A taxa Selic e economia real no Brasil
O mundo e as economias não se esgotam nas intenções e pretensões do mercado (financeiro), tal primazia vem dando sinais de esgotamento e novos cenários devem se materializar a partir da produção e não mais da especulação, principalmente no Brasil e na América Latina.
Nesta última quarta-feira (22.03.2023), o Copom manteve a taxa Selic em 13,75%. Esperava-se a manutenção da taxa, porém causou surpresa à equipe econômica do governo Lula a dureza da nota do Copom.Este, por sua vez, considera em suas decisões: a inflação, a atividade econômica, as contas públicas e o cenário externo.
Economistas de orientações menos ortodoxas analisam a decisão do Copom como estando na contramão da história. Para ilustrar tal pensamento econômico, atente-se para o que dizem os economistas André Lara Resende e Joseph Stiglitz.
No seminário recente do BNDES para discussão das estratégias para o desenvolvimento sustentável André Lara Resende, economista de notável saber e credenciado como analista econômico com vasta experiência, criticou a taxa de juros praticada no Brasil em relação às demais economias do mundo. Afirmou o economista brasileiro que a combinação de juros muito altos e impostos muito altos é uma combinação profundamente recessiva e impede o crescimento da economia.
Ao avaliar o referido seminário do BNDES, oprofessor da Universidade de Columbia Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2001, classificou como “chocante” a atual taxa básica de juros no Brasil, mantida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central em 13,75% ao ano.
Em debate na Globo News, na noite desta última quarta-feira, duas visões econômicas se contrapõem para discutir a posição do Copom em manter a taxa Selic nas alturas: a de André Roncaglia e de Marcos Lisboa.
André Roncaglia, economista especializado em desenvolvimento e conjuntura econômica critica a nota do Copom como sendo uma minuta infundada e contraditória ao sugerir possibilidade de arrocho monetário no futuro. Para Marcos Lisboa, a decisão do Banco Central tem com o objetivo garantir que a inflação não saia de controle, pois quando isso acontece, gera um problema muito grande sobre a atividade econômica. André Roncaglia rebate Lisboa ao explicar como a noção de juros impactar a inflação acontece no contexto de inflação de demanda e isso não é o caso do Brasil, pois essa falácia da inflação é o argumento central dos rentistas.
Ao se prestar a atenção no pensamento de um economista como André Roncaglia é possível a percepção que rompe a bolha formada, principalmente pela grande imprensa de que a politica monetária contracionista faz parte do novo normal. O que está por fora desta bolha compreende o pensamento de Stiglitz sobre o fato de o Brasil sofrer historicamente com altas taxas de juros na comparação com outras nações impôs uma “desvantagem competitiva”, a ser superada com empreendedorismo e inovação.
A partir de meados da última década, o Brasil passou a encarecer o crédito pela elevação da taxa de juros e assim passou a frustrar as variadas possibilidades de construção de arranjos produtivos, por via do empreendedorismo e inovação, sobrevalorizando as exportações de commodities e transformando o Brasil numa grande economia agroexportadora, cuja base de sustentação se deslocou para a pilhagem de nossa biodiversidade e a ameaça à região amazônica e a eliminação (genocídio) dos povos originários.
Mas o tempo não para. As instituições contam muito. E a economia real não pode se quedar diante dos interesses de primazia dos mercados.
Um mundo melhor é possível e a economia real no Brasil e no mundo não cabe em modelos hipotético-dedutivos dos economistas neoclássicos.
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