Bolsonaro usa caso de Débora para incitar revolta contra o STF
Bolsonaro parte para ofensiva religiosa e usa o caso para inflamar fiéis contra a Justiça

Prestes a ser julgado por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro iniciou uma ofensiva religiosa para tentar influenciar seu processo e evitar sua condenação. O ex-presidente tem usado o caso de Débora Rodrigues dos Santos, cabeleireira que também responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por sua participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, para incitar a população contra a Justiça.
Nos últimos dias, Bolsonaro tem intensificado suas postagens nas redes sociais, alegando que Débora está sendo condenada a 14 anos de prisão por pichar a estátua "A Justiça", em frente ao STF. No entanto, essa versão é falsa.
O julgamento de Débora começou na última sexta-feira (21) no plenário virtual da Primeira Turma do STF e ainda está em andamento. O relator Alexandre de Moraes e o ministro Flávio Dino já votaram pela condenação. Os ministros Cristiano Zanin, Luiz Fux e Cármen Lúcia ainda não se manifestaram.
Débora não responde apenas por pichação, mas por uma série de crimes relacionados à tentativa de golpe de Estado e depredação do patrimônio público. Até o momento, Moraes e Dino votaram pela condenação dela pelos seguintes crimes:
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito – 4 anos e 6 meses de reclusão
- Golpe de Estado – 5 anos de reclusão
- Dano qualificado – 1 ano e 6 meses de reclusão, além de multa
- Deterioração de patrimônio tombado – 1 ano e 6 meses de reclusão, além de multa
- Associação criminosa armada – 1 ano e 6 meses de reclusão
Se a decisão dos ministros for mantida, a pena total pode chegar a 14 anos de prisão, além de multa e uma indenização coletiva de R$ 30 milhões, a ser dividida com outros réus condenados pelos atos de 8 de janeiro.
Débora está presa desde março de 2023, quando foi detida pela Polícia Federal na oitava fase da Operação Lesa Pátria, que investiga os envolvidos na tentativa de golpe. Mesmo com esses antecedentes, Bolsonaro ignora esses fatos e continua propagando a desinformação de que a condenação se deve a um simples ato de vandalismo.
Para reforçar sua narrativa, Bolsonaro compartilhou um editorial do jornal O Estado de S. Paulo, que critica o voto de Moraes e a pena sugerida, omitindo a totalidade dos crimes imputados à ré.
Neste domingo (23), Bolsonaro foi ainda mais longe, apelando diretamente a padres e pastores para que transformem Débora em um símbolo de perseguição política, com o objetivo de mobilizar os fiéis contra o STF. Ele escreveu: "Peço aos pastores, padres e líderes espirituais de todo o Brasil que levantem um clamor sincero diante de Deus e orem pela vida de Débora Rodrigues e de tantos outros presos políticos que hoje estão privados de sua liberdade e são tratados injustamente como criminosos."
Ao distorcer o caso de Débora e mobilizar líderes religiosos contra o STF, Bolsonaro busca inflamar sua base radical e minar a credibilidade das instituições responsáveis por investigar sua participação nos eventos de 8 de janeiro.
Desesperado, Bolsonaro também convocou um novo ato político para o dia 6 de abril, na Avenida Paulista, em São Paulo. O ex-presidente pretende reunir seus apoiadores para defender a tese da anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro, tentando escapar da punição iminente por sua participação na tentativa de golpe.
No post, Bolsonaro afirma que "o que está acontecendo em nosso país é inaceitável e precisa chegar ao fim" e acusa o ministro Alexandre de Moraes de "ultrapassar todos os limites". Ele denuncia, novamente, o que chama de "vingança política", alegando que pessoas humildes estão sendo "massacradas e humilhadas pelo Estado brasileiro".
"É chegada a hora de dar um basta nisso e trazer paz para o nosso país com a anistia", escreveu Bolsonaro.
O ex-presidente, alvo de várias investigações, incluindo a que apura a tentativa de golpe de Estado, encerra sua postagem com um apelo panfletário: "A manifestação não é por mim. É pela liberdade! É pelo Brasil! É pelo futuro dos nossos filhos!" Ele convocou seus seguidores a se organizarem e estarem presentes no evento de 6 de abril, pedindo que mostrem sua força.
No entanto, o ato de Bolsonaro em Copacabana, no Rio de Janeiro, realizado em 16 de março, para promover a anistia aos golpistas, teve uma adesão decepcionante. O público, estimado em apenas 18,3 mil pessoas, foi o menor já registrado em eventos da ultradireita bolsonarista, segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP).
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