Política

PT: uma grande obra, viva e aberta

O PT é uma obra em permanente construção, por milhões de mãos brasileiras


Foto: Arquivo de José SalanLula e Salan
Lula e Salan

 

Por José Salan Barbosa Melo, engenheiro, ex presidente da Eletrobras PI

O PT é uma obra viva, aberta e em permanente construção, por milhões de mãos brasileiras.

Sua construção já dura 44 anos e cada militante, cada filiado acrescenta um pouco de sua contribuição na montagem dessa imensa teia  que vai produzindo uma engenhosa obra coletiva que é ao mesmo tempo física, política, social e cultural. Muito cultural. Os militantes que vivenciaram o PT em sua vida orgânica aprenderam princípios e valores como ética, solidariedade, empatia, compaixão e também altivez, amor ao próximo, aos mais pobres, identidade de classe, respeito às diversidades e sobretudo solidariedade.

Uma das coisas que fiz em minha vida que mais tenho orgulho é de ser parte dessa rica história, desde seu começo.

Cheguei a Santos, SP depois de seis meses na cidade de São Paulo, em julho de 1976 após ter entrado na Faculdade de Engenharia Santa Cecília, no meio de um estágio técnico na antiga Companhia  Light de Eletricidade, após cursar Eletrotécnica na Escola Técnica Federal do Piauí.

Em meados de 1977 tive meus primeiros contatos políticos com os estudantes dessa faculdade, especialmente com duas professoras do curso de Artes Plásticas; uma delas era Telma de Souza,  que mais tarde viria se tornar vereadora, deputada e Prefeita de um mandato revolucionário na cidade de Santos.

Naquele momento, a sociedade começava a se organizar mais fortemente para lutar contra a ditadura militar. Os movimentos ganhavam corpo e visibilidade. Em Santos, a luta por anistia e a defesa dos presos políticos era o principal ponto que articulava a militância política de esquerda. Também era forte a luta pela recuperação da autonomia da cidade, que havia sido arrancada pelos generais de Brasília, quando impediram que um negro, o advogado Esmeraldo Tarquínio, eleito prefeito da cidade em 1968, tomasse posse na prefeitura.

Santos, uma cidade portuária e operária de forte movimento sindical e político de esquerda, que chegou a ganhar a alcunha de Cidade Vermelha ou Moscou Brasileira, onde o Partido Comunista Brasileiro exerceu muita influência nas décadas de 1950 e 1960 a ponto de nos primeiros dias da ditadura militar terem rebocado o navio Raul Soares do Rio de Janeiro  para a Ilha de Barnabé, no município de Santos e o transformaram em prisão exclusivamente para os presos políticos da ditadura. Em 1977 ainda era muito viva a história do Raul Soares contada por quem lá passou  e saiu com vida. Eram narradas histórias dos horrores das torturas praticadas pelos militares nos porões do navio cárcere.

As reuniões pela anistia e pela retomada da autonomia da cidade aconteciam nos sindicatos e nas entidades de classe, como OAB, APEOESP, em recintos da igreja católica, associações de bairro, etc. Já as reuniões em que se discutiam a luta pela derrubada da ditadura aconteciam nas casas dos militantes e os convidados eram restritos, pois essas reuniões eram feitas em segredo porque proibidas. Destas, participavam militantes independentes e representantes dos partidos clandestinos, como  PCB, Convergência Socialista, MR8, AP e MEP e de tendências de esquerda do movimento estudantil como Libelu e do PC do B;

Em 1978, já militante político e do movimento sindical acompanhava de perto toda essa movimentação política em Santos e no ABC onde estouraram as primeiras greves após um grande jejum imposto pela  ditadura militar. A primeira greve que rompeu este cerco e foi a faísca no grande barril de pólvora, aconteceu em São Bernardo do Campo na Scania, foi um movimento deflagado dentro da fábrica, organizado pelos próprios trabalhadores, tendo como líder o operário Gilson Meneses, que tempos depois se tornou dirigente sindical na diretoria do Lula, no sindicato metalúrgico de São Bernardo do Campo e mais tarde eleito prefeito da cidade de Diadema, SP o primeiro prefeito do PT .

Estava nascendo o “Novo Sindicalismo Brasileiro”, que pretendia romper as amarras da lei de greve e das leis trabalhistas que vinculavam a estrutura sindical dos trabalhadores ao Ministério do Trabalho. Nesse tempo, a classe trabalhadora estava amordaçada sem poder reivindicar melhores salários e via a inflação corroer diariamente seu poder aquisitivo. As greves e manifestações de trabalhadores eram proibidas pelas leis da ditadura.

A greve da Scania só depois de iniciada é que teve o apoio incondicional do sindicato, presidido por Luís Inácio da Silva, o Lula. Em seguida pipocaram mais algumas greves isoladas na categoria dos metalúrgicos, sempre em busca de aumentos salariais e melhores condições de trabalho.

O nascente Novo Sindicalismo rompia com a principal característica do sindicalismo vigente até então, o fato de ser legalista, dependente do imposto sindical, vertical, pois só podia se organizar dentro de sua própria categoria. Ou seja, metalúrgicos com metalúrgicos, bancários com bancários, comerciários com comerciários, etc. Não podiam se organizar misturando as diversas categorias, no jogo político das classes sociais. Porém o mal maior era o tipo de dirigente sindical predominante, conhecido como “pelego”. Esse passou a ser o mal do sindicalismo que deveria ser derrotado, nas assembleias e nas eleições sindicais.

Pelego era o traidor da categoria, o que entregava o grevista ao patrão, às vezes até à polícia, aquele que negociava acordos sindicais com reajuste salariais inferiores à inflação, sem ouvir a categoria e que impedia a livre manifestação e a luta dos trabalhadores. Já o novo sindicalismo nascia em consonância com a luta política pela mudança do sistema político.

“Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”. Essa estrofe faz parte da música Caminhando de Geraldo Vandré, que daí em diante passou a ser o hino dos trabalhadores em greve e era cantada nas assembleias e manifestações a pedido do Lula e enchia de emoções, de energia e de disposição para a luta. Estava em curso a grande virada de mesa política no país.

Em 1979, a greve foi geral entre os metalúrgicos do ABC e durou 14 dias. Apesar de toda a repressão sofrida, de ter as diretorias dos sindicatos em greve afastadas por intervenção do Ministério do Trabalho, a greve dos metalúrgicos foi vitoriosa. Primeiro, pelo reajuste salarial que conseguiram; segundo porque tiveram seus dirigentes de volta aos sindicatos. Por último, porque foi uma grande demonstração da força e do vigor da luta dos trabalhadores que renascia mais forte que nunca. “Que ninguém ouse duvidar da capacidade de luta dos trabalhadores”, disse Lula nessa ocasião.

Continuávamos no frenesi das reuniões, encontros, seminários, envolvendo todo tipo de organização popular; o caldeirão fervia e tudo parecia conspirar para embalar nosso sonho, que não era pequeno. Queríamos simplesmente mudar o mundo, fazer  uma revolução, começando, de preferência, pelo Brasil. Acompanhávamos o que acontecia no ABC, fazíamos manifestações, panfletagens, colagens de cartazes, pichações, trabalhos políticos nos bairros e nas categorias profissionais.

“Nas escolas, nas ruas, campos, construções, caminhando e cantando e seguindo a canção”.

Veio 1980, ano chave e decisivo para a luta. Em 10 de fevereiro, no Colégio Sion em São Paulo, vi nascer o PT. Sua criação foi a consequência natural de uma transformação política extraordinária que estava ocorrendo no Brasil. Um partido surgido do seio da própria classe trabalhadora, de suas lutas, de suas organizações e principalmente do sonho dos trabalhadores e se tornou a grande novidade e  da reforma partidária concebida pelo General Golbery do Couto e Silva. Esta era a revolução e o “tiro pela culatra”, o nascimento de um partido que surgira, enfim para cingir toda essa costura política e dar o amálgama que faltava à luta pela Democracia e por Justiça Social.

Terra, Trabalho e Liberdade era o lema do partido que nasceu para honrar as lutas das classes trabalhadoras brasileiras.

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