Pensar Piauí

O macabro e misterioso caso da família que se atirou do 7° andar

Episódio de difícil solução é um desafio para as autoridades

Foto: FórumPrédio
Prédio

 

Fórum - Uma tragédia de contornos macabros e misteriosos assombra e comove a Suíça desde a última quinta-feira (24). Uma família composta por um homem de 40 anos, sua esposa de 41, a irmã gêmea dela, uma menina de oito anos e um adolescente de 15, filhos do casal, se atirou da varanda de um apartamento, no 7° andar de um prédio na cidade de Montreux. O rapaz foi o único que sobreviveu à queda, mas está internado num hospital em estado gravíssimo e com sérias lesões cerebrais e neurológicas, o que faz com que os médicos suponham que dificilmente ele voltará à consciência.

Ninguém sabe o que ocorreu até agora e a principal linha de investigação da polícia suíça aponta para um suicídio coletivo, embora algumas questões permaneçam sem respostas até agora, além de algumas dúvidas que têm sido levantadas nos últimos dois dias pela perícia sobre a posição em que os corpos foram encontrados no chão.

Poucos minutos antes das 7h do dia 24 de março, quando boa parte dos moradores do elegante edifício localizado na Avenue du Casino, uma das mais nobres da cidade conhecida por seu festival internacional de música, ainda dormia, os membros da família começaram a se atirar (ou serem atirados) um a um. Conforme eram ouvidos os estrondos, os vizinhos olhavam pela janela, mas só viam os corpos caindo, sem gritos, pedidos de socorro ou sinais de resistência. Todos ficaram estirados na frente do prédio, mas a distâncias bem diferentes da fachada, o que levantou algumas dúvidas nos peritos forenses.

Os investigadores descobriram também, embora não tenha sido revelado como, se por meio de apreensão de materiais, celulares ou computadores, que a família era adepta de várias teorias conspiratórias, além de aparentemente serem fanáticos religiosos. Não há detalhes públicos sobre esses fatos, apenas uma foto que circula nas redes sociais e que já foi creditada como verdadeira pelas autoridades, de uma espécie de mandala, com inscrições mórmons, que ficava pendurada na porta do imóvel, do lado de fora.

Foto: FórumLocal onde caíram

 

Quem eram as pessoas da família?

A imprensa suíça e de toda a Europa revelou apenas o nome do pai da família. Eric David era um cidadão francês, que segundo dados extraídos de redes sociais e outros sites na internet seria um vendedor autônomo de ingressos para jogos de futebol. A mulher e sua irmã gêmea não tiveram as nacionalidades reveladas, mas teriam origem árabe, enquanto os filhos foram descritos pelos vizinhos como adoráveis, mas apenas no momento em que se mudaram para o local, em 2019, oportunidade em que distribuíram chocolates para os moradores, como um sinal de boas-vindas. Depois disso, nunca mais foram vistos falando com ninguém. As duas mulheres seriam médicas oftalmologistas, mas apenas a irmã que não tinha filhos é apontada pelos jornais suíços e franceses como uma respeitada profissional, enquanto e mãe da família, ao que tudo indica, não exerceria a atividade

Os vizinhos dizem que todos eram muito estranhos. Se alguém fosse surpreendido por um dos outros moradores saindo ao mesmo tempo no corredor, os integrantes do clã corriam para dentro do apartamento, ou desciam a toda velocidade pelas escadarias. Ninguém respondia a qualquer chamado abrindo a porta, restringindo-se a dar respostas lacônicas do lado de dentro. Outra coisa esquisita era a quantidade de pacotes que chegavam pelos correios. Como as pessoas da família não respondiam à porta quando os carteiros vinham, pilhas de caixas ficavam no corredor, até que alguém saía rapidamente e as recolhia.

De acordo com esses mesmos moradores, todos saíam pontualmente às 5h, diariamente, e regressavam quase sempre sem serem vistos. Os peritos encontraram também uma quantidade absurda de comida, sobretudo enlatados e outros itens não perecíveis, o que os leva a crer, aliando esse fato às teorias conspiratórias das quais eram seguidores, que todos estocavam alimentos para uma eventual “guerra”, ou algo do tipo.

O caso chocou a todos no pequeno e rico país europeu, famoso por seus alpes e pelos bancos obscuros, e tem dominado o noticiário de todos os meios de comunicação locais, tornando, inclusive, a porta do edifício uma espécie de centro de peregrinação, onde colocam flores, cartazes e símbolos religiosos.

Novos fatos tornam caso ainda mais enigmático

O caso, segue sendo um mistério e, de acordo com novas revelações, o comportamento excêntrico e as esquisitices relatadas não contribuem em nada para o esclarecimento da tragédia, tornando as investigações ainda mais confusas. As recentes informações foram retiradas de órgãos de imprensa como a RTL, o Nice-Matin e o Charente Libre, da França.

A polícia suíça já sabia que pai, mãe, um casal de filhos e uma irmã gêmea da mulher viviam completamente isolados do mundo, mantendo estoques de comida imensos e se negando a manter qualquer contato mínimo com os vizinhos. Materiais apreendidos tinham revelado também que todos eram adeptos de teorias da conspiração e que viviam com medo de serem perseguidos e monitorados pelas autoridades. Agora, um novo conjunto de dados, incluindo as identidades e o passado das vítimas, desvirtua ainda mais os investigadores.

Gente da elite intelectual e rica

Éric David, o pai, era de uma família muito rica e tradicional de Marselha, segunda maior cidade da França, localizada na costa do Mar Mediterrâneo. Ele nasceu e foi criado num dos bairros mais nobres do município e se formou na École Polytechnique, uma das mais importantes instituições de Ensino Superior da França, tendo trabalhado em vários ministérios de Estado de seu país, até que largou tudo e foi viver de vender ingressos de partidas de futebol como autônomo na Suíça, há pouco mais de dois anos.

Já Nasrine e Narjisse Feraoun, esposa e cunhada de Éric, respectivamente, eram netas do intelectual e escritor franco-argelino Mouloud Feraoun, que foi sequestrado e assassinado em 1962 por uma organização terrorista de extrema-direita que lutava contra a independência da Argélia, até então uma colônia da França. Ele era amigo muito próximo do lendário escritor Albert Camus e é autor dos clássicos O Filho dos Pobres (1950), Terra e Sangue (1953) e Les Chemins qui Montent (1957). No início de março, o presidente francês Emmanuel Macron realizou uma cerimônia no Palácio do Eliseu para homenagear o avô delas, como um mártir da luta pela libertação do povo argelino. As gêmeas, de 41 anos, estudaram durante a juventude no Lycée Henri-IV de Paris, o mais refinado, elitizado e exclusivo colégio da França.

Mandado de detenção

No mesmo dia da tragédia, às 6h15, dois policiais de Montreux tentaram cumprir um mandado de detenção contra Éric David por ele não estar mandando o filho de 15 anos à escola. O juiz determinou que Éric fosse levado àquela hora da manhã ao fórum, escoltado pelos agentes, para ser questionado sobre sua negligência com o garoto. A dupla bateu na porta do imóvel e depois de muito silêncio alguém respondeu, perguntando quem era. Ao anunciarem que eram da polícia e que cumpriam uma ordem judicial, nada mais foi ouvido. Os agentes, então, foram embora, já que o mandado do magistrado não autorizava a invasão da residência. Apenas 45 minutos depois todos se atiraram da varanda, de uma altura de 22 metros.

As autoridades suíças descobriram que Nasrine, a mãe, e a filha de oito anos não eram cadastradas como moradoras do país e nem da cidade, como determina a lei suíça, e estariam oficialmente no Marrocos desde 2016, de acordo com os registros da polícia. Os jornais locais só não informam se esses são dados da União Europeia, já que todos eram cidadãos franceses, ou se são da Suíça, nação que, embora fique na Europa, não faz parte do bloco. A menina não ia à escola e a mãe, dentista (a irmã Narjisse é médica oftalmologista, mas Nasrine não, diferentemente do que havia sido divulgado anteriormente), não tinha autorização para exercer a profissão no país alpino.

Muito esquisitos, dizem vizinhos

Vizinhos revelaram ainda outros traços esquisitos da família. De uns meses para cá o cheiro de incenso saindo do apartamento era cada vez mais forte e no dia que antecedeu o trágico fato o odor estava insuportável. Moradores do luxuoso edifício também relataram que todos os dias, à meia-noite em ponto, a banheira do toilette era cheia, e eles sabiam disso porque um ruído específico ocorre quando algum condômino utiliza o equipamento.

O que também foi relatado é que os três adultos, Éric, Nasrine e Narjisse, costumavam fazer passeios de madrugada pelo glamuroso Lago Genebra, que fica a uma quadra do local. O marido ia sempre de short de praia e camiseta, mesmo em dias muito frios, enquanto a esposa e a cunhada usavam capas verdes longas, com capuz. Nasrine, segundo pessoas das redondezas, teria passado a usar uma bengala de um ano para cá e também teria engordado aproximadamente 20kg em poucos meses.

Foto: FórumLocal onde caíram

ÚLTIMAS NOTÍCIAS