Política

Rachadinha? Michelle deve virar alvo da PF

Ex-primeira-dama ficará fora do indiciamento no caso do furto das joias, mas PF diz ter provas sobre esquema de corrupção com cartão corporativo, que teria sido usado até para pagar novo implante de silicone por Michelle.


Reprodução Rachadinha? Michelle deve virar alvo da PF
Michelle Bolsonaro

Após o indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) nas próximas semanas como um dos líderes da organização criminosa que furtou e vendeu joias do acervo da Presidência da República nos Estados Unidos, a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro deve entrar na mira da Polícia Federal (PF).

Michelle não deve ser indiciada como membro da OrCrim sobre as joias, mas agentes da PF já teriam decidido enviar um pedido ao Supremo Tribunal Federal (PF) para abrir nova investigações a partir da delação do tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Uma delas terá como alvo a ex-primeira-dama, segundo informações de Guilherme Amado neste sábado (22) no portal Metrópoles.

A investigação teria como foco o pagamento por meio do cartão corporativo da Presidência de despesas pessoais da ex-primeira-dama, segundo o jornalista.

Segundo a PF, há provas de que Michelle usou o cartão da Presidência para pagar contas pessoais e até procedimentos estéticos, além de quitar contas de parentes com o cartão.

Em 2023, uma série de denúncias foi feita sobre o uso do cartão corporativo por Michelle, que usava também um esquema similar aos casos de corrupção das "rachadinhas" - investigados nos gabinetes de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Alerj e de Carlos Bolsonaro (PL-RJ, na Câmara Municipal do Rio.

O pente-fino feito nas contas mostra que a esposa de Bolsonaro teria usado o cartão corporativo até mesmo para colocar novos implantes nos seios.

Após a informação vir à tona, Michelle foi às redes sociais e, por meio de um storie no Instagram, reagiu com ironia. 

Na publicação, a ex-primeira-dama mostra caixas supostamente com comprovantes de todas as suas despesas pessoais durante o mandato de seu marido com o intuito de rebater as acusações.

"Todos os meus comprovantes de compras pessoais. Feitas em 4 anos de governo. Devidamente arquivado. Só não tem o da troca de silicone porque meu médico não cobrou", ironizou, adicionando, ainda, que convidaria um jornalista para um "café" em breve na sua casa, se referindo a Rodrigo Rangel, do site Metrópoles, que fez a denúncia.

"Rachadinha"

Além do uso do cartão corporativo, a PF identificou por meio de quebra de sigilo das comunicações do tenente-coronel Mauro Cid um suposto esquema de corrupção que funcionava no entorno de Michelle, que usava dinheiro da União para pagar as contas feitas no cartão de uma amiga.

Os diálogos apontam a existência de uma orientação para o pagamento em dinheiro vivo de despesas da ex-primeira-dama.

De acordo com a PF, as conversas revelam a existência de uma "dinâmica sobre os depósitos em dinheiro para as contas de terceiros e a orientação de não deixar registros e impossibilidades de transferências".

A apuração concluiu que Michelle utilizava um cartão de crédito vinculado à conta da amiga Rosimary Cardoso Cordeiro, que era assessora parlamentar no Senado. A PF descobriu depósitos em dinheiro vivo para Rosimary com o objetivo de pagar as despesas com o cartão de crédito, tentando esconder a origem dos recursos.

Duas assessoras de Michelle, Cintia Borba Nogueira e Giselle dos Santos Carneiro da Silva, conversaram entre si e com Cid demonstrando preocupação sobre irregularidades no pagamento de despesas de Michelle.

No dia 30 de outubro de 2020, Cintia enviou um áudio a Giselle. “Então, hoje é essa situação do cartão realmente é um pouco preocupante. O que eu sugiro para você é o seguinte. No momento que você for despachar com ela, é esse assunto. Você pode falar com ela assim sutilmente, né? (...) Mas eu acho que você poderia falar assim: dona Michelle, que é que a senhora acha da gente fazer um cartão para a senhora? Um cartão independente da Caixa. Pra evitar que a gente fique na dependência da Rosy. E aí a gente pode controlar melhor aqui as contas. (...) Pode alertá-las o seguinte, que isso pode dar problema futuramente, se algum dia, Deus o livre, a imprensa descobre que ela é dependente da Rose, pode gerar algum problema”.

Giselle conversou com Mauro Cid. "Coronel, bom dia. Ontem eu conversei com a senhora Adriana para saber se ela tinha falado com a dona Michelle, né. Ela falou que conversou. Explicou, falou todos os problemas, preocupações, né. Mas então o resultado foi que a dona Michelle ficou pensativa. Segundo a dona Adriana, ficou pensativa, mas que vai continuar com o cartão. E ela falou que tem, tem os comprovantes assim, né? Que esse cartão já era bem antes do presidente ser eleito. Mas de qualquer maneira, a dona Adriana falou que ela ficou pensativa, né? Ontem mesmo já fizemos uma compra, mas foi em outro cartão. Então, eu estou vendo que realmente tá sendo de pouco uso o da Caixa. Mas por enquanto é isso. Obrigada, tchau".

Cid disse que a situação dos gastos de Michelle poderia ser alvo de investigações. "Giselle, mas ainda não é o ideal isso não, tá? O Cordeiro conversou com ela, tá, também. E ela ficou com a pulga atrás da orelha mesmo: tá, é? É. É a mesma coisa do Flávio. O problema não é quando! É como deputado, rachadinha, essas coisas", afirmou o homem de confiança do ex-presidente, em áudio enviado a Giselle, no dia 25 de novembro de 2020.

“Se ela perguntar pra você ou falar alguma coisa ou comentar, é importante ressaltar com ela que é o comprovante que ela tem. É um comprovante de depósito, é comprovante de pagamento. Não é um comprovante dela pagando nem do presidente pagando. Entendeu? É um comprovante que alguém tá pagando. Tanto que a gente saca o dinheiro e dá pra ela pagar ou sei lá quem paga ali. Então, não tem como comprovar que esse dinheiro efetivamente sai da conta do presidente. O Ministério Público, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio, vai dizer que tem uma assessora de um senador aliado do presidente, que está dando rachadinha, tá dando a parte do dinheiro para Michelle", acrescentou o coronel. 

"E isso sem contar a imprensa que quando a imprensa caiu de pau em cima, vai vender essa narrativa. Pode ser que nunca aconteça, pode? Mas pode ser que amanhã, um mês, um ano ou quando ele terminar o mandato dele, isso venha à tona", prosseguiu.

Em 4 de outubro de 2021, novo áudio foi enviado por Cintia e Giselle: “E sobre as flores da Patrícia Abravanel, ela falou que é para o Cid fazer o pagamento. Mas ele tinha me falado na semana passada que quando for esses pagamentos de terceiros, é pra gente pegar o dinheiro com ele e fazer o pagamento por aqui, tá? Então eu vou pedir para ele para sacar esse dinheiro e peço o Vanderlei para pegar lá para a gente fazer o... Vai ter que ser feito um depósito, né? No número daquela conta que você me passou, tá?”.

Osmar Crivelatti

Subordinado a Mauro Cid na Ajudância de Ordens, o também militar Osmar Crivelatti encaminhou um áudio a Giselle, em 8 e novembro de 2021. "Giselle, bom dia! É, é esse, esse pagamento, o coronel tinha passado para a gente, mas eu acho que esse banco digital a gente não consegue fazer pagamento. E transferência nós não podemos fazer. Então vê o que que nós podemos fazer. Se entregamos o dinheiro para vocês. Ou se você tem alguma outra conta, Banco do Brasil, alguma coisa que a gente possa fazer o depósito, tá bom Giselle? Bom dia aí, obrigado".

Giselle Carneiro enviou novo áudio para Cíntia e a uma pessoa de nome Vanderlei, em 30 de novembro de 2021. "Boa noite, Vand e Cintía. PD (Primeira-dama) falou, eu perguntei para ela se ela queria transferir Pix, né? Tanto para Bia. Daí ela falou: não, vamos fazer agora tudo depósito, que, aí pede pro Vanderlei fazer o depósito, a gente consegue o dinheiro e faz o depósito. Só que ela não falou como conseguiu o dinheiro, se o dinheiro está com ela, se a gente pega na AJO. Não falou, tá? Ela falou que assim não fica registrado nada, vamos fazer depósito. Então, a gente tem que começar a ter esse hábito do depósito, então, né?".

Com informações da Forum

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