Vanessa Negreiros

Apenas o Estado é capaz de dar a solução

  • terça-feira, 26 de maio de 2020

Foto: ExameLula, Bolsonaro e Fernandez
Lula, Bolsonaro e Fernandez


É muito pertinente ainda se discutir acerca da defesa do Estado a partir das colocações feitas pelo nosso ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, na live da tarde do dia 19.05.2020, porém aqui sem o polêmico “ainda bem”. Retira-se a expressão não por uma defesa ao Lula em si, não há nesse texto o intuito de defender o que é indefensável dos governos do PT, retira-se simplesmente em virtude de se dá relevância ao que ele chama atenção para além da expressão.

Embora para alguns a fala impactante não tenha surtido efeito positivo - uma vez que a repercussão negativa da mesma o obrigou a se desculpar horas depois – entretanto, por um outro ponto de vista viu-se a força política que o Lula ainda tem, e como as ideias que defendeu sobre o Estado estão em sintonia com as nações que estão tendo menos impactos negativos em números de vítimas provenientes da pandemia do novo coronavírus.

No Brasil o vírus têm sido a pedra no sapato da política neoliberal do Ministro da Economia Paulo Guedes. A realidade não bate com os discursos defensórios do Estado mínimo. Quando Lula diz que é o Estado que é o indutor da economia, ele incomoda os neoliberais que diante da atual catástrofe política, econômica e social se encontram perdidos nos seus argumentos. A pandemia está desnudando as fragilidades do neoliberalismo e mostrando que o individualismo extremo é tão utópico como dizem ser o comunismo. Está mais do que claro que o modelo econômico neoliberal é insuficiente para produzir o bem comum.

Toda a propaganda antiesquerda está desmoralizada nessa crise bem como seus mentores. É nítida a percepção que a concentração de riqueza é incapaz de atender a demanda social numa crise epidêmica de grande proporção que aqui no Brasil tem a pobreza como a maior inimiga. Todas as alternativas de saídas se tornam complicadíssimas aqui por conta desse agravante. Por exemplo: como fazer isolamento vertical nas favelas, onde se tem uma dezena de pessoas coabitando em pouquíssimos metros quadrados? Além disso, convém lembrar que não há hospital particular para todos. E, então, como não defender o SUS? Sobretudo após ver diariamente nos meios de comunicação a catástrofe norte-americana onde milhões não tem licença médica e nem saúde pública.

Talvez se nosso povo fosse mais esclarecido e atento as diversas informações que recebem na palma da mão, não precisaríamos de o ex-presidente dizer o que o mundo inteiro está vendo: o Estado é a solução sempre em situações de crise. Pois temos exemplo positivo na prática, do que Lula teoriza, bem pertinho de nós.

O presidente da nossa vizinha Argentina, ao contrário do nosso atual presidente Jair Messias Bolsonaro, vem enfrentado a pandemia com seriedade. Alberto Fernández está em consonância com as recomendações da Organização Mundial de Saúde e com a função primária do Estado, a proteção. Haja vista que o líder argentino apoia e defende desde o início o isolamento social, entende que o Estado tem que dar suporte para que a população possa ficar em casa, não burocratiza o recebimento do auxílio emergencial e nem atrasa o pagamento. Taxa os grandes empresários e dá suporte para os pequenos e médios, e por essas razões já estuda a reabertura da economia com planejamento.

Além de se observar na prática o cumprimento dos deveres e benesses do Estado, viu-se aqui do lado que um povo saudável é importante também para a economia. Ademais em pronunciamento oficial do último sábado, o mesmo chefe de
Estado, em resposta aos jornalistas que exploravam em suas colunas as angústias da quarentena, Fernández pronunciou que “angustiante não é ficar em casa, angustiante é ficar doente, é não se salvar. Angustiante é que o Estado te abandone e te diga se vire como puder. Não que o Estado te diga fique em casa e se cuide”. Com o exemplo da Argentina vê-se a legitimidade e soberania do governante que assume de fato a função de representante do Estado perante os seus governados.

Distantes de se apoiar em recomendações e exemplos eficazes para sairmos mais rápido dessa crise, por aqui continuamos vendo briga de egos, falácias de medicamentos milagrosos, de falso patriotismo, messianismo, além de falácias de combate à corrupção. Lula não mentiu, a pandemia serviu para mostrar para as pessoas que o
Estado é necessário. Existe uma série de questões relevantes para se pensar e se discutir a partir da mencionada fala do nosso ex-presidente, não obstante optei por destacar aqui apenas a que o interlocutor se referiu a defesa do Estado, tomado como objeto de discussão para chave de compreensão do que foi exposto e para concluir que temos no comando do nosso país um modelo político que defende um projeto que tem por objetivo afastar o governo dos que deveriam representar.

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