Política

Quaquá tem um projeto para o PT: ser um Centrão com estrelinha vermelha

Vice-presidente nacional do PT, o deputado federal Washington Quaquá acumula gestos em favor do bolsonarismo


Foto: InstagramQuaquá e  Pazuello
Quaquá e Pazuello

Por Luis Felipe Miguel, professor, no facebook

Vice-presidente nacional do PT, o deputado federal Washington Quaquá acumula gestos em favor do bolsonarismo. Ontem, votou a favor de Carla Zambelli e de Nikolas Ferreira no Conselho de Ética.

Há mesmo espaço para esse tipo de postura no PT?

Em seu voto, Quaquá disse que não falava em nome do PT – caramba, ele é vice-presidente do partido! – e que defendia o arquivamento dos processos “por uma questão pedagógica”.

Que pedagogia é essa? Ensinar aos extremistas de direita que eles podem tudo, sem que haja consequência?

Há um ano, o deputado Glauber Braga votou contra a cassação da deputada Flordelis. Argumentou que, como “antipunitivista”, não poderia votar pela cassação sem que ela já tivesse sido condenada na Justiça e que, até lá, o correto teria sido suspender o mandato da maternal assassina bolsonarista.

Acho que ele fez errado – gastou uma bondade com quem não merecia, criou confusão num momento delicado da campanha e obviamente não emplacou o debate sobre punitivismo como pretendia.

Equivocado ou não, Glauber tinha um ponto. E Quaquá? Certamente não.

Sob sua influência, o PT do Rio de Janeiro estreitou laços com o bolsonarismo, apoiando candidatos do PL em 2020. Quaquá ensaiou, mais de uma vez, apoio à reeleição de Claudio Castro em 2022. Chegou a sugerir que o PT ficasse "neutro" na eleição para o governo do Rio.

No começo do ano, tirou (e postou) foto sorridente, abraçado ao general Pazuello – aquele que se refestelava em contratos suspeitos no Ministério da Saúde, enquanto centenas de milhares de pessoas morriam de Covid-19. Disse que o abraço era sua contribuição à tarefa de “unir, pacificar e reconstruir” o país.

Mais recentemente, Quaquá se solidarizou com Jair Bolsonaro, "perseguido" pela polícia. Sim, estamos falando do vice-presidente nacional do PT.

Há uma dívida de gratidão com Quaquá, que abrigou muitos petistas em seu feudo em Maricá, quando os cargos do partido pelo Brasil afora minguavam. Mas isso não devia entrar num cálculo político sério. E ele parece ser útil para aproximar o PT do submundo da política do Rio de Janeiro, aquele dos negócios estranhos com milícias.

Só que esta aproximação pode tornar o PT fluminense também parte desse submundo.

Ao expor seu modus operandi, sem nenhuma concessão às aparências, Quaquá não é ingênuo. Ele tem um projeto para o PT e quer concretizá-lo: ser um Centrão com estrelinha vermelha.

Para o bem ou para o mal, o PT continua sendo o eixo da esquerda brasileira. Permitir que um Quaquá tenha tamanho peso e se movimente com tamanha desenvoltura é um péssimo sinal.

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