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Oscar de Barros no 180graus: Quem apoia a ditadura saiu do armário

Oscar de Barros no 180graus: Quem apoia a ditadura saiu do armário

No portal 180graus, o jornalista Oscar de Barros, relembra os tempos do golpe militar de 64 e faz uma breve comparação ao que vivenciamos nos dias atuais: "O prurido de se defender regimes fechados deu adeus. Na empolgação do Bolsonarionismo já é comum você tomar uma cerveja com o amigo e este dizer que a força tem que voltar a dirigir o país". Veja na íntegra:
Quando eu era criança e entendi que vivíamos numa ditadura militar, formei uma ideia que os generais haviam tomado o poder de uma hora para outra em 1964. Entendia também que todos eram contra os militares mas, com medo, nada diziam.
Foi preciso muito tempo para eu entender.
Entender que havia pessoas que queriam e apoiavam a ditadura. Apenas se comportavam de maneira enrustida.
Entender que 1964 começara a ser gestado bem antes. Não fosse o suicídio de Getúlio Vargas, 1964 teria acontecido em 1954.
Entender que o golpe de 1964 foi pensado e gestado por civis, mas como a força bruta estava na mão dos militares, eles exerceram o poder.
O golpe aconteceu em 31/03/1964 e foi recrudescendo. Cada dia mais a ditadura tornava-se ‘menos branda’ (não é Folha de São Paulo?), piorava e ficava mais medonha.
Ao chegar a década de 80 ela caminhou para seu fim. Era difícil encontrar alguém na rua que defendesse os militares e aqueles tempos sombrios. Havia uma vergonha sobre aquele período.
A vergonha de parcela da sociedade brasileira com os acontecimentos dos anos recentes era tanta que escondia suas predileções políticas. Veio a abertura e todos clamando por democracia e pluralidade.
Veio Sarney, Collor, Itamar e FHC. Depois os país experimentou governos do PT com Lula e Dilma.
Da experiência petista para cá, a cobra trincou o ovo e foi botando o narizinho de fora.
Começaram leves críticas ao governo petista de Lula.
Denunciaram o bolivarianismo, o comunismo, o Foro de São Paulo, etc, etc, etc.
Disseram que Lula era um ditador, mas Lula não modificou a Constituição para ficar no poder. Foi para a reeleição constitucional e depois apresentou a sua candidata. Mas foi deixando a cobra sair do ovo.
E ela saiu!
Saiu e gostou dos ares que respirou.
O Congresso Nacional dá emprego a um militar aposentado que faz loas publicamente a situações ligadas a regime ditatoriais. O nome dele é Jair Bolsonaro. Ele vinha chocando o ovo da cobra e ganhou a atenção daquela parcela da sociedade que eu disse atrás ser envergonhada de apoiar ditaduras. Mas a vergonha foi se perdendo.
O prurido de se defender regimes fechados deu adeus. Na empolgação do Bolsonarionismo já é comum você tomar uma cerveja com o amigo e este dizer que a força tem que voltar a dirigir o país.
Em tempos de comunicação avançada, o WhatsApp recebe diariamente vídeos com apologia a regimes militares.
Percebendo o sucesso do discurso de Bolsonaro, o usurpador Temer, que patina próximo a negatividade da popularidade, roubou-lhe o discurso e promoveu a intervenção militar no Rio de Janeiro e deixa antever que mais pode vir, recebendo aval dos grandes órgãos de comunicação do país – dentre eles a Globo que cresceu absurdamente porque trocou este crescimento pelo apoio aos militares de 1964.
Era o que faltava para a cobra sair por completo do seu ovo.
Tudo isto que está acontecendo tem um lado positivo. Quem apoia ditaduras saiu do armário e você já pode reconhece-los facilmente nas ruas da sua cidade.

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