Pensar Piauí

O que fazer com quem quer deixar de ser bolsonarista?

Bolsonaristas de todo o Brasil, convertei-vos ao antibolsonarismo, ou não

Foto: PagobahO que fazer com os que querem vir ?
O que fazer com os que querem vir ?

Por Wilson Gomes, no facebook

BOLSONARISTAS DE TODO O BRASIL, CONVERTEI-VOS AO ANTIBOLSONARISMO. OU NÃO.

Acho muito engraçadas essas pessoas que demandam a conversão dos eleitores e apoiadores não fascistas nem terrivelmente evangélicos de Bolsonaro em 2018 e a querem já. Queridos, entendam, em 2018 eles votaram em Bolsonaro porque odiavam o PT, enquanto em 2020 eles não estão ainda contra Bolsonaro (pelo menos no nível que vocês queriam) porque votaram nele em 2018. É questão de psicologia e não de lógica do voto. Não esperem que 400 dias depois que o cara cometeu um gigantesco erro eleitoral, dois anos depois de o cara ter brigado com o seu passado, família e amigos por uma causa, três anos depois de ter vestido a camisa de um time e encontrado uma identidade política pra chamar de sua, o sujeito vai dar o braço a torcer a todos os que lhe gritaram que estava errado e, sobretudo, vai encarar uma ressaca moral tão desestruturante? Não vai. Vai resistir, tergiversar, esperar diminuir a pressão dos que lhe dizem "eu não avisei?", vai ver se muda o clima de opinião dominante nos seus ambientes sociais para ele não ter que enfrentar sozinho a humilhação da mudança, vai aguardar, em suma, até que os custos psicológico e moral da conversão estejam mais baixos e sejam compartilhados com mais gente. É mais barato dizer "eu fui dos enganados" do que "errei feio, desculpem". Lembrem-se, sobretudo, que muitas dessas pessoas já foram petistas antes de pagarem o preço da conversão ao antipetismo em processo que demorou quase uma década. Como se pode esperar que virem antibolsonaristas, assim, no ano seguinte, só porque os fatos e a ética apontam nessa direção?

Agora, somem aos profetas da conversão imediata os sommeliers de conversão, que querem convertidos, mas não qualquer um: não servem os neófitos antibolsonaristas do jornalismo ou do comentário de política (Míriam Leitão, Vera Magalhães, Cantanhêde...) porque "a mídia apoiou o golpe"; não servem os "arrependidos" da política, como Cristóvam ou Marta Suplicy, porque "a gente lembra o que vocês fizeram em 2016"; não servem Hasselmann e Lobão porque já foram membros sanguinários da falange bolsonarista; não servem os isentões, os coxinhas... e por aí vai. Para essas pessoas, todos os que entre 2015 e 2018 não eram ostensivamente antibolsonaristas são cúmplices do bolsonarismo e, portanto, adquiriram um pecado original que não pode ser lavado ou perdoado. Não serão bem-vindos, do nosso lado só podem estar os que perderam a última eleição presidencial e que, com essa mentalidade, preparam-se para perder a próxima. Ora, você quer que as pessoas se convertam ao lado democrático, mas torna esse processo o mais humilhante e degradante possível para quem se converte, ou assume ares pedantes de "esse lugar é só nosso, não sei se você revelou contrição o suficiente para ficar com a gente", como então você espera conversões em massa, sobretudo dos membros mais influentes da esfera pública? Afinal, tudo é sobre o seu narcisismo político ou sobre salvar a democracia?

Romantismo, irrealismo, idealismo e moralismo políticos são uma receita perfeita para o fracasso eleitoral. Os que sofrem desse morbo preferem ter superioridade moral a ganhar eleições. Mas se não aprenderem, debaixo da bota do bolsonarismo, o que significa perder uma eleição presidencial para forças da ignorância e do obscurantismo, vão aprender quando?

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