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A misoginia e eleição de Trump nos EUA

Como o ódio às mulheres movimentou a eleição para a presidência


Divulgação A misoginia e eleição de Trump nos EUA
Donald Trump e Kamala Harris

A eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA teve uma série de reviravoltas. Grupos considerados como uma base para Harris, viraram o voto e estiveram ao lado do líder radical de extrema-direita. Assim como em 2016, Trump foi eleito na disputa contra uma mulher e a pergunta que não cessa é: até aonde a misoginia interfere no pleito?

Primeiro Hilary Clinton e agora Kamala Harris reforçam o alto grau de sofisticação da misoginia do país que se coloca como a “maior democracia do mundo”. Os ataques à Kamala, porém, não começaram há poucos dias das eleições, mas sim, desde o momento em que seu nome veio à tona para substituir Joe Biden durante a corrida eleitoral.

“Mas só o fato de uma mulher negra ser a favorita para a vaga que vai concorrer contra o radical de direita Donald Trump já foi o suficiente para que uma tempestade de misoginia e racismo fosse despejada nas redes sociais. Kamala é chamada pelos haters de vadia, de louca e "retardada” (sic)”, escreveu a jornalista Nina Lemos na DW.

De acordo com a especialista em Feminismo, o ódio foi o método utilizado pela campanha de Trump desde o início. Falas como a de que Kamala só havia conquistado poder por que foi “"amante de um famoso político democrata, um homem muito mais velho e casado”, tomaram conta do X (ex-Twitter).

“Ataques fazem parte da disputa política, ainda mais a americana, que costuma ser realmente pesada. Mas tudo fica muito pior quando o alvo é uma mulher. Se for uma mulher negra, então, que é o caso de Kamala, a guerra é suja. A gente tem que se preparar para ver todo o tipo de preconceito sendo dito sem vergonha nos próximos meses.

Não estou falando que Kamala Harris não possa ser criticada. Claro que pode. E deve. Faz parte da democracia. Mas uma coisa é crítica sobre posições e atitudes de uma política. Outra coisa é usar misoginia e racismo para desqualificar uma mulher. Isso não dá para aceitar”, ressaltou a jornalista.

Como foi o pleito?

O republicano Donald Trump será o próximo presidente dos Estados Unidos após conquistar mais de 270 delegados no colégio eleitoral, segundo projeção não oficial, mas historicamente aceita, feita por serviço elaborado por estatísticos a pedido de institutos e meios de comunicação. A vitória foi cravada às 7h32 (horário de Brasília), quando o republicano garantiu 276 delegados.

Nos Estados Unidos, a apuração é de responsabilidade de cada estado, ou seja, a contagem pode demorar semanas. Com isso, a projeção permite saber com antecedência quem será o vencedor. Vitórias na Geórgia e na Pensilvânia foram decisivas.

Trump vinha liderando a disputa eleitoral nos Estados Unidos com uma campanha marcada por promessas radicais e pelo apoio da extrema direita. Por volta das 2h30 desta quarta-feira (6), horário local (4h em Brasília), Trump foi declarado vencedor na Pensilvânia, atingindo 267 votos no Colégio Eleitoral, apenas três a menos dos 270 necessários para a vitória.

Com vitórias decisivas também na Geórgia e na Carolina do Norte, Trump ultrapassou a vice-presidenta Kamala Harris, candidata democrata, que até o momento acumulava 224 votos eleitorais.

Em discurso realizado poucas horas após os resultados na Pensilvânia, Trump já se referiu a si mesmo como “presidente eleito”. "Este é o maior movimento político da história", declarou ele, enfatizando o apoio de uma base fervorosa.

A volta de Trump marca um retorno histórico de um presidente condenado na justiça ao cargo mais alto dos EUA, após uma série de escândalos e acusações criminais. Ele recorre atualmente de uma condenação por ter silenciado a ex-atriz pornô Stormy Daniels durante a campanha de 2016 e enfrenta acusações relacionadas à invasão do Capitólio em 2020. Apoiado por figuras influentes como o bilionário Elon Musk, Trump concentrou sua campanha em temas como imigração — prometendo deportar milhões de imigrantes sem documentação — e economia, defendendo nacionalização e cortes em impostos e regulamentações.

Trump escolheu como vice o senador J.D. Vance, refletindo a aliança com a ala mais conservadora do Partido Republicano. Durante a campanha, ele mencionou diversas vezes a possibilidade de fraude eleitoral, o que gera receios de que, em caso de derrota, ele não reconheceria o resultado — uma tática semelhante à adotada em 2020.

Tentativas de assassinato também marcaram a jornada de Trump de volta ao poder: em julho, ele sobreviveu a um atentado durante um comício na Pensilvânia, onde foi ferido na orelha, e, em setembro, escapou de outro ataque em seu campo de golfe na Flórida.

Na véspera das eleições, o candidato republicano discursou sobre uma "era de ouro nos EUA", prometendo "reunir" o país e "ajudar na recuperação" da economia e segurança. Ele ressaltou o controle republicano no Senado, afirmando que a vitória representa um “mandato poderoso”. Trump elogiou Elon Musk, defendendo que “é preciso proteger nossos gênios”, em referência ao magnata, que esteve ao seu lado em comícios e expressou apoio publicamente.

Apesar das promessas de pacificação, a campanha de Trump foi marcada por ataques e ofensas a Kamala Harris e ao governador Tim Walz, frequentemente com comentários depreciativos e apelidos. Durante um comício em outubro, Musk incentivou o público a votar no ex-presidente e ofereceu incentivos financeiros para impulsionar a imagem de Trump em sua rede social, o X.

Com promessas de deportações em massa e uma economia focada no protecionismo, Trump segue uma retórica populista e conservadora em sua volta à Casa Branca, um movimento que desperta tanto entusiasmo quanto apreensão nos Estados Unidos e no cenário internacional.

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