Grupo da PF planejou prender Moraes e "matar meio mundo"
Perícia revela áudios do agente Wladimir Soares detalhando plano

Novos áudios obtidos e periciados pela Polícia Federal (PF), divulgados nesta quarta-feira (14) pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, expõem detalhes chocantes da trama golpista que tentou impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 para manter Jair Bolsonaro no poder. O agente da PF Wladimir Matos Soares, de 53 anos, revelou em gravações que integrava um grupo armado e preparado para prender ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com autorização para uso de força letal.
As gravações, que foram anexadas ao inquérito e deram base à denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), expõem a disposição do grupo para ações violentas e o descontentamento de Wladimir com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que teria "dado para trás" de última hora.
“A gente tava preparado para isso, inclusive. Para ir prender o Alexandre de Moraes”, diz o agente em um dos áudios periciados pela PF.
Em outra gravação, Wladimir afirma com clareza que ele e sua equipe estavam prontos para agir contra ministros do STF, especialmente contra Alexandre de Moraes:
"A gente tava preparado para isso, inclusive. Para ir prender o Alexandre de Moraes. Eu ia estar na equipe, ia botar para f** nesse f***, mas não é assim."
O policial detalha que o grupo aguardava apenas a autorização de Bolsonaro para executar a operação:
"A gente tava pronto, só que aí o presidente... Esperávamos só o ok do presidente, uma canetada para a gente agir. Só que o presidente deu para trás."
Disposição para violência extrema: “Matar meio mundo de gente”
As gravações mostram que a equipe não apenas planejava prisões, mas estava disposta a usar violência letal contra quem estivesse na frente:
"A gente ia com muita vontade, ia empurrar meio mundo de gente, pô, matar meio mundo de gente. Não ia estar nem aí."
Wladimir também expressou revolta com o Exército, afirmando que os generais "se venderam" ao governo Lula, o que teria comprometido o apoio militar esperado para a operação:
"Os generais foram lá e deram a última forma e disseram que não iam mais apoiar ele. Ou seja, foram... Na realidade, o PT pagou para eles, comprou esses generais."
Críticas a Bolsonaro: “Faltou um pulso para dizer ‘vamos com os coronéis’”
Em diversos áudios, o policial faz críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmando que ele perdeu a oportunidade de tomar uma atitude firme e derrubar a posse de Lula:
"Bolsonaro faltou um pulso para dizer: não tenho general, tenho coronel, vamos com os coronéis que a tropa toda queria. Só os generais que não deixaram."
Segundo Wladimir, Bolsonaro foi traído internamente e acabou recuando no momento decisivo:
"O presidente deu para trás... Esperávamos só o ok, mas não veio."
Ouça um trecho do áudio:
Comunicação e articulação interna na Polícia Federal
Os áudios também revelam conversas entre Wladimir e outros agentes da PF sobre a operação. Em um diálogo com um delegado, ele comenta o plano de prisão contra membros do STF e sugere a inclusão do interlocutor na equipe:
– Wladimir: "Se algum ministro do STF for preso, tu vai estar junto com a gente."
– Delegado (por escrito): "Grande Wladimir! Estaremos eu e você."
Além disso, há registros do clima de desespero e arrependimento no grupo após a posse de Lula, com Wladimir confessando:
"Minha vontade era chorar, meu estômago todo embrulhado. A vontade era chorar só."
Desmobilização do movimento golpista
Em áudios finais, o agente relata que o Exército começou a desmobilizar os acampamentos pró-Bolsonaro em Brasília, recomendando que as famílias deixassem o local para evitar confrontos:
"O Exército já está começando a tomar medidas, bloquear as vias, e não é porque querem que acabe, não. É porque a manifestação já legitimou."
Denúncia e investigação
Wladimir Matos Soares foi preso preventivamente e denunciado pela PGR pela participação na organização criminosa que tentou violentar o Estado Democrático de Direito em 2022. Ele também foi investigado por divulgar informações sigilosas sobre a segurança do presidente Lula a servidores ligados a Bolsonaro.
Até o momento, a defesa do agente não se manifestou sobre os áudios que vieram à tona.
Plano para matar Lula
Em novembro de 2024, a Polícia Federal (PF) obteve áudios que comprovam a articulação de militares de alta patente e membros do governo Bolsonaro para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
São mais de 50 gravações de conversas em aplicativos de mensagens, enviadas em novembro de 2022, ou seja, após a vitória de Lula na eleição de outubro, em que os golpistas discutem a "operação Punhal Verde e Amarelo", que consistiria no assassinato de Lula, Alckmin e Moraes, instalação de um "gabinete de crise" e manutenção de Jair Bolsonaro na presidência da República, em detrimento da derrota eleitoral do ex-presidente.
Segundo os investigadores, o general da reserva e ex-número 2 da Secretária-Geral da Presidência, Mario Fernandes, foi um dos principais articuladores do plano golpista, que teria sido impresso no Palácio do Planalto, levado ao Palácio da Alvorada e discutido na casa do ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice de Bolsonaro na eleição de 2022, general Walter Souza Braga Netto. A PF afirma, ainda, que os militares envolvidos no plano de golpe estavam em contato direto com "manifestantes" que acampavam em Brasília contra o resultado das urnas e que protagonizaram os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
“Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais”, diz Mario Fernandes a um "kid preto", militar membro das Forças Especiais do Exército, em um dos áudios obtidos pela PF e divulgados pelo programa "Fantástico", da TV Globo, na noite desta domingo (25). “Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa porra", dispara então o general.
Um militar não identificado no mesmo grupo de aplicativo de mensagens em que os áudios estavam sendo enviados, então, respondeu:
“Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso”.
“O presidente tem que fazer uma reunião com o petit comité. Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a rataria. Tem que debater o que vai ser feito”, emenda outro.
Em dado momento, o general Mario Fernandes chega a dizer que pretende dar um golpe de Estado no Brasil como o deflagrado por militares em 1964, que deu início a uma ditadura de mais de 20 anos.
“Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa. Para que ela se mantenha nas ruas".
Com informações da Fórum
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