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O que são bebês reborn e por que eles viraram fenômeno nas redes sociais

São bonecos ultrarrealistas confeccionados artesanalmente


Reprodução O que são bebês reborn e por que eles viraram fenômeno nas redes sociais
Eles foram criados originalmente nos Estados Unidos nos anos 1990

Eles têm aparência de recém-nascidos, roupas de bebê, peso semelhante ao de um humano real e chegam a ter até veias, rugas e texturas de pele. Mas não são crianças de verdade: são bonecos. Ou melhor, reborns — termo em inglês que significa “renascido” e dá nome a uma tendência que voltou aos holofotes com força nas redes sociais nas últimas semanas, embora esteja presente no Brasil há cerca de uma década.

Criados originalmente nos Estados Unidos nos anos 1990 como itens de colecionador, os bebês reborn são bonecos ultrarrealistas confeccionados artesanalmente. Vídeos que simulam partos ou mostram os bonecos sendo tratados como filhos despertaram curiosidade e polêmica, especialmente quando envolvem encenações intensas ou o uso de Inteligência Artificial para gerar movimentos.

O realismo impressiona, mas também levanta debates. Enquanto parte do público enxerga nos reborns uma forma de arte ou de coleção, outros questionam os limites entre ficção e realidade. Segundo especialistas, o uso desses bonecos pode, sim, ter funções terapêuticas — mas depende do contexto e do acompanhamento adequado.

“Existem vários objetos que podem ser utilizados simbolicamente para estimular aspectos da personalidade, da ludicidade e até do desenvolvimento cognitivo”, explica o psicanalista Davi Berciano Flores, mestre em psicologia clínica e pesquisador da USP. Para ele, o uso de bonecos pode beneficiar tanto crianças quanto idosos, e, em alguns casos, adultos, desde que haja critérios claros. “Um bebê reborn pode ser apenas um item de decoração ou chegar ao extremo de representar uma falsa ilusão de presença humana.”

A simbologia envolvida nos reborns é complexa. Parte do apelo vem justamente da possibilidade de ressignificar experiências. Há quem os adquira para usar em produções de cinema, vitrines de lojas de artigos infantis, ou simplesmente como peças de coleção. Outros os buscam como instrumento terapêutico, seja no enfrentamento de condições como autismo, ansiedade ou depressão. Ainda assim, especialistas alertam: os reborns não substituem acompanhamento psicológico profissional.

Embora crianças também se interessem, muitos adultos desistem da compra ao se deparar com os preços — os modelos mais simples custam a partir de R$ 2 mil — e com o cuidado que exigem. Feitos artesanalmente, os bonecos demandam manutenção frequente e são frágeis, o que os torna inadequados para brincadeiras tradicionais.

A arte por trás de um reborn

Produzir um bebê reborn é um processo meticuloso e demorado. Tudo começa com a compra de um “kit”, geralmente importado do Canadá ou Europa, que inclui cabeça, membros e tronco em vinil. O material passa por lavagens e recebe sucessivas camadas de tinta a óleo, fixadas em forno halógeno a cada aplicação, até que a pele adquira um aspecto realista. O processo pode levar até 45 dias.

O cabelo é aplicado fio a fio, com fibras naturais como mohair — originárias da Rússia ou Alemanha — ou, em alguns casos, fios sintéticos ou até cabelo humano. Depois, as peças são montadas e preenchidas com areia para artesanato e fibra siliconada, simulando o peso e a consistência de um bebê de verdade. Cada reborn é finalizado com uma camada de verniz e pode acompanhar certidão de nascimento simbólica, teste do pezinho e até ultrassom cenográfico.

Além do apuro técnico, outro desafio enfrentado por artistas da área está na diversidade dos modelos. Bonecos caucasianos são os mais procurados, enquanto a produção de reborns negros exige maior complexidade técnica, como criação de subtons e definição de veias sob a pele escura. Ainda assim, cresce a demanda por representatividade na arte reborn.

Entre o afeto e a polêmica

O fascínio que os bebês reborn despertam pode provocar reações extremas — do encantamento ao estranhamento. Na internet, o conteúdo relacionado a esses bonecos viraliza com facilidade, muitas vezes sem contexto ou com interpretações equivocadas sobre quem os consome. Há uma narrativa recorrente, por exemplo, de que eles seriam procurados por mulheres que perderam filhos ou enfrentam dificuldades emocionais. Embora esses casos existam, generalizações desse tipo simplificam uma prática que, para muitos, é antes de tudo uma forma de expressão artística e afetiva.

Na prática, os reborns ocupam múltiplos espaços: do ateliê à vitrine, da terapia à coleção. E, entre a polêmica e o encantamento, seguem desafiando os limites entre o real e o imaginário.

Com informações do correio24horas

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