A estática do conservadorismo e a dinâmica da política
Sou brasileiro, nordestino e bem sei que por estas bandas do mundo viver na e da política é um sofrimento bárbaro. Assim me expresso porque a tal da política é por deveras dinâmica, mas tal dinamismo é negado pelos que vivem dela na estática da vida e da pompa.
É doloroso para os esperançosos, os otimistas e os crentes nas mudanças demonstrar a distância ética entre o “viver na” e o “viver da política” [citando Weber]. Tal prática demonstrativa comumente lhes transformam de imediato em saco de pancada e alvo de críticas ferozes. Com amiudada frequência, homens e mulheres com esta natureza, são descaracterizados e rotulados de doidos, de arrogantes, de prepotentes, de intransigentes e de bem pouco ou nada contribuírem para o lindo e belo quadro social constituído [citando Raul].
Não é permitido ser e pensar diferente em termos de política. Pense em artes, em música, até em economia pode. A economia já vive mesmo divorciada da política. Contudo, que não se pense nunca na possibilidade de construção de novas realidades através de posturas compatíveis com os princípios republicanos. É certo sim que tais princípios são tão velhos como o pensamento de Aristóteles, o filósofo.
Com todos os diabos: O que há de mais em se querer uma vida digna para si e para os outros? Um sentido viável de coletividade e de bem-estar sempre foi e continua sendo bens públicos desejados pelas sociedades contemporâneas [citando Benhabib].
Não obstante, quanto mais carente a sociedade, mais e mais interesses escusos são acobertados pelo manto do atraso e da intolerância política. É terminantemente proibido agir em nome da transparência e do respeito à coisa pública. Aliás, o grande atraso dessas sociedades é transformar o público (bens públicos) em coisas do Estado. O que é público não deve pertencer à sociedade civil, pertence ao Estado e este tem donos. As pessoas menos instruídas têm medo, desconfiança e cerimônia mesmo de encostar perto das coisas públicas. O público é do Estado e, por conseguinte dos donos do poder [citando Faoro].
Hoje no Brasil continua havendo uma guerra estabelecida pela disputa do poder (político) e as elites guerreiras competem pelo voto dos eleitores visíveis só em tempos de eleição [citando Schumpeter]. As preferências são criadas pela mídia ou precisamente pelos meios de comunicação de massa – os jornais, as rádios e as televisões – propriedades dos poderosos e candidatos eternos a donos do Estado, a donos do poder e da política e da pseudo democracia feitora de governos.
Quem não reza na cartilha e não faz parte de linhagem política aristocrática e conservadora não entra na vida pública e se entrar deve se preparar para sofrer os piores ataques e os castigos da seca e da gota serena. No máximo o poder deve ser revezado entre os membros dos blocos políticos já estabelecidos, alguns familiares já na enésima geração, todos eles filhos de boa família. No nordeste brasileiro, pelo menos esta continua sendo a regra geral.
Quem não tem perfil de sedutor das massas, que não seja filho “de” mamãe querida e painho rico – mas, um mero filho “da” [citando Escurinho] – mantenha-se com o couro preparado para levar pancada e ainda por cima ser desqualificado em praça pública. Se for negro ou pobre, nem adianta chamar a polícia, esta nada tem haver com a política: uma semântica sem hermenêutica.
Paradoxalmente, também no momento em que se vive, permanecer na vida pública requer exercícios constantes para a aquisição da legitimidade e que nem sempre anda ao lado da aquisição do poder [citando Rosanvallon]. Esta é a parte dolorosa a ser enfrentada pelos conservadores que fazem do exercício do poder político um meio de vida.
Quaisquer semelhanças com o choro do mercado e o comportamento da extrema direita como o novo governo Lula são meras coincidências.
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