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Brasil, um país que vive de golpes: da República Velha à anistia dos bolsonaristas

Anistia, não


Reprodução Brasil, um país que vive de golpes: da República Velha à anistia dos bolsonaristas
O rpojeto que anistia golpistas não pode passar

Desde a Proclamação da República em 1889, o Brasil tem sido marcado por uma sequência constante de rupturas institucionais, intervenções autoritárias e conspirações palacianas que moldam sua história política. O país, ao contrário de consolidar uma democracia estável, parece viver de golpes – ora explícitos, ora disfarçados sob a capa da legalidade. Cada vez que uma parte da elite política e econômica se vê ameaçada por avanços populares ou mudanças no status quo, as regras do jogo são rompidas.

A própria República nasceu de um golpe militar que depôs Dom Pedro II sem qualquer consulta popular. A Primeira República foi dominada por oligarquias estaduais que fraudavam eleições e governavam através do coronelismo. A Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, foi outro ponto de inflexão sem respeito às urnas. Em 1964, um golpe militar instaurou uma ditadura de 21 anos com apoio empresarial e dos Estados Unidos, cassando direitos, censurando a imprensa e torturando opositores.

Mas é no período recente que a vocação golpista do Brasil se mostra mais sofisticada – e mais perigosa por vir travestida de normalidade institucional.

O marco simbólico desse novo ciclo de golpes começa em 2014, quando Aécio Neves, derrotado nas urnas por Dilma Rousseff, sobe à tribuna da Câmara dos Deputados e declara que a presidenta "não governará como se tivesse vencido". Ali, não se aceitava mais a derrota eleitoral como parte do jogo democrático. Era o início de uma sabotagem sistemática à governabilidade e à própria democracia.

O que se seguiu foi uma articulação política e midiática sem precedentes para destituir Dilma sem crime de responsabilidade claro. Em 2016, Michel Temer, seu vice, assume o poder após um impeachment que mais parecia um golpe parlamentar. Nos bastidores, a gravação de Romero Jucá já revelava o objetivo: "um grande acordo nacional, com Supremo, com tudo" – uma articulação para frear as investigações da Lava Jato, garantir impunidade a aliados e impedir o retorno da esquerda ao poder.

Em 2018, o golpe assumiu outra forma: a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, líder absoluto nas pesquisas eleitorais, sob um processo controverso conduzido por Sergio Moro, que depois aceitaria ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. A retirada de Lula do pleito pavimentou a vitória de Bolsonaro – um político que nunca escondeu sua admiração pela ditadura militar e que, ao longo de seu mandato, tentou diversas vezes corroer as instituições democráticas.

Bolsonaro atacou o sistema eleitoral, ameaçou ministros do Supremo Tribunal Federal, estimulou a militarização do governo e flertou abertamente com um golpe de Estado. O 8 de Janeiro de 2023 foi o ápice dessa escalada: seus apoiadores invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília, numa tentativa explícita de derrubar a eleição de Lula.

Agora, com a tentativa de aprovar um projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas, o país enfrenta mais um capítulo dessa saga. O perdão amplo e irrestrito aos golpistas de 8 de janeiro não é apenas um gesto de conciliação: é uma ameaça à democracia. É uma mensagem de que o crime compensa, de que destruir as instituições pode não ter consequências – e de que o Brasil continuará sendo uma república de exceção, onde as regras são rasgadas sempre que a elite perde o poder pelas vias normais.

Concluindo: p Brasil vive de golpes. Não apenas os clássicos, com tanques nas ruas, mas também os parlamentares, os jurídicos e os silenciosos, travestidos de legalidade. Cada vez que um golpe triunfa sem punição, abre-se caminho para o próximo. Enquanto a democracia for tratada como obstáculo por quem perde eleições, e não como regra do jogo, o país continuará refém de sua história.

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