Economia

CUT reage com dureza ao novo aumento da Selic e cobra fim da autonomia do Banco Central

Central emitiu nota contra o aumento da taxa selic


Reprodução CUT reage com dureza ao novo aumento da Selic e cobra fim da autonomia do Banco Central
CUT fez duras críticas à Gestão Galípo à frente do BC

A elevação da taxa básica de juros (Selic) para 14,75%, anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), provocou forte reação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que divulgou nesta quinta-feira (8) uma nota pública em que expressa “veemente repúdio” à decisão do Banco Central. Para a entidade sindical, a medida é incoerente com o atual cenário econômico e prejudica diretamente o projeto de reconstrução nacional liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a CUT, o aumento de 0,5 ponto percentual nos juros comprova a permanência da lógica da gestão anterior, mesmo após a troca no comando da autoridade monetária — agora sob a liderança de Gabriel Galípolo, que sucedeu Roberto Campos Neto. “A mudança na presidência do Banco Central não alterou a visão predominante na instituição, que segue priorizando o mercado financeiro em detrimento das necessidades sociais e do desenvolvimento nacional”, afirma a nota.

A Central denuncia o que classifica como uma “política monetária asfixiante”, argumentando que a Selic elevada favorece rentistas e investidores em títulos públicos, enquanto penaliza os mais pobres e compromete os investimentos em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura. A entidade estima que a alta acumulada de 4,25 pontos percentuais desde setembro de 2024 — quando a Selic estava em 10,5% — terá um impacto adicional de cerca de R$ 212,5 bilhões por ano no custo da dívida pública, pressionando ainda mais o déficit primário.

Para a CUT, esse modelo de política monetária perpetua um sistema de concentração de renda e impede a expansão do crédito acessível a famílias e pequenas empresas, freando o consumo interno e a geração de empregos. A entidade também critica a atual composição do Copom, formado exclusivamente por representantes do Banco Central, sem participação de trabalhadores ou da sociedade civil. “É urgente que o Senado Federal e a sociedade ampliem o debate sobre a estrutura e representatividade do Conselho de Política Monetária”, defende.

No documento, a CUT reafirma sua oposição à autonomia do Banco Central, que considera um entrave à soberania popular sobre a política econômica. A Central defende que a política de juros seja orientada por metas de redução das desigualdades e promoção do desenvolvimento sustentável, com controle social sobre suas diretrizes.

“Reconstruir o Brasil exige enfrentar o poder dos banqueiros, que lucram enquanto a maioria da população sofre com desemprego, inflação e falta de investimentos públicos”, diz a nota. A CUT finaliza afirmando que seguirá mobilizada pela redução dos juros, pela democratização da política econômica e por um projeto nacional que garanta dignidade, emprego e renda para todos os brasileiros.

Íntegra da nota da CUT

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) manifesta veemente repúdio a mais uma decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica de juros (Selic), desta vez para 14,75%, em clara contradição com as necessidades urgentes de reconstrução econômica e social do país. Enquanto o governo do presidente Luíz Inácio Lula da Silva avança na redução da inflação, no fortalecimento do real, na geração de empregos e na aprovação de reformas estruturais, o Banco Central insiste em uma política monetária asfixiante, privilegiando interesses financeiros em detrimento do desenvolvimento nacional e dos interesses do povo brasileiro.

Em um contexto de desaceleração inflacionária e da menor taxa de desemprego em oito anos, a decisão do Copom revela que a mudança do presidente do Banco Central para o comando de Gabriel Galípolo não mudou a visão predominante naquela instituição nos últimos anos. A medida não se justifica técnica ou economicamente, mas integra uma estratégia que se coloca na contramão do que tem priorizado o governo do presidente Lula e das demandas sindicais históricas: a retomada de investimentos públicos, a valorização do salário mínimo e a redução das desigualdades. A manutenção dos juros nas alturas, agora agravada pelo novo aumento, drena recursos vitais dos cofres públicos — que poderiam ser destinados à saúde, educação e infraestrutura — para remunerar a especulação com uma dívida pública que cresce substancialmente todas as vezes que a taxa Selic é elevada, beneficiando apenas os rentistas.

O aumento de 0,5% na taxa SELIC tem impactos significativos sobre a dívida pública brasileira, principalmente porque essa taxa é o principal ponto de referência para os títulos públicos indexados a ela. Estima-se que cada ponto percentual de aumento na Selic eleva o custo da dívida pública em aproximadamente R$ 50 bilhões por ano, segundo dados do próprio Banco Central. Considerando que a Selic subiu de 10,5% em setembro de 2024 para 14,75% em maio de 2025, um aumento de 4,25 pontos percentuais, o impacto adicional no custo anual da dívida pode ser estimado em cerca de R$ 212,5 bilhões. Um aumento na taxa eleva os juros pagos pelo governo para rolar a dívida existente, o que pressiona o deficit primário, já que o governo precisa arrecadar mais ou cortar gastos para cobrir o maior custo da dívida.

A taxa Selic elevada torna-se um mecanismo de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos e inviabiliza o crédito acessível para famílias e pequenas empresas, estrangula o consumo interno e freia a geração de empregos formais. Enquanto trabalhadores e trabalhadoras enfrentam o custo elevado do crédito ao consumidor, o sistema financeiro acumula lucros recordes. É urgente que o Senado Federal e a sociedade civil ampliem o debate sobre a composição do Conselho de Política Monetária, que não conta com representação dos trabalhadores e das trabalhadoras, de forma que banqueiros aproveitem da autonomia do Banco Central para tomadas de decisões desconectadas do interesse nacional. A política monetária precisa estar alinhada ao combate às desigualdades, com juros menores, crédito direcionado a setores estratégicos e controle social sobre as metas inflacionárias. Reconstruir o Brasil exige enfrentar o poder dos banqueiros, que recebem lucros bilionários em detrimento dos interesses da maioria da população brasileira e do desenvolvimento sustentável do país.

A CUT e suas entidades filiadas seguem em campanha permanente pela redução da taxa de juros e pelo fim da autonomia do Banco Central. O momento é unir esforços contra esse golpe silencioso contra o país e lutar para garantir que a economia sirva ao povo brasileiro e não à especulação. Seguiremos vigilantes e mobilizadas em defesa dos direitos da classe trabalhadora e por um projeto de desenvolvimento que garanta emprego, renda, comida e dignidade para todos e todas.

Banco Central sinaliza fim do ciclo de alta dos juros com Selic em 14,75%

O Banco Central do Brasil deu sinais claros de que o atual ciclo de alta da taxa Selic pode ter chegado ao fim, mesmo sem cravar a decisão no comunicado divulgado após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira, 7 de maio. A Selic foi elevada em 0,50 ponto percentual, passando de 14,25% para 14,75% ao ano — maior patamar desde agosto de 2006, ainda durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No comunicado, o BC adotou tom cauteloso, mas indicou que, diante do estágio avançado do ciclo de aperto monetário e da moderação incipiente da atividade econômica, poderá pausar as elevações a partir de agora, segundo aponta reportagem do Globo.

 “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, afirmou o texto divulgado pelo BC.

Um dos principais sinais de mudança no discurso do Copom foi a alteração no balanço de riscos. Desde o início do ciclo de alta, em setembro de 2024, o Banco Central destacava que os riscos de alta para a inflação eram predominantes. Agora, essa assimetria foi removida e o texto passou a mencionar ameaças tanto de alta quanto de queda na inflação, indicando maior equilíbrio na leitura do cenário.

Entre os fatores desinflacionários citados está a possibilidade de queda nos preços das commodities, especialmente por conta da desaceleração da economia global, em parte provocada pelo aumento de tarifas comerciais promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Essa desaceleração global passou a ser vista como um vetor que pode contribuir para a redução da inflação.

Outro aspecto citado por economistas como indicativo de que a Selic deve parar de subir foi a nova avaliação sobre a atividade doméstica. O BC reconhece que, embora o mercado de trabalho e os indicadores de atividade ainda mostrem dinamismo, já é possível observar uma “incipiente moderação no crescimento”. Antes, o termo usado era apenas “sinais” de moderação.


Siga nas redes sociais

Deixe sua opinião: