as mesmas funções.

Criado sem financiamento por jovens gestoras da USP, o Curso de Formação Mulheres na Política, que possuía 60 vagas, teve mais de 700 inscrições de mulheres de SP e dos municípios próximos. Há interesse da mulher na política, há a vontade de participação e de representação feminina. Em São Paulo, hoje, no transporte metroviário, há um vagão específico para mulheres. Isso veio de uma lei, feita por uma mulher, diante dos mais variados casos de violência que sofrem as mulheres. E sabemos que não é apenas em SP. Todos os anos há diversas pesquisas que indicam altos índices de violência contra a mulher, principalmente doméstica. Uma mulher que não é respeitada e apoiada na sua própria casa precisa de muito mais que “força de vontade” para chegar aos cargos públicos. A romantização da figura feminina como mãe, dona de casa e, em terceiro e último lugar, trabalhadora, também é um dos fatores que afastam as mulheres dos espações públicos. Mais de 20h semanais são dedicadas apenas a afazeres domésticos, o que também já mostra que, nem em casa, há igualdade de relações entre homens e mulheres.

A responsabilidade pela igualdade e pela ocupação das mulheres nos espaços de poder público não é individual. Precisamos de políticas públicas, precisamos do Estado, das Mulheres Organizadas, dos Movimentos Sociais e dos Partidos Políticos para construirmos essa paridade.

O Partido dos Trabalhadores (PT), criou em 2018 o Projeto Elas por Elas, que capacitou mulheres de todos os estados do Brasil para acompanhar as candidaturas femininas espalhadas pelo país. O objetivo do projeto é garantir as candidatas mulheres tudo que já é seu por direito, mas, que muitas vezes, é deturpado ou não comunicado. Por meio de assessorias de comunicação, direito, contabilidade, marketing e políticas internas o Elas por Elas vem obtendo resultados e conseguindo incluir mais mulheres nos processos de disputa interna do partido e também nos processos eleitorais, com o aumento das candidaturas femininas em comparação com os anos eleitorais anteriores.

Assim como o PT, vários outros partidos deveriam tomar iniciativas como essa, e garantir a participação ativa das mulheres nos assuntos externos e internos dos partidos. Divulgar os trabalhos dessas mulheres e apoiar suas propostas e convicções.

Por fim, precisamos incentivar o interesse das mulheres na sociedade e na política. Nossas mães, vós, filhas e netas. É importante que haja comunicação sobre a importância da igualdade de gênero em todos os aspectos da vida da mulher, além de mostrar-lhes que toda e qualquer violência ou falta de respeito é inaceitável. Seja na sua própria casa ou no Palácio do Planalto a mulher tem de ser respeitada e ouvida, nas suas posições de mulheres, antes de qualquer cargo ou profissão. Mulheres merecem respeito porque são mulheres.

Hoje, não há mais desculpas para aceitarmos imposições sociais de épocas remotas. Vivemos a era da tecnologia, da informação e da garantia de direitos. Exigir igualdade entre homens e mulheres nos espaços legislativos e executivos da administração pública é garantir a representatividade de mais da metade da população do nosso país.

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