Comentários (complementares) de Antônio José Medeiros sobre o PIB do Piauí e do Brasil
O Piauí tem avançado, mas como partiu de um patamar muito baixo, ainda tem um longo caminho a percorrer
Em artigo anterior, ao analisar os dados divulgados sobre o PIB 2022 do Piauí e dos demais estados da Federação, considerei o crescimento do PIB e do PIB per Capita do estado, mostrando a evolução da posição do Piauí no cenário nacional. O Piauí tem avançado, mas como partiu de um patamar muito baixo, ainda tem um longo caminho a percorrer. O importante é que a aceleração do avanço nesse caminho seja conscientizada e assumida pela Sociedade (empresários, trabalhadores, instituições, movimentos sociais, etc.) e pelos Governos (estadual, municipais e federal).
No final daquele artigo afirmava: “A intenção do governador Rafael Fonteles é que o Piauí repita o feito de Mato Grosso e de Tocantins, nos próximos anos. Mas esse é o tema dos Comentários Complementares”. Vamos a eles.
Relembrando: no período 2002 a 2022, em relação ao PIB per Capita, Mato Grosso saiu da 11ª posição para a 4ª posição; Tocantins, da 21ª posição para a 13ª; e o Piauí da 27ª para a 25ª.
Essas posições têm uma margem de variação cada ano, para mais ou para menos; mas como estamos considerando uma série de 21 anos, as posições têm mais consistência, ou pelo menos, indicam uma tendência.
Não se trata de discutir, nesse artigo, a estratégia que o Governador está propondo; ele tem procurado explicitá-la diversas vezes, inclusive em grandes palestras no Centro de Convenções. O debate precisa se ampliar para além da área governamental, no espaço democrático da “esfera pública” (Hannah Arendt, Habermas).
Aqui, explorando os dados da evolução dos PIBs estaduais, vou apenas colocar algumas questões sobre o ritmo de nossa caminhada. A situação analisada é a “herança” recebida pelo atual governo; apenas a partir do próximo ano, teremos os dados relativos ao PIB de 2023 e talvez logo de 2024.
No caso dos estados que estamos tomando como referência para comparação, pode-se identificar três etapas do avanço do PIB per Capita. O Mato Grosso, de 2002 a 2007 - cinco anos - avançou da 11ª para 9ª posição; de 2008 a 2015 – sete anos – avançou para a 7ª posição; e de 2016 para 2022 – os últimos seis anos - tem oscilado em torno da 4ª posição.
O Tocantins. de 2002 a 2009 – sete anos – avançou da 21ª para a 18ª aposição; de 2010 a 2018 – oito anos – avançou para a 15ª posição; e de 2019 para 2022 – os últimos três anos – tem oscilado em torno da 13ª posição.
Na evolução do PIB per capita do Piauí também podem ser registradas três momentos, de evolução lenta: de 2002 a 2010 – oito anos - o Piauí permaneceu na 27ª posição; de 2011 a 2018 – sete anos – permaneceu na 26ª posição; e nos dois últimos anos de 2021 e 2022 avançou para a 25ª posição.
No crescimento econômico, saltos são possíveis, mas uma caminhada mais longa é feita em alguns saltos. Tomar cada mandato governamental como referência é bom, sem perder a perspectiva mais ampla.
A composição setorial do PIB, também divulgada anualmente, aponta quais dos três grandes setores da economia - Agropecuária, Indústria e Serviços – estão impulsionando o crescimento do PIB.
Em 2022, a Agropecuária representou 14,0% do PIB do Piauí; de 2010 a 2016, oscilou em torno de 7%; e de 2017 em diante saltou para o patamar de 10%, chegando agora aos 14%. Tende a crescer. Basta considerar que em Mato Grosso a agropecuária representou 22,8% do PIB e em Tocantins 23,8%, no ano de 2022. Nos estados do MATOPIBA, na Bahia representou 11,3% do PIB (o setor Indústria tem muito peso) e no Maranhão, 13,5%. É a soja, sim a soja e, em parte, o milho.
Para o PIB de 2002 do Piauí, a Indústria contribuiu 15,6%; e o setor Serviços com 70,4%. Sem entrar em detalhes no momento, vale ressaltar que o subsetor Administração e Previdência, que sempre oscilou entre 32% e 34% do PIB, em 2022, contribuiu com 29,7%. Não deve ter perdido em volume; provavelmente é efeito da ampliação da participação da porque a Agropecuária.
Mas, voltemos ao ritmo. Acelerar o ritmo é aumentar o percentual de crescimento do PIB para um valor maior que a média nacional. Em 2022, o PIB total de Roraima (não busquei a composição de seu PIB) cresceu 11,3%, de Mato Grosso, 10,4; do Piauí, 6,2% e do Tocantins, 6%. O PIB total do Brasil cresceu 3,0%.
Este é o ponto central do desafio: para melhorar a posição de seu PIB per capita, o Piauí precisa crescer não só o dobro, mas pelo menos o triplo do Brasil, ou seja, de 9% a 10% ao ano. E isto é possível.
O motor do crescimento é o investimento. O Governador (e o Governo) está consciente disso. Não é por acaso que criou a INVEST PIAUÍ – cuja estratégia é mais ampla que a simples atração de investimentos estrangeiros e nacionais – que tem um papel fundamental.
Muitas vezes se associou o Wellington Dias ao Alberto Silva; agora, o Rafael é “o novo Alberto”. Gosto mais de compará-lo com Juscelino Kubitschek; seu entusiasmo superlativo. Seu slogan era “50 anos em 5”. Não conseguimos chegar a tanto, mas foi deslanchado um processo de crescimento em torno de 7% a 9% ao ano, se prolongou de 1955 a 1980. Para o Piauí faz sentido o neodesenvolvimentismo; certamente até para o Brasil.
A teorização e a experiência do planejamento – que teve como um dos pioneiros Celso Furtado – acumulou bastante conhecimento sobre a relação investimento e crescimento.
Parta crescer 5% ao ano é preciso investir em torno de 20% do PIB (na linguagem mais técnica FBKF - Formação Bruta de Capital Fixo). O Brasil, nos últimos anos, tem investido em torno de 17%; permanecemos no “voo de galinha”, comemorando quando o crescimento chega a 3%. A China, no outro extremo, chegou a investir 45% do PIB e ter um crescimento de 10% a 11% ao ano.
Como é uma economia menos complexa, o Piauí, investindo 30% de seu PIB ao ano, pode crescer o triplo do Brasil, ou seja, 9% a 10%.
Como nosso PIB está em R$ 72,8 bilhões, temos de investir pelo menos R$ 21,8 bilhões cada ano. O Governador Rafael já fez essa conta. Numa exposição no Palácio de Karnack apresentou a empresários e gestores, o “Plano 10 por 100”: o investimento público será de R$ 2,5 bilhões ao ano, totalizando R$ 10 bilhões em quatro anos; e a soma dos investimentos privados precisa ser de R# 22,5 bilhões ao ano, totalizando R$ 90 bilhões em quatro anos. O setor público está atingindo a meta; não tenho conhecimento de cálculos sobre o investimento privado estadual, nacional e internacional.
As projeções em matérias socioeconômicas nem sempre são muito precisas. Mas vale fazer estimativas. O PIB per capita de R$ 22.279,00 em 2022 representa 44,88% do PIB nacional que é de R$ 49.638,29. Conseguindo crescer três vezes mais que o Brasil, o Piauí atingiria a 20ª posição, hoje ocupada pela Bahia com o PIB per capita de R$ 28.482,93, equivalente a 57,38 da média nacional, em 2034.
Evidentemente, acompanhando o salto tecnológico da Revolução da Tele-mática e dinamizando vários setores para além do agro-negócio, o processo pode ser bem mais acelerado.
Para as coletividades humanas, diferentemente de cada indivíduo, 10 anos é um período que não é tão longo. E vale lembrar: “o caminho se faz ao caminhar”. Torço para que o futuro seja entregue, ou melhor, vivido pelo Piauí.
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