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Por que nessas eleições a grande mídia vai com Bolsonaro (de novo)

'A grande imprensa estará contra Lula e contra um projeto de desenvolvimento nacional atrelado à soberania popular', alerta Carla Teixeira

Foto: Ricardo Stuckert e montagem do pensarpiauíLula e a mídia comercial
Lula e a mídia comercial

Por Carla Teixeira, historiadora, no 247 

Desde que os últimos editoriais da grande imprensa expuseram a preferência pela manutenção da agenda neoliberal a qualquer custo (até mesmo ao custo Bolsonaro), teve início o contorcionismo jornalístico para atacar Lula, o candidato que se opõe a este projeto, com manchetes que tentam ligá-lo ao crime organizado de São Paulo (será que o ministro Alexandre de Moraes tem a moral de colocar os jornalões no inquérito para apurar propagação de “fakes news”? - risos). No entanto, houve quem ficou surpreso com essa atitude editorial que, na prática, é apenas mais do mesmo.

A mídia brasileira de maior audiência é controlada, dirigida e editada, em sua maior parte, por uma elite econômica formada por homens brancos. Sua origem familiar remonta à uma dominação de oligarquias (autodenominadas “direita liberal”) que há séculos controlam o Brasil através da mídia, do Judiciário e do poder militar.

Como observou o insubstituível Paulo Henrique Amorim, a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo “não são jornais, são peças de propaganda de ditaduras”. Por isso tiveram participação ativa em todos os golpes da República que atentaram contra os interesses do povo brasileiro e da soberania nacional.

Em 1954, durante a crise política, os jornais eram contra a criação da Eletrobrás e da Petrobrás com monopólio da exploração do petróleo. Denunciavam com violência o “mar de lama” que se tornou o governo. Após o suicídio de Getúlio Vargas, sofreram com a fúria da população que destruiu redações e carros dessas empresas jornalísticas, incluindo de O Globo.

Apoiaram o golpe e se colocaram alinhados ao que chamavam de “revolução de 1964”. Legitimaram a violência dos governos militares e justificaram as medidas de exceção mediante um discurso anticomunista e de combate à corrupção.

Durante a Ditadura Militar, perseguiram lideranças políticas, como Juscelino Kubitschek e João Goulart, numa verdadeira campanha de difamação amplamente registrada pela historiografia e pela Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva”. O relatório final indica a grande imprensa como cúmplice dos militares no assassinato de JK ao contribuir para a campanha pública que visava destruir a reputação e a honra do ex-presidente.

Durante os anos 1980, com o desgaste político do regime que ajudou a sustentar, a grande imprensa em geral deu um “plot twist” editorial e passou a defender a democracia. Dada sua atuação anterior e posterior, é possível afirmar que tratou-se de um valor de ocasião para satisfazer leitores, assinantes e anunciantes que não queriam estar envolvidos com a sujeira do período anterior.

A partir da Nova República, procuraram criar consenso em torno da agenda neoliberal, denunciando a ineficiência do Estado e das empresas estatais. Fizeram propaganda da Operação Lava Jato (financiada pelos Estados Unidos para destruir as riquezas do Brasil) e apoiaram o golpe de 2016 com base em um discurso de combate à corrupção dos governos petistas.

Para garantir o neoliberalismo, impedir a ampliação da cidadania e o acesso da população aos direitos básicos, espancaram a Constituição de 1988 e apoiaram a prisão ilegal de Lula. Escolheram Jair Bolsonaro, em 2018, humanizando sua imagem e disseminando a versão falsa sobre o suposto militante da esquerda, ligado ao PSOL, que teria dado uma facada no então candidato à presidência da República.

Atualmente, apesar de serem alvos dos ataques de Jair Bolsonaro, as famílias da mídia sabem que não sofrem qualquer ameaça existencial, pois o capitão respeita as regras da burguesia. Por isso mantém os preços da Petrobrás atrelados ao dólar e deixa Paulo Guedes na Economia com seu neoliberalismo que destrói o Brasil. 

Os órgãos da grande imprensa estarão contra Lula, pois em toda a história da República sempre estiveram contra qualquer projeto de desenvolvimento nacional atrelado à soberania popular com efetiva ampliação da cidadania. Por isso também foram opositores de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Leonel Brizola e Dilma Rousseff. Contam com o apoio da direita liberal, dos militares e do judiciário para isso.

As famílias Marinho, Frias e Mesquita, donas de O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, respectivamente, têm negócios no mercado financeiro, imobiliário e no agronegócio, ou seja, os principais setores que se beneficiaram durante a pandemia com o aumento da inflação, do dólar, da morte e do desemprego dos brasileiros. Por isso e por tudo, não adianta pedir autocrítica da grande imprensa sobre suas posições editoriais: apoio aos golpes de estado, à operação lava jato etc. Como disse Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”.

O oligopólio da mídia no Brasil é hoje um grande fator de instabilidade política. Torna-se, de fato, uma barreira de contenção para o exercício de qualquer projeto político soberano e independente para o país. Chama a atenção que o PT e o programa de governo de Lula não toquem no tema da democratização dos meios de comunicação. Os dirigentes petistas devem achar que, vitoriosos nas eleições, serão capazes de governar contra as famílias da grande mídia que aí estão e a extrema-direita, nas redes sociais. Só falta combinar com eles.

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