Por Ana Cristina Guedes, jornalista, mestre em comunicação com fins sociais

"Star Wars – A Vingança dos Sith" é um dos melhores filmes da saga. Tem um roteiro fantástico e oferece lições valiosas nas sábias palavras do Mestre Yoda sobre Força, Poder, Medo e Amor, pela leitura e visão filosóficas diferenciadas dos Jedi e dos Sith sobre esses sentimentos. E eis que não resisti à comparação ao assistir à entrevista do senador Ciro Nogueira (PP), no Notícia da Manhã, TV Cidade Verde, nesta segunda-feira,21.

À apresentadora Nadja Rodrigues e ao repórter e comentarista Elivaldo Barbosa, Ciro falou sobre o desempenho do seu partido no estado e no Congresso, nas eleições de 2022 e sobre a CPI da Covid. Antes da entrevista, Elivaldo Barbosa fez um resumo da movimentação Piauí afora, no final de semana, dos dois principais partidos no estado: o PT, representado por Rafael Fonteles; e o Progressistas, representado pelo deputado Júlio Arcoverde.

Questionado sobre sua já lançada pré-candidatura ao governo do Estado, Ciro desconversou, disse que ainda é cedo para falar no assunto. Ora, um dia desses o próprio Ciro fez festa para lançar sua pré-candidatura e agora sai com essa, dizendo que só vai tratar do assunto no próximo ano. Coisas de política.

Mas o que isso tem a ver com o filme citado no início? Força e Poder, na política, são uma faca de dois gumes. E, como tal, podem ser essenciais no jogo político quando bem utilizados; quando não, expõem todas as fraquezas do político e podem significar sua derrocada. Só para situar o leitor, destaco alguns trechos da entrevista de Ciro Nogueira.

“Eu só não quero discutir política no Piauí com PCdoB, PSOL e PT”

“A CPI da Covid já demonstrou que não produziu nada para a população, que foi criada para embate político, foi focada em ataques ao governo”.

“O trabalho da CPI produz um relatório. Esse relatório é aprovado e se entrega para o Ministério Público, pra Polícia Federal, manda pra Câmara para abrir um impeachment. Esse relatório é totalmente desacreditado sem menor tipo de veracidade, nem vontade da maioria”.

“Não existe outra alternativa a não ser pegar esse relatório e jogar na lata do lixo”.

Pelas palavras de Ciro Nogueira, bem se vê a qualidade do debate político que temos hoje. Não me refiro ao Piauí apenas, mas ao Brasil de uma forma geral. E quando o debate político é pobre, pobre também fica a qualidade da cobertura política e a capacidade de análise da população sobre a importância da política e o papel do político para o Estado e para nós, cidadãos.

Esclareço que Ciro Nogueira aqui é apenas uma metáfora. De todo modo, as frases ditas por ele expõem também fraquezas que o senador deveria evitar mostrar em público. Mais do que queixa de adversário que já não se sente mais tão poderoso quanto antes, Ciro mostra uma profunda mágoa do governador Wellington Dias, em quem parece ter apostado todas as suas fichas e que agora, como um amigo traído, viu suas aspirações de ser alçado ao Executivo estadual serem minadas por outro.

Neste contexto, se encaixam duas frases que destaco de A Vingança dos Sith: "O medo da perda é um caminho sombrio" e "Todos que adquirem o Poder têm medo de perdê-lo". Não me atrevo aqui a julgar o potencial político de quem quer que seja nessa disputa de 2022, até porque muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte. Mas convém que Ciro, Rafael e quem mais entrar na disputa abram o olho. Cada um sabe dos esqueletos que têm no armário e sabe também que política não se faz apenas com alianças partidárias. Isso é importante? Lógico que é.

Mais importante, porém, é cultivar valores que a boa política deve (ou deveria) sempre colocar em primeiro plano – capacidade de gestão, diálogo construtivo e propósito. Porque talvez nunca a população tenha se sentido tão carente de bons representantes políticos como agora. E por pior que sejam os políticos, a essência da política é boa e é sobre isso que estamos falando aqui. E é também sobre isso que os interessados a ocupar a cadeira do governo deveriam ficar atentos.

O fato é que, sem entrar na discussão do bem contra o mal, eu recomendaria a Ciro, a Rafael e outros interessados em filosofia política a assistirem ao filme. Quem sabe ali, não encontrem uma orientação sobre como proceder nos próximos capítulos dessa novela: ou se posicionar como um Sith, cujas técnicas tendem a ser mais agressivas e destrutivas (inclusive para si mesmo); ou, como um Jedi, para quem o uso da Força deve ser de forma sensata e sábia, servindo para o conhecimento e para se defender, nunca para atacar.

Para encerrar, vai aqui outra passagem do filme. Bem no início, durante uma luta, Anakin ouve do Conde Dooku: “Você tem raiva, você tem ódio, mas não os usa a seu favor”. Tem-se aí o início na investida de despertar em Anakin o lado sombrio da força. Em todos os casos, como se diz no filme: “Que a força esteja com você”, seja você quem quer que seja.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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